Capítulo II - Moral espírita







- Que definição se pode dar da moral?


- A moral é a regra que nos ensina a bem viver e a distinguir o bem do mal.


- Qual é o tipo mais perfeito que pode servir ao homem como guia e modelo?


- O tipo da perfeição moral, a que pode aspirar a Humanidade, é Jesus, pois é o ser mais puro que tem baixado a Terra.


- Como podemos distinguir o bem do mal?


- O bem é tudo o que está conforme com a lei de Deus, e o mal é exatamente o contrário.


- O homem tem por si mesmo os meios de distinguir o bem do mal? Sujeito, como está, ao erro, não poderá ele equivocar-se e julgar fazer o bem quando na realidade faz o mal?


- Nunca poderá enganar-se se tiver sempre presente este ensino de Jesus: "Não façais aos outros o que não quiserdes que se vos faça, e fazei-lhes tudo quanto quereríeis que se vos fizesse”.


- Quais são os maiores inimigos homem?


- O homem, pelo seu orgulho, vaidade, egoísmo, inveja e ignorância, é o verdugo de si mesmo.


- Quando somos mais culpados de uma falta?


- Quando sabemos melhor o que fazemos. O mal, do mesmo modo que o bem, obra de tal forma que nem sempre se pode apreciar a extensão dos seus efeitos. Não é possível beneficiar ou prejudicar alguém, sem que geralmente se beneficie ou prejudique a várias outras pessoas ao mesmo tempo.


- Necessita Deus ocupar-se de cada um dos nossos atos para nos recompensar ou castigar?


- Não; Deus tem leis imutáveis que regulam todas as nossas ações de uma só vez.


- Aquele que não faz o mal, mas que co-participa dele pelo pensamento, é também culpado?


- É como se o houvesse feito e por isso participa das suas conseqüências.


- O desejo do mal é tão repreensível como o próprio mal?


- Conforme: há virtude em resistir voluntariamente ao mal, cujo desejo se sente e, sobretudo quando há possibilidade de realizá-lo. E, pois, condenado o desejo do mal quando se deixar de executá-lo por falta de ocasião unicamente.


- É bastante deixarmos de fazer o mal para assegurarmos a nossa felicidade futura?


- Para conseguir a felicidade futura é necessário fazer-se todo o bem que for possível, pois o homem é responsável "não só pelo mal que houver feito, mas igualmente pelo bem que, podendo fazer, não o fez!”.


- Haverá pessoas cuja posição as impossibilite de fazer o bem?


- Todos podem fazer o bem e somente ao egoísta falta ocasião para isso. Fazer o bem não consiste só em dar dinheiro, mas também em ser útil de qualquer modo.


- Haverá diferentes graus no mérito do bem?


- O mérito está no sacrifício, e deixa de existir quando o bem nada custa ou é feito sem trabalho. Tem mais mérito o pobre que dá metade do seu pão, do que o rico que dá o supérfluo. Jesus o demonstrou quando se referiu à esmola da viúva.


- Toda a lei divina está contida na máxima do amor ao próximo, ensinada por Jesus?


- Sim, ela encerra todos os deveres dos homens entre si.


- O trabalho é uma lei de Deus?


- Indubitavelmente, pois é uma necessidade.


- Devemos considerar como trabalho somente as ocupações materiais?


- Toda ocupação útil é trabalho. O Espírito também trabalha.


- Para que foi imposto ao homem o trabalho?


- O trabalho é o meio de aperfeiçoar a inteligência é assim o homem assegura seu bem estar felicidade e progresso. Se não fosse o trabalho ele nunca sairia de sua infância espiritual.


- Nos mundos mais adiantados o homem está submetido à mesma necessidade do trabalho?


- Nada permanece inativo e a ociosidade seria um suplício em um benefício.


- Quem possui fortuna suficiente para assegurar na Terra a sua existência esta livre do trabalho?


- Do trabalho material, sim, mas não da obrigação de se fazer útil segundo os seus recursos, ou de aperfeiçoar sua inteligência e a dos outros. Tudo isso oferece trabalho e tanto maior é esse dever quanto mais recursos e tempo se tiver.


- Que devemos pensar dos que abusam sua autoridade para impor aos seus inferiores um trabalho excessivo?


- Isso é uma ação má, porque a lei de Deus.


- O homem tem direito ao descanso na sua velhice?


- Sim, pois cada um está obrigado somente até onde chegam as suas forças.


- Que recurso tem o ancião que precisa trabalhar para viver e não pode fazê-lo?


- O forte deve então trabalhar para o que estiver fraco, e, na falta de família, a sociedade deve socorrê-lo.Esta é a lei da caridade.


- O matrimônio, isto é, a união permanente de dois seres é contrária à lei natural?


- O matrimônio representa um progresso da sociedade.


- Qual é mais conforme com a lei natural, a monogamia, ou a poligamia?


- A monogamia, porque o matrimônio deve ser fundado no afeto dos seres que se unem. Na poligamia não há afeto real, mas sensualidade, e por isso ela tende a desaparecer pouco a pouco da Terra.


- O celibato voluntário é meritório?


- Não, os que vivem assim, por egoísmo, enganam a todo o mundo.


- A vida de mortificações ascéticas tem algum mérito?


- Não, pois não aproveita a ninguém; se aproveitar a quem a pratica e se impedir de fazer o bem a outrem, ela é ainda uma das formas do egoísmo.


- Quando a reclusão e as privações penosas têm por objetivo uma expiação, há nelas algum mérito?


- A melhor expiação é resgatar o mal com todo o bem que se puder fazer.


- Há privações voluntárias que sejam meritórias?


- Sim, as dos gozos materiais, porque nos desprendem da matéria e elevam nossa alma.


- Que devemos pensar da mutilação do corpo do homem e dos animais?


- Tudo quanto for inútil não terá mérito. Para dominar a matéria terrestre, basta praticar a lei divina somente, que é a caridade.


- É fundada na razão a abstenção de certos alimentos, prescrita em diversos povos?


- Não, porque tudo o que puder alimentar o homem e "não for em prejuízo da sua saúde", está permitido por Deus.


- É meritória a abstenção do alimento animal, ou de qualquer outra espécie, quando o fazemos por expiação?


- Sim, quando nos privamos deles em benefício de outrem.


- Com que fim deu Deus instintos de conservação a todos os seres?


- Foi com o fim de poderem eles concorrer para as suas vistas providenciais, pois a vida é necessária ao aperfeiçoamento de todos.


- Têm todos os homens igualmente o direito de usar os bens da Terra?


- Sem dúvida, pois esse direito é conseqüência da necessidade de viver. Deus não pode impor um dever sem dar primeiramente os meios para cumpri-lo.


- Que devemos pensar do homem que abusa nos excessos de toda classe um requinte aos seus gozos?


- Quem assim faz se torna inferior ao bruto, pois não sabe restringir-se à satisfação das suas necessidades reais. Quanto maiores forem os seus excessos, tanto mais império permite que a natureza animal tenha sobre a espiritual.


- Que se deve pensar de quem amontoa bens materiais para conseguir o supérfluo, em prejuízo dos que carecem do necessário?


- Esse egoísta desconhece a lei de Deus, e terá de responder pelas privações que fez sofrer.


- É censurável o desejo que o homem tem de conseguir o seu bem-estar?


- Não, pois é um desejo natural; o abuso é que constitui o mal.


- Se a morte deve conduzir-nos a melhor vida, qual a razão por que o homem lhe tem um horror instintivo?


- Deus pôs no homem o instinto de conservação, para que o sustivesse nas provas, e sem isso ele descuidaria da vida. O instinto de conservação faz que o homem prolongue a vida. Até cumprir a sua missão.


- Que se deve pensar da destruição que excede os limites da necessidade, tal a que se faz pela caça e outros meios, cujo único fim é destruir sem utilidade?


- Toda destruição que excede os limites da necessidade é uma violação da lei divina. Torna-se ainda mais condenável à destruição que é feita com crueldade.


- Qual o fim das grandes calamidades?


- É para que a Humanidade se adiante com mais rapidez, pois, resultando dessas calamidades a regeneração moral dos seres, eles adquirem em cada nova existência um grau mais elevado de progresso.


- Mas, será justo que, nessas calamidades, sucumba o homem bom ao mesmo tempo em que o mau, e sem distinção alguma?


- Tanto faz morrer por uma calamidade como por outra causa comum, desde que a hora é chegada. A única diferença que há, neste caso, é a de morrer maior número de pessoas; mas, poderíeis acaso saber se o que é hoje um homem de bem não teria sido o culpado de ontem?


- Qual a causa que induz o homem à guerra?


- É o predomínio das paixões ou da natureza animal sobre a espiritual. Só entre os povos bárbaros é que não se conhece outro direito que não seja o do mais forte.


- A guerra desaparecerá algum dia da face do mundo?


- Sim, quando os homens compreenderem o que é justiça e praticarem a lei de Deus. Então todos os povos se considerarão irmãos.


- Que se deve pensar dos que suscitam a guerra em seu próprio benefício?


- Esses são verdadeiros culpados e, como tais terão de suportar "muitas existências" para expiar os crimes que mandaram cometer para satisfazer unicamente a sua ambição.


- É culpado o homem que pratica assassinatos na guerra?


- Não, se ele for coagido a isso; mas torna-se culpado desde que pratique crueldades em satisfação dos seus desejos.


- O assassínio é crime?


- Sim, e muito grande, pois quem tira a vida a outrem corta uma existência de expiação ou de missão, e é nisto que consiste o mal.


- Pode considerar-se o duelo como sendo manifestação de legítima defesa?


- Não; o duelo é um crime e um costume digno somente de povos bárbaros.


- Corno se deve considerar o que em duelo chamam ponto de honra?


- Orgulho e vaidade; dois grandes males da Humanidade.


- Não haverá, porém, casos em que, por achar-se a honra realmente ofendida, pode ser considerado como covardia o não se aceitar o duelo?


- Isso depende dos usos e costumes, pois cada país e cada século têm um modo diverso de encarar as coisas. Quando os homens forem melhores e estiverem mais adiantados em moral, compreenderão então que o verdadeiro ponto de honra está acima das paixões terrenas e que as coisas não se alteram pelo simples fato de fazer-se uma morte. Em perdoar uma ofensa há muito mais valor do que em castigá-la. Há muito mais grandeza e verdadeira honra naquele que se confessa culpado, como há, também, maior dignidade e nobreza naquele que, tendo razão, sabe perdoar, ou, mesmo, sabe prescindir dos insultos que não o podem alcançar.


- A pena de morte desaparecerá algum dia da legislação humana?


- Sem dúvida, e em sua supressão assinalará a Humanidade um grande progresso.


- Que se deve pensar da pena de morte imposta em nome de Deus?


- Os que assim obram estão muito longe de compreender a Deus e cometem um crime monstruoso.


- A vida social é uma lei natural?


- Sem dúvida, pois todos os homens devem concorrer para o progresso, ajudando-se mutuamente.


- O progresso moral segue o intelectual?


- É a sua conseqüência, porém nem sempre o segue imediatamente.


- Como é que o progresso intelectual pode conduzir ao moral?


- Desde que o homem compreenda o bem e o mal, pode então escolher. O desenvolvimento do livre arbítrio segue o da inteligência e aumenta a responsabilidade das nossas ações.


- Pode o homem deter a marcha do progresso


- Não, mas pode estorvá-la às vezes.


- Não parece, às vezes, que. O homem retrocede em vez de adiantar, pelo menos sob o ponto de vista moral?


- O homem progride, pois cada dia ele compreende melhor o mal e a todo instante reforma as suas leis. É essa compreensão que lhe mostra a necessidade do bem e das reformas.


- Todos os homem são iguais perante Deus?


- Sim, pois todos têm um mesmo princípio e um mesmo destino. As leis divinas são iguais para todos.


- Por que Deus não deu as mesmas aptidões a todos os homens?


- Deus deu iguais aptidões a todos os Espíritos, porém cada uma deles tem vivido mais ou menos tempo. A diferença provém, pois, do grau de experiência e da vontade resultante do livre arbítrio de cada um. Por isso, os mais adiantados têm maiores aptidões do que os outros.


- Será possível estabelecer a igualdade absoluta das riquezas?


- Não; a diversidade das faculdades e dos caracteres opõe-se a isso.


- Que se deve pensar daqueles que crêem ser esse o remédio aos males da sociedade?


- Esses não compreendem que muito breve tal igualdade seria destruída pela força das circunstâncias. Combata-se o egoísmo social e não se busquem quimeras.


- O homem e a mulher são iguais perante Deus e têm os mesmos direitos?


- Sem dúvida, pois Deus deu a ambos inteligência para distinguir o bem do mal e a faculdade de progredir.


- Qual a razão da inferioridade moral da mulher em certos povos?


- O império injusto e cruel que o homem exerce sobre ela, e que resulta das instituições sociais ou do abuso dos fortes sobre os fracos.


- Com que fim, a mulher, em geral, é mais débil fisicamente que o homem?


- É para que ela possa exercer outra espécie de trabalhos. Ao homem em geral competem os trabalhos rudes e intelectuais, à mulher os trabalhos leves e delicados.


- A debilidade física da mulher não a coloca, naturalmente, sob a dependência do homem?


- Sim, mas se a Natureza dotou o homem com mais força é para que ele proteja a mulher como mais fraca, e não para que a escravize.


- As funções a que está destinada a mulher, para com seus filhos, têm tanta importância como as que estão reservadas ao homem?


- São muito mais importantes, pois a mulher é quem dá aos filhos as primeiras noções da vida.


- Uma legislação, para ser justa, deve consagrar igualdade de direitos à mulher e ao homem?


- De direitos, sim; de funções, não. É preciso que cada qual tenha as ocupações que lhe são próprias e segundo as suas aptidões. A emancipação da mulher assinala o progresso social; a sua escravidão denuncia atraso.


- Donde nasce o desejo de perpetuar com monumentos fúnebres a memória dos seres que abandonaram a Terra?


- Ultimo ato de orgulho.


- Mas, a suntuosidade dos monumentos fúnebres não se deve atribuir mais freqüentemente aos parentes do finado, antes que ao próprio finado?


- Nesse caso é o orgulho dos parentes que se querem glorificar a si mesmos. Oh! Nem sempre se fazem tais demonstrações por consideração ao morto; elas também se dão por amor-próprio e por alarde das riquezas das pessoas que ficam. Poderão esses belos monumentos salvar do olvido aqueles que foram inúteis na Terra?


- Deve-se, então, reprovar de um modo absoluto a pompa dos funerais?


- Não, pois isso se torna justo e exemplar, quando feito em memória de um homem de bem.


- Tem o homem direito de coagir a liberdade de consciência?


- Jamais; como também não tem o direito de estorvar as manifestações do pensamento.


- Toda e qualquer crença, embora reconhecidamente falsa, é respeitável?


- Sim, quando é sincera e conduz à prática do bem. As crenças censuráveis são as que conduzem ao mal.


- Somos repreensíveis por escandalizar as crenças daqueles que não pensam como nós?


- Sem dúvida, pois se falta à caridade e atenta-se contra a liberdade de pensar.


- Deve-se, pelo respeito à liberdade de consciência, deixar que se propaguem doutrinas perniciosas, ou, então, sem atentar-se contra essa liberdade, pode-se procurar atrair ao caminho da virtude aqueles que dele se acham desviados por falsos princípios?


- Certamente que se pode e se deve, porém isso deve ser somente de acordo com o exemplo de Jesus, isto é, por meio da doçura e da persuasão, e nunca pela força, pois este último meio seria pior que a crença daquele a quem se procura convencer. Se é permitido impor alguma coisa, é o bem e a fraternidade, mas isto deve ser feito pela convicção e nunca pela violência.


- Visto todas as doutrinas terem a pretensão de ser a única expressão da verdade, em que se pode distinguir a que tem o direito de se apresentar como tal?


- A melhor doutrina é a que faz mais homens de bem e menos hipócritas, isto é, a que pratica a lei do amor e da caridade em sua maior extensão e em sua mais elevada aplicação. Toda doutrina que produzir, em suas conseqüências, a desunião ou estabelecer uma demarcação entre os homens, não pode deixar de ser falsa e perniciosa.


- Qual é a base da justiça fundada na lei natural?


- Cristo o disse: “Desejai para os outros o que desejardes para vos mesmos”.


- A necessidade que o homem tem de viver em sociedade impõem obrigações particulares?


- Sem dúvida. A primeira de todas é respeitar os direitos de seus semelhantes. Quem respeitar esses direitos será sempre justo.


- Qual é o primeiro de todos os direitos naturais do homem?


- O direito da vida.


- É natural o direito de possuir bens de fortuna?


- Sim; porém, quando isso é exclusivamente para si, ou para sua única satisfação pessoal, torna-se então egoísmo.


- Qual é o caráter da propriedade legítima?


- Somente é legítima a propriedade que se adquire por meio do trabalho e sem prejuízo de outrem.


- Como se deve considerar a esmola?


- O homem de bem, que compreender o que é caridade, vai ao encontro da desgraça sem esperar que lhe estendam a mão ou sem olvidar o que disse Jesus: "Que a mão esquerda ignore o que dá a direita", pois deste modo ensinará a não desvirtuar a caridade com o orgulho.


- Qual é a verdadeira acepção da palavra caridade, tal como a entendia Jesus?


- Benevolência para com todos, indulgência com as imperfeições dos outros, perdão das ofensas, eis a caridade como a compreendia Jesus. O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem possível: “, Amai-vos uns aos outros como irmãos”.


- Qual é a mais meritória de todas as virtudes?


- Todas têm o seu mérito, porém a melhor é a que estiver fundada na caridade mais desinteressada, tal como o sacrifício voluntário do interesse pessoal ao bem do próximo.


- A par de certos defeitos e vícios, qual é o sinal mais característico da imperfeição?


- O interesse pessoal e o apego às coisas materiais, tal é o sinal notório da inferioridade no homem.


- Quem faz o bem desinteressadamente, só pelo prazer de ser agradável a Deus e ao próximo, encontra-se já em certo grau de adiantamento?


- Sim, muito mais do que aquele que faz o bem com reflexão e não por impulso natural do coração.


- Há culpabilidade em estudar os defeitos alheios?


- Se isso se faz para criticá-los ou divulgá-los, há muita culpabilidade; mas, se esse estudo é feito para evitar cair nos mesmos defeitos, ele pode ser útil às vezes. É preciso, porém, não olvidar que a indulgência com os defeitos dos outros é uma parte importante da caridade.


- O homem, pode, pelos seus esforços, Vencer sempre as suas más inclinações?


- Sem dúvida, e às vezes com pequenos esforços; mas o que lhe falta é vontade.


- Entre os defeitos e as imperfeições da alma qual é a que pode ser considerada como principal?


- É do egoísmo que provêm todos os males. Estudando-se as imperfeições em geral, vemos que no fundo de todas elas reside o egoísmo; ele é incompatível com a justiça, com o amor e a caridade.


- Qual é o meio egoísmo?


- O egoísmo diminuirá com o predomino da vida moral sobre a material, e mais se desvanecerá com o conhecimento que o Espiritismo nos dá do nosso estado futuro, real e não desnaturado por ficções alegóricas. Desde que seja bem compreendido e se identifique com os costumes e as crenças, o Espiritismo transformará os hábitos, os usos e as relações sociais, pois faz vê-las de tão alto que, até certo ponto, o sentimento da personalidade desaparece ante a grandeza do conjunto.


- Quais são os verdadeiros distintivos do homem de bem?


- O verdadeiro homem de bem é o que pratica a lei de justiça, de amor e de caridade em sua maior pureza. O verdadeiro homem de bem é aquele que, interrogando sua consciência, encontra-a desobrigada das más ações, tais como a de ter violado a lei de Deus, ter procedido mal, ter deixado de fazer todo o bem que pôde, ter deixado a alguém motivo de se queixar dele, e, enfim, ter deixado de fazer a outrem tudo o que quereria que lhe fizessem.


- Pode o homem gozar na Terra a perfeita felicidade?


- Não, mas dependem do homem o dulcificar os seus males e ser tão feliz quanto possível, num mundo de expiação como a Terra. O mais das vezes o homem é o causador da sua própria desgraça, mas, praticando o bem, evitam-se muitos males e proporciona-se a Maior ventura que é possível nesta grosseira existência. Se quereres ser feliz, sê bom: eis a regra geral para todos. Se sofrermos, apesar de cumprirmos com os nossos deveres, devemo-nos resignar, confiar e esperar, pois Deus premiará nossas virtudes e compensará nossos sofrimentos.


- Existe uma medida comum de felicidade para todos os homens?


Sem dúvida; na vida material é a posse do necessário; na vida moral é a consciência limpa e a fé no futuro.


- Por que, na sociedade, as classes que sofrem são mais numerosas que as felizes?


- Ninguém é completamente feliz: o que se chama felicidade encobre quase sempre grandes pesares, pois o sofrimento é condição da Terra, visto ela ser um lugar de expiação de Espíritos atrasados.


- Donde provém, em medo da morte?


- Não há motivo para ter medo da morte; entretanto, isso é também uma conseqüência do temor do inferno que lhes incutiram desde a infância. Essas pessoas, quando chegam à adolescência, não podem admitir tal inferno, tornam-se ateias ou materialistas, e assim julgam que fora da vida presente nada existe. Aquele que for justo, a morte não inspira medo algum, pois a sua fé o 'leva a ter certeza no futuro, e a caridade que praticou lhe assegura que no mundo onde vai entrar não encontrará nenhum ser cuja presença deva temer.


- Que devemos pensar do homem carnal?


- O homem carnal, mais apegado à vida corporal que à vida espiritual, só encontra na Terra penas e gozos materiais; sua ambição consiste na satisfação fugaz de todos os desejos. Sua alma, constantemente preocupada e afetada pelas vicissitudes da vida, está numa ansiedade e num tormento perpétuo. A morte o horroriza, porque duvida do seu futuro e deixa na Terra todos os gozos e esperanças.


- Donde provém o desgosto da vida que se apodera de certos indivíduos, sem motivos plausíveis?


- Da falta de fé no futuro, e, muitas vezes também, é uma conseqüência da ociosidade.


- Que é o materialismo?


- A doutrina materialista é a sanção do egoísmo, fonte de todos os vícios; é a negação da caridade, manancial de todas as virtudes; é a justificação do suicídio e é incompatível com a moral, base da ordem social.


- Tem o homem direito a dispor de vida?


- Não; o suicídio é uma transgressão da lei de Deus. O suicídio é a maior "crueldade" que o homem pode cometer consigo mesmo.


- O SUICÍDIO NASCE DO ERRO, ALIMENTA-SE NA COVARDIA E CONDUZ AO TORMENTO PRÓPRIO.


O SUICÍDIO CONVERTE AS ANGÚSTIAS DA MORTE EM SUPLÍCIO E NÃO AS EXTINGUE.


COVARDIA, EGOÍSMO, IGNORÂNCIA, CEPTICISMO E ORGULHO, EIS AS CAUSAS DO SUICÍDIO; A TORTURA DE SI PRÓPRIO, O DESPREZO E O OLVIDO ALHEIOS SÃO A SUA CONSEQÜÊNCIA.


- O suicídio, cujo fim seja evitar o aparecimento de uma ação má, torna-se tão condenável como o causado pelo desespero?


- O suicídio não esconde as culpas de ninguém e, pelo contrário, neste caso há duas faltas em vez de uma. Quem tiver tido coragem para fazer o mal, é preciso também tê-la para sofrer-lhe as conseqüências.


- Que devemos pensar daquele que se suicida para alcançar mais depressa outra vida melhor?


- Só pela prática do bem é que poderá alcançar outra vida melhor.


- Não é meritório o sacrifício da vida, quando o fim é salvar a outrem, ou ser útil aos nossos semelhantes?


- Isso é sublime conforme for à intenção. 0 sacrifício da vida não é suicídio quando há desinteresse e não está manchado pelo egoísmo.


- Qual o sentimento que, no momento da morte, predomina no maior número dos homens? - A dúvida, o temor ou a esperança?


- A dúvida, nos cépticos endurecidos; o temor, nos culpados; a esperança, nos homens de bem.


- As penas e os gozos da alma, depois da morte, têm alguma coisa de material?


- Não podem ser materiais, porque a alma não é matéria. Essas penas e gozos não são materiais, e, entretanto são mil vezes mais sensíveis do que as que se podiam experimentar na Terra, pois, no estado espiritual, a alma é muito mais impressionável, visto não estar com as suas sensações embotadas pela matéria.


- Que se deve pensar do homem que, sem fazer o mal, também não emprega esforços para sacudir o jugo da matéria?


- Permanece estacionário, e longo o sofrimento da expiação.


- 0 homem perverso, que não reconheceu as suas faltas durante a vida terrestre, reconhece-as sempre depois da morte?


- Indubitavelmente, e então sente todo o mal que fez ou de que se tornou causa voluntária.


- 0 arrependimento sincero, durante a vida, basta para apagar nossas faltas e para que Deus nos perdoe?


- O arrependimento sincero favorece o melhoramento do Espírito, mas é preciso expiar as faltas cometidas.


- As faltas podem ser redimidas?


- Sim, pela reparação; mas não se redimem com algumas privações pueris, nem com donativos para depois da morte e quando já não se necessita mais deles. A perda de um dedo no trabalho resgata mais faltas do que o cilício de anos inteiros, sem outro fim que o da própria conveniência, visto não beneficiar a ninguém. Só com o bem é que se repara o mal.


- Não se tem mérito em assegurar para depois da morte um emprego útil aos bens que se possuem?


- Algum mérito há, porém, aquele que somente faz benefícios para depois da morte é mais egoísta que generoso. Quem fizer sacrifícios durante a vida tem mérito muito maior.


- Aquele que no ato da morte reconhece as suas faltas e não tem tempo para repará-las, basta o arrependimento?


- O arrependimento apressa a reabilitação, porém, não absolve. O homem tem diante de si um futuro eterno para reparar suas faltas.


- A duração dos sofrimentos será arbitrária ou está sujeita a alguma lei?


- Deus nunca obra por capricho; tudo no Universo está submetido a leis em que se revela a justiça, a bondade e a sabedoria divinas.


- O inferno e o paraíso existem tais como o homem os representa?


- Não existe uma determinação absoluta dos lugares de castigo e de recompensa, a não ser na imaginação de certos homens. As almas estão disseminadas por todo o Universo.


- Em que sentido se deve entender a palavra céu?


- Deve considerar-se como céu o espaço universal, os planetas, as estrelas e todos os mundos superiores, onde as almas elevadas desfrutam a felicidade, sem sentirem as tribulações da vida material ou as angústias inerentes à inferioridade. A Terra é um dos mundos de expiação, e os Espíritos ou almas que a habitam precisam lutar contra a perversidade de si mesmos e contra a inclemência da Natureza, trabalho esse muito penoso, mas que serve ao mesmo tempo para desenvolver as qualidades do coração e as faculdades da inteligência. Por esse modo, Deus faz "que o castigo reverta em benefício do progresso do próprio Espírito".


- Que se eleve entende, - por purgatório?


- É a expiação. A Terra é, para muitos, um verdadeiro purgatório, onde Deus os faz expiar as suas faltas.


- Que se deve entender por alma penada?


- Todo Espírito errante que sofre, incerto do seu futuro, é uma alma penada.


- A bênção ou a maldição pode atrair o bem ou o mal sobre quem elas são proferidas?


- A Providência jamais deixou de ser justiceira; a bênção somente pode alcançar aquele que se tornou digno dela; a maldição também não produz efeito senão sobre aquele que se tornou malvado.


- Porque Jesus expulsou do templo os mercadores?


- Jesus expulsou-os porque condenava o tráfico das coisas santas, "sob qualquer forma que fosse". Deus não vende a sua bênção, nem o seu perdão, nem a entrada "no reino dos céus", e, portanto, o homem não tem direito a receber paga disso ou mesmo das orações que faz.


- No estado espiritual, que conseqüências produz o arrependimento?


- O desejo de uma nova encarnação para reparar as faltas.


- Que se deve pensam do dogma: "Fora da Igreja não há salvação?"


- Esse dogma é exclusivista e absurdo; em vez de unir os homens, divide-os; em vez de excitar o amor entre irmãos, mantém e sanciona a irritação entre os sectários dos diferentes cultos, os quais se passam a considerar como malditos na eternidade, embora sejam parentes ou amigos neste mundo. A máxima: "Sem caridade não há salvação", é a consagração da igualdade ante Deus, e da liberdade da consciência.


- Pode considerar-se a paternidade como missão?


- Sem dúvida que é uma missão e ao mesmo tempo uma responsabilidade muito grande que se toma "para o futuro", pois os filhos são colocados sob a tutela dos pais para que estes os guiem no caminho do bem.


- Que se deve entender pelas palavras de Jesus: "honra teu pai e tua mãe"?


- Esse mandamento é uma conseqüência da lei de caridade e de amor ao próximo, pois não se pode amar a este sem amar os pais.


-O amor obriga-nos ao respeito, á submissão e às considerações que devemos ter para com os nossos pais. Honrar seu pai e sua mãe não é só respeitá-los; também implica o dever de assisti-los em suas necessidades, proporcionar o descanso na velhice, rodeando-os de solicitude, assim como eles nos fizeram em nossa infância. Esse dever também se estende para com aquelas pessoas que fizeram às vezes dos pais, e que por isso mesmo têm mais mérito, visto a sua abnegação não ser tão obrigatória como a destes. Toda violação a este mandamento constitui grande falta, que se expiará com grandes sofrimentos.


- Por que é que os homens mais inteligentes são às vezes os mais radicalmente viciosos?


- O Espírito pode ter adiantado num sentido, mas não em outro. Enfim, todos deverão progredir moral e intelectualmente, e isso se equilibrará com o tempo.


- Porque são materialistas tantos homens de ciência?


- Porque julgam saber tudo e não admitem que coisa alguma seja superior ao seu entendimento. A própria Ciência os torna presunçosos e julgam que nada lhes é oculto na Natureza; esquecem que os homens da Ciência ridicularizaram em outro tempo a Colon, a Newton, a Franklin, a Janner e que, no presente século, também repeliram o Hipnotismo. Se eles têm feito coisas análogas em todas as épocas, que motivo há para estranhar neguem hoje a existência de -Deus e a da alma, que pertencem exclusivamente ao domínio da Metafísica?


- Que é misericórdia?


- A misericórdia é a virtude que consiste na compaixão e na piedade pelos sofrimentos alheios, e que resulta do esquecimento e do perdão das ofensas. O esquecimento e o perdão das ofensas são qualidades das almas elevadas, que estão fora do alcance do mal. Com que direito solicitaremos o perdão das nossas faltas se não tivermos antes perdoado as dos outros?


- Que é caridade?


- A caridade é a virtude por excelência, que deve conduzir todos os povos à felicidade.


- Que é virtude?


- A virtude, em sua mais elevada acepção, é o conjunto de todas as qualidades essenciais do homem de bem. Ser bom, caritativo, laborioso, sóbrio e modesto são as qualidades do homem virtuoso.


- Que é paciência?


- A paciência é a resignação e a submissão a todos os nossos sofrimentos, tanto físicos como morais, pois o a que chamamos mal, quase sempre reverte em nosso beneficio.


- Que é probidade?


- A probidade faz parte da justiça. O homem probo deve ser reto, honrado, bondoso, e ter pureza e integridade da alma em todos os seus atos; amará a justiça e a equidade, e jamais se apropriará dos bens de outrem.


- Que é a indulgência?


- A indulgência é um sentimento doce e fraternal que faz esquecer as faltas e os defeitos do nosso próximo. A indulgência é muito conciliadora e boa conselheira.


- Que devemos pensar do perdão?


- Quando perdoarmos ao nosso próximo. Não devemos contentar-nos em correr o véu do esquecimento sobre as suas faltas, mas também procurarmos fazer tudo quanto pudermos em seu benefício.


- Quais os principais males do homem?


- A cólera, o orgulho, o egoísmo, a avareza e a inveja são os mais fatais e piores que o frio, a fome e a sede. A cólera arrasta o homem à desobediência, compromete a sua saúde, e, às vezes, a vida. O egoísmo é o maior obstáculo à felicidade dos povos, pois dele se originam todas as misérias, e é a negação da caridade. A avareza exclui o exercício de um grande número de virtudes, porque prende a alma aos bens terrestres. A inveja produz o pesar e o desgosto pela felicidade alheia, e é um sentimento vil e indigno. O orgulho é a causa das grandes ambições e das dissidências entre os povos.


- Que devemos julgar do uso do fumo?


- O uso do fumo é mau, porque estraga a saúde que nos compete conservar para podermos cumprir nossa missão.


- E da bebida?


- É útil quando se toma a estritamente necessária à manutenção das forças do organismo, mas, desde que é tomada em excesso, torna-se um vício repugnante que deve ser corrigido quanto antes.


- E do jogo?


- O jogo é uma paixão funesta que pode arrastar o homem ao suicídio e fazer que ele se converta num dos seres mais egoístas da Terra. O jogador é um parasita social que esquece todos os sentimentos nobres, e, às vezes, a sua sede insaciável de ouro leva-o a ponto de sacrificar a família, ou mesmo os semelhantes, à sua paixão.