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VIII


Provas experimentais


A solução que acabamos de dar aos problemas da vida está baseada na mais rigorosa lógica. Está de acordo com as convicções dos grandes gênios da Antiguidade, com os ensinamentos de Sócrates, de Platão, de Orígenes, dos druídas, cujas profundas visões, hoje reconstituídas pela história, têm confundido o espírito humano há vinte séculos. Ela forma o fundo das filosofias do Oriente. Tem inspirado obras e atos sublimes; nossos pais, os Gauleses, daí tiraram sua indomável coragem, seu desdém pela morte. Nos tempos modernos, tem sido professada por Jean Reynaud, Henri Martin, Esquirros, Pierre Leroux, Victor Hugo, etc.


Todavia, malgrado seu caráter absolutamente racional, malgrado a autoridade das tradições sobre as quais repousam, essas concepções seriam qualificadas de puras hipóteses e relegadas ao domínio da imaginação, se não pudéssemos assentá-las sobre uma base inquebrantável, sobre experiências diretas e sensíveis, à disposição de todos.


Fatigado das teorias e dos sistemas, o espírito humano, ante toda nova afirmação, reclama hoje por provas. Essas provas da existência da alma, de sua imortalidade, o espiritualismo experimental nos traz, materiais, evidentes. Basta observá-las fria e seriamente, estudando com perseverança os fenômenos psíquicos, para se convencer de sua realidade e de sua importância e para sentir as vastas conseqüências que terão, do ponto de vista das transformações sociais, por trazer uma base positiva, um sólido ponto de apoio às leis morais e ao ideal de justiça, sem os quais nenhuma civilização poderia crescer.


As almas dos mortos se revelam aos humanos. Manifestam sua presença, conversam conosco, nos iniciam nos mistérios das reencarnações, nos esplendores desse porvir que será nosso.


Isto é um fato real, muito pouco conhecido e muito freqüentemente contestado. As experiências Espíritas têm sido acolhidas com sarcasmo e todos que disso têm se ocupado, desde o início, têm sido achincalhados, ridicularizados, considerados como tolos.


Tal tem sido em todos os tempos o destino das novas idéias, o acolhimento reservado às grandes descobertas. Considera-se como trivial a utilização das mesas girantes; mas as maiores leis do universo, as mais poderosas forças da natureza, não foram reveladas de uma maneira mais imponente. Não é graças às experiências feitas com rãs que a eletricidade foi descoberta? A queda de uma maçã demonstrou a atração universal, e a ebulição de uma marmita, a ação do vapor. Quanto a serem taxados de loucos, os espíritas compartilham nesse ponto a sorte de Salomão de Caus(2) , de Harvey(3), de Galvani(4)e de tantos outros homens de gênio.


É digno de nota que: a maior parte dos que criticam apaixonadamente esses fenômenos não os têm nem observado nem estudado, ou o têm feito bem superficialmente; ora, entre o número dos que os conhecem e afirmam a sua existência, estão os maiores sábios da época. Entre esses estão, na Inglaterra: Sir W. Crookes, membro da Sociedade Real de Londres, físico eminente a quem se deve a descoberta da matéria radiante; Russel Wallace, o adversário de Darwin; Warley, engenheiro chefe dos telégrafos; F. Myers, presidente da Sociedade de Pesquisas Psíquicas; O. Lodge, reitor da Universidade de Birmingham; na América, o jurisconsulto Edmonds, presidente do Senado; o professor Mappes, da Academia nacional; na Alemanha: o astrônomo Zoellner; na França: Camille Flammarion, o doutor Peul Gibier, aluno de Pasteur, Vacquerie, Eugène Nus, C. Fauvety, o Coronel de Rochas, o professor Ch. Richet, membro do Instituto, o doutor Maxwell, procurador geral da Corte de apelação de Bordeaux.


Na Itália o célebre professor Lombroso, que após ter contestado por muito tempo a possibilidade dos fatos espíritas, os estudou e então reconheceu publicamente a realidade. Quanto tem sido dito sobre qual lado teria garantias de ter procedido a um exame sério e a uma madura reflexão! Galileu, àqueles que negavam o movimento da Terra respondia "E por si move!" Crook esse pronuncia assim no assunto dos fatos espíritas: "Eu não disse que isso poderia ser, disse que é”. A verdade, no início qualificada de utopia, acaba sempre por prevalecer.


Constatamos, entretanto que a atitude da imprensa a respeito desses fenômenos está sensivelmente modificada. Não se graceja e ridiculariza mais; entrevê-se aí que há qualquer coisa de seriedade. Os grandes jornais de Paris, O Figaro, o Matin, o Eclair, o Journal, o Petit Parisien, etc., publicam freqüentemente sérios artigos sobre essas matérias. A doutrina do espiritualismo experimental se expande no mundo com uma rapidez prodigiosa. Nos Estados-Unidos, seus adeptos se contam por milhões; na Europa ocidental ela está começando e até nos meios mais afastados, sociedades de investigação se fundam, numerosas publicações aparecem. Um instituto metafísico foi fundado em Paris, com o concurso do Estado, para o estudo experimental desses fatos.


O concurso de indivíduos particularmente dotados é indispensável para a obtenção dos fenômenos psíquicos. Os Espíritos não podem agir sobre os corpos materiais, impressionando nossos sentidos, sem uma provisão de fluidos animais que tomam por empréstimo a indivíduos denominados médiuns. Todo o mundo possui rudimentos de mediunidade, que pode ser desenvolvida pelo trabalho e pelo exercício.


A alma, em sua existência de além-túmulo, não está desprovida de forma. Possui um corpo fluídico, de matéria vaporosa, quintessenciada, chamada perispírito, que pré-existe e sobrevive ao corpo material, do qual é ao mesmo tempo a matriz, o modelo e o motor. Esse perispírito ou corpo fluídico possui todo um organismo sutil, e é por sua ação, combinada com o fluido vital dos médiuns, que o Espírito se manifesta aos homens, fazendo-os ouvir golpes, deslocando objetos, correspondendo-se por sinais convencionados. Em certos casos, pode mesmo se tornar visível, tangível, produzir a escrita direta, mensagens, e até impressões e moldagens de seu envelope materializado. Todos esses fatos têm sido observados milhares de vezes pelos sábios para isto designados e por pessoas de toda classe, de todas as idades e de todos os países. Eles provam experimentalmente a existência, em torno de nós, de um mundo invisível, povoado de almas que deixaram a Terra, entre as quais se encontram as que tínhamos conhecido e amado, e a quem nos juntaremos um dia. São elas que nos ensinam a filosofia consoladora e grandiosa da qual esboçamos acima os traços essenciais.


E que se repare bem que essas manifestações, consideradas, por tantos homens - sob o império dos prejulgamentos estreitos - como estranhas, anormais, impossíveis, sempre têm existido. Relacionamentos constantes têm unido o mundo dos Espíritos ao mundo dos vivos. A história o comprova. A aparição de Samuel a Saul, o gênio familiar de Sócrates, aqueles do Tasse(5)e de Jérôme Cardan(6), as vozes de Joana d'Arc e tantos outros fatos análogos, procedem das mesmas causas. Somente, que eram considerados outrora como sobrenaturais e miraculosos, apresentando-se hoje com um caráter racional, como um conjunto de fatos regidos por leis rigorosas, cujo estudo faz nascer em nós uma convicção profunda, esclarecida.


O mundo invisível não é em realidade senão o prolongamento do mundo visível. Além dos limites traçados por nossos sentidos, há formas de matéria e de vida das quais a ciência cada vez mais admite a possibilidade, depois que a descoberta da matéria radiante, a aplicação dos raios X, os trabalhos de Hertz sobre a telegrafia sem fio, de Lockyer sobre as nebulosas, aqueles de Becquerel, Curie e de Lebon sobre a radioatividade dos corpos, lhe abriram todo um domínio ignorado da natureza.


Os fatos espíritas, como se vê, longe de serem desprezíveis, constituem umas das maiores revoluções intelectuais e morais que se tem produzido na história do globo. Eles são o mais sério argumento que se pode opor ao materialismo. A certeza de viver do lado de lá do túmulo, na plenitude de nossas faculdades e de nossa consciência, faz perder o temor da morte. O conhecimento das situações felizes ou penosas, vividas pelos Espíritos por suas boas ou más ações, tem uma poderosa ação moral. A perspectiva dos progressos infinitos, das conquistas intelectuais, que esperam todos os seres e os conduz para destinos comuns, pode, por si só, aproximar os homens, unindo-os por laços fraternais. A doutrina do Espiritismo experimental é a única filosofia positiva que responde a todas as necessidades morais da humanidade.



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