IX
Resumo e conclusão
Em resumo, os princípios que decorrem do Espiritismo, princípios ensinados pelos Espíritos desencarnados - em muito melhor posição do que nós para discernir a verdade - são os seguintes:
• Existência de Deus, inteligência diretriz, lei vivente, alma do universo, unidade suprema para onde se destinam e harmonizam todos os relacionamentos, foco imenso das perfeições de onde se irradiam e expandem ao infinito todas as potências morais: Justiça, Sabedoria e Amor!
• Imortalidade da alma, essência espiritual que encerra, no estado de germe, todas as faculdades, todos os poderes; que está destinada a desenvolvê-los pelo seu trabalho, encarnando sobre mundos materiais, elevando-se por existências sucessivas e inumeráveis, de degrau em degrau, até a perfeição.
• Comunicação dos vivos e com os mortos; ação recíproca de uns sobre os outros: permanência das relações entre os dois mundos; solidariedade de todos os seres, idênticos na sua origem e nos seus fins, diferentes somente pela sua situação transitória: uns no estado de Espírito, livres no espaço, os outros, revestidos de um envelope perecível, mas passando alternadamente de um estado ao outro, a morte não sendo senão um período transitório entre duas existências terrestres.
• Progresso infinito, Justiça eterna, sanção moral; a alma, tendo liberdade nos seus atos é responsável, cria para si mesma seu porvir; segundo seu estado normal, os fluidos grosseiros ou sutis que compõem o perispírito, e que têm sido atraídos para ela por seus hábitos e tendências; esses fluidos, submetidos à lei universal de atração e de gravidade, a arrastam para os globos inferiores, para os mundos de dor, onde ela sofre, expia, resgata o passado, ou para onde a matéria tem menos supremacia, onde reinam a harmonia e a felicidade. A alma, na sua vida superior e perfeita, colabora com Deus, forma os mundos, dirige suas evoluções, vigia o progresso das humanidades, o cumprimento das leis eternas.
Tais são os ensinamentos que o Espiritismo experimental nos traz. Não são outros que os do Cristianismo primitivo, desapegado das formas de culto material, despojado dos dogmas, das falsas interpretações, dos erros, sob os quais o homem tem ocultado, mantido irreconhecível, a filosofia do Cristo.
A nova doutrina, revelando a existência de um mundo espiritual invisível, tão real e tão vivo quanto o nosso, abre horizontes ao pensamento humano diante dos quais hesita ainda, interdito, ofuscado. Mas as relações que esta revelação facilita entre os mortos e nós, as consolações, os encorajamentos que daí decorrem, a certeza de encontrar todos aqueles que acreditávamos perdidos para sempre, de receber deles os supremos ensinamentos, tudo isso constitui um conjunto de forças, de recursos morais que o homem não poderia desconhecer ou desdenhar sem perigo para ele.
Todavia, malgrado o alto valor desta doutrina, o homem deste século, profundamente cético, embotado com seus preconceitos, quase não teria dela feito sentido, se fatos não tivessem vindo apoiá-la. Para atingir o espírito humano, superficial, indiferente, foram necessárias as manifestações materiais, ruidosas. É por isso que, em 1850 e por diversos meios, móveis de todas as formas se balançavam, paredes retiniam golpes sonoros, corpos pesados se deslocavam contrariamente às leis físicas conhecidas; mas, após esta primeira fase grosseira, os fenômenos espíritas se tornaram cada vez mais inteligentes. Os fatos de ordem psíquica (do grego psuckè, alma) sucederam-se às manifestações físicas, médiuns, escritores, oradores, sonâmbulos, curandeiros, se revelaram, recebendo, mecânica ou intuitivamente, inspirações cuja causa estava fora deles, aparições visíveis e tangíveis se produziam, e a existência dos Espíritos tornou-se incontestável para todos os observadores a quem não fascinava mais a opção tomada.
Assim apareceu para a humanidade a nova crença; apoiada de um lado sobre as tradições do passado, sobre a universalidade de princípios que se encontram na fonte de todas as religiões e da maioria das filosofias, de outro sobre inumeráveis testemunhos psicológicos, sobre fatos observados em todos os países por homens de todas as condições.
Coisa notável, esta ciência, esta filosofia nova, simples e acessível a todos, livre de todo aparato ou forma de culto, esta ciência chega na hora em que os costumes se corrompem, os laços sociais se relaxam; em que o velho mundo erra à deriva, sem freio, sem ideal, sem lei moral, como um navio privado de governo flutuando ao sabor dos ventos.
Todo homem que observa e reflete não pode dissimular que a sociedade moderna atravessa uma crise ameaçadora. Uma profunda decomposição a corrói surdamente. O ódio que divide as classes, o engodo do lucro, o desejo dos gozos, tornam-se a cada dia mais rudes, mais ardentes. Quer-se possuir a todo preço. Todos os meios são bons para adquirir o bem-estar, a fortuna, único objetivo que se julga digno da vida. Tais aspirações não podem produzir senão duas conseqüências: o egoísmo impiedoso entre os felizes, o desespero e a revolta entre os infortunados. A situação dos pequenos, dos humildes é dolorosa, e muito freqüentemente, mergulhados em uma noite moral onde nenhuma consolação ilumina, são levados a procurar no suicídio o fim de seus males.
O espetáculo das desigualdades sociais, os sofrimentos de uns, em oposição às aparentes alegrias e a indiferença de outros, atiçam entre os deserdados ardentes cobiças. Daí então a reivindicação de bens materiais se acentua. Basta que as massas inferiorizadas se levantem, e o mundo estará perto de ser abalado por atrozes convulsões.
A ciência é impotente para conjurar o mal, recuperar caracteres, curar ferimentos dos combates da vida. Na realidade, em nossa época, quase que só existem ciências especializadas em certos aspectos da natureza, reunindo fatos, trazendo ao espírito humano uma soma de conhecimentos que lhe é própria. Foi assim que as ciências físicas tornaram-se prodigiosamente enriquecidas após meio século, mas a essas construções esparsas faltam o laço de união e de harmonia. A ciência por excelência, aquela que da série de fatos remonta à causa que os produziram, que deve religar, unir essas diversas ciências em uma grande e magnífica síntese, fazendo brotar uma concepção geral da vida, fixando nossos destinos, destacando uma lei moral, uma base de melhoria social, esta ciência universal, indispensável, ainda não existe.
Se as religiões agonizam, se a fé vigilante morreu, se a ciência está impotente para fornecer ao homem o ideal necessário, para regulamentar sua marcha e melhorar as sociedades, ficaremos todos, então, sem esperança?
Não, porque uma doutrina de paz, fraternidade e progresso se eleva sobre o mundo conturbado, vindo apaziguar os ódios selvagens, acalmar as paixões, ensinar a todos a solidariedade, o perdão e a bondade.
Ela oferece à ciência esta síntese, aguardada, sem a qual tudo permaneceria para sempre estéril. Triunfa da morte e, para adiante desta vida de provas e de males, abre ao espírito as perspectivas radiosas de um progresso sem limites na imortalidade.
Diz a todos: “Venham a mim, eu os aquecerei, os consolarei, tornarei suas vidas mais doces, a coragem e a paciência mais fáceis, as provas mais suportáveis. Aclararei com uma poderosa razão seus obscuros e tortuosos caminhos. Àqueles que sofrem darei a esperança; aos que buscam, darei a luz ; aos que duvidam e desesperam, darei a certeza e a fé.”
Diz ainda: “Sejam irmãos, ajudem-se, socorram-se em sua marcha coletiva. Seus objetivos estão além desta vida material e transitória; será nesse porvir espiritual que vocês se reunirão como membros de uma só família, ao abrigo das preocupações, das necessidades e dos inúmeros males. Mereçam-no então por seus esforços e seus trabalhos!”
A humanidade se erguerá grande e forte no dia em que esta doutrina, fonte infinita de consolações, for compreendida e aceita. Nesse dia, a inveja e a raiva se extinguirão no coração dos pequeninos; o poderoso, compreendendo que tem sido fraco, e que pode redimir-se, que sua riqueza é apenas um empréstimo do alto, tornar-se-á mais caridoso e mais doce com seus irmãos infelizes. A ciência, concluída, fecundada pela nova filosofia, verá cair diante dela as superstições e as trevas. Não mais ateus e céticos. Uma fé simples, grande, fraterna, se estenderá sobre as nações, fazendo cessar seus ressentimentos e suas rivalidades profundas. A Terra, liberta dos flagelos que a devoram, prosseguirá sua ascensão moral, elevar-se-á um degrau na escala dos mundos.
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É preciso lembrar que em cada um de nós dormem inúteis e improdutivas, riquezas infinitas. Daí, nossa indigência aparente, nossa tristeza e, por vezes mesmo, nosso desgosto pela vida. Mas abra seu coração, deixe descer o raio, o sopro regenerador, e então uma vida mais intensa e mais bela o despertará. Você passará a se interessar por milhares de coisas que lhe eram indiferentes, mas que farão o encanto de seus dias. Sentir-se-á crescer; caminhará na existência com passos mais firmes e seguros, e sua alma tornar-se-á um templo pleno de luz, de esplendor e de harmonia.
Léon Denis
Extraído do livro “Joana d’Arc Médium”.
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O Espiritismo expandiu-se, invadiu o mundo. De início menosprezado, amaldiçoado, acabou por atrair a atenção e despertar interesse. Todos os que não se conservaram nas raias dos preconceitos e da rotina e que o abordaram com sinceridade, foram por ele conquistados. Agora, penetra por toda parte, senta-se em todas as mesas, toma lugar em todos os lares. A seus apelos, as velhas fortalezas seculares, a Ciência e a Igreja, até aqui, por si mesmas, hermeticamente fechadas, abaixam suas muralhas, entreabrindo seus resultados. Logo se imporá como um mestre.
Léon Denis
Extraído do livro “No Invisível”.
FIM