Capítulo I - Deus






Tende por templo - o Universo,

Por altar - consciência;

Por imagem - Deus;

Por lei - a Caridade.


-Quem é Deus?


- É a inteligência suprema do Universo e a causa primária de todas as coisas.


-Onde pode-se encontrar a prova da existência de Deus?


- No axioma que se aplica às ciências "Não há efeito sem causa". Buscando a causa de tudo o que não é obra do homem, chegar-se-á até Deus.


- Quais são os atributos de Deu?


- Deus é eterno, imutável, único, todo poderoso, soberanamente justo e bom.


- Por que é eterno?


- É eterno, porque, se houvesse tido princípio, teria saído do nada, o que é absurdo, pois o nada é a irrealidade, é o vácuo, é a negação.


- Pode tirar-se alguma coisa de onde nada existe?


- Pode o vácuo, a negação e irrealidade produzir, afirmar e realizar?


- Por que é imutável?


- Por que, se estivesse sujeito a ações, as leis que regem o Universo não estabilidade alguma.


- Por que é único?


- Se existissem muitos deuses, não haveria harmonia de vistas nem estabilidade na direção do Universo.


- Por que é todo poderoso?


- Porque, sendo único, é o autor de tudo quanto existe.


- Por que é soberanamente justo e bom?


- Por causa da sua infinita perfeição e sabedoria.


- Terá Deus a forma humana?


- Se assim fosse, estaria limitado e, por conseguinte, circunscrito, deixando, portanto, de ser infinito e de estar em toda a parte.


- Deus é imaterial?


- Sem dúvida; se fosse matéria, deixaria de ser imutável, pois estaria sujeito às transformações desta. Deus é espírito e sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria.


- Deus governa o Universo?


- Sim, por força de sua vontade, do mesmo modo que dirigimos o nosso corpo.


- Deus cria sem cessar?


- Sim, de toda a eternidade. A razão se nega a concebê-lo na inação. Se assim não fosse, ele não seria imutável, pois se teria manifestado de modos diversos, primeiro em inação e depois em atividade.


- Podemos chegar a conhecer Deus?


-Compreendê-lo-emos melhor, quando o nosso progresso nos tornar merecedores de habitar um mundo melhor, porém haverá sempre um infinito entre Deus e suas criaturas; entre a parte e o Todo; entre o relativo e o Absoluto.


- Temos o dever de amar a Deus?


- Sim, com toda a nossa alma, pois ele é nosso Pai e criou-nos para a felicidade.


- De que modo se adora a Deus?


- Elevando-lhe o nosso pensamento por meio da prece; tendo confiança em sua bondade e justiça; amando e respeitando os nossos genitores; amando o próximo, isto é, socorrendo-o em suas necessidades, perdoando-lhe as ofensas e fazendo-lhe todo o bem que for possível; cumprindo, enfim, todos os deveres que nos impõe a moral cristã.


- Quando é útil a prece?


- Quando é sincera ou quando parte do coração. Ela se torna ineficaz quando é pronunciada somente pelos lábios.


- Por quem devemos orar?


- Por nós mesmos, por nossos pais, parentes e amigos, pelos que sofrem e, enfim, por nossos inimigos.


- Qual o fim da prece?


- Por meio da prece pedimos a Deus a força e o valor necessários para nos melhorarmos, para suportarmos com paciência e resignação as provas e as tribulações da vida.


- Chegarão os homens algum dia a conquistar a felicidade?


-Sem dúvida, pois Deus não nos criou para permanecermos eternamente no mal e, por conseguinte, no sofrimento; se assim não fosse, Deus seria inferior ao homem.


- Visto isso, perdoa Deus o mal?


- Conforme se compreenda o perdão. Se entende por isso os meios que ele nos oferece para repararmos as nossas faltas, sim, pois não devemos esperar de Deus a graça para algum, mas sim a justiça para todos.


- De que modo se reparam as faltas cometidas?


- Praticando o bem. Não há outro meio.


- Atende Deus a quem ora com fé e fervor?


- Sim, mas a prece em nada altera o cumprimento das leis do Criador; serve somente para nos fortalecer em nossos sofrimentos.


- É conveniente orar muito?


- O essencial não é orar muito, mas orar bem.


- Que devemos julgar das orações pagas?


- Jesus disse: "Não recebais paga das vossas preces; não façais como os escribas que, a pretexto de grandes orações “, devoram as casas das viúvas".


- Onde se deve orar?


- Jesus também disse: "Quando orardes, não façais como os hipócritas, que oram nas sinagogas e nas esquinas das ruas para serem vistos pelos homens; porém, quando orardes, entrai no vosso aposento e, fechada a porta, orai a vosso Pai em segredo, pois ele vê todos os segredos e vos recompensará; quando orardes, não faleis muito, como os gentios, pois eles pensam que por falar muito serão ouvidos".


- A prece não necessita, portanto, de manifestações externas?


- Não, pois a verdadeira oração reside no coração.


- Há algumas fórmulas de oração mais convenientes que outras?


- Não. Isso seria o mesmo que perguntar se convém orar neste ou naquele idioma...


- A oração torna o homem melhor?


- Sim, porque aquele que ora com fervor e confiança fica mais forte contra as tentações do mal. Além disso, a oração é sempre proveitosa quando feita com sinceridade.


- Poderemos suplicar a Deus que nos perdoe as faltas?


- A prece não elimina as faltas. A melhor prece são as boas ações, pois os atos valem mais do que as palavras.


- É útil orar pelos finados, e, em tal caso, serão eles aliviados pela nossas preces?


- A prece não modifica os desígnios da Providência; entretanto, alivia e consola os Espíritos em cuja intenção é feita.