Notas complementares





    


N°1 – SOBRE A NECESSIDADE DE UM MOTOR INICIAL PARA EXPLICAR OS MOVIMENTOS PLANETÁRIOS


A este respeito o professor Bulliot escreve na Revue du Bien: “Forçosamente”, dizia Aristóteles, todos os seres que compõem a Natureza dividem-se a priori em três categorias: os que recebem e não dão o movimento; os que o recebem e transmitem os outros corpos, ficando simples agentes de transmissão; enfim, as fontes primeiras do movimento, que o dão da sua plenitude, nada recebendo do exterior. A necessidade de procurar fora dos corpos à fonte primeira dos princípios que os animam, é evidente na hipótese estritamente mecânica de Descartes, segundo a qual os corpos privados de atividade própria conservam-se absolutamente passivos, entregues que são às impulsões do exterior. Mas, qualquer que seja a hipótese que se faça sobre a natureza íntima da Matéria, basta, para justificar a necessidade de recorrer a um primeiro motor, encontrar nos corpos um movimento ou uma classe de movimentos que não se explique pelas forças ordinárias.


“Ora, essa classe de movimentos acha-se realizada nas revoluções dos planetas, que gravitam ao redor do Sol, centro do sistema”. Esse movimento de translação, quase circular ou elíptico, é devido ao concurso de duas forças: uma força de gravitação, que tende sem cessar a fazer cair os planetas sobre o Sol, segundo a vertical, e uma força centrífuga, que tende a lançá-los ao longe em linha reta, segundo a tangente, à órbita. De onde vem essa força centrífuga? Unicamente de um impulso primitivo, dado, uma vez por, todas, ao planeta, na origem de suas revoluções por uma causa estranha. Esse impulso é perfeitamente análogo ao que uma criança comunica a uma pedra, fazendo-a girar rapidamente por meio de uma funda. Nenhuma força natural poderia dar a explicação do fato. Por sua vez, Newton não hesita em pronunciar esta grande frase no fim de seus Princípios matemáticos da filosofia natural:


“Em um transporte de entusiasmo, sua grande Alma se exalça Àquele que, por si só, pôde, com sua poderosa mão, lançar os mundos sobre a tangente de sua órbita”. Nunca a ciência humana e o gênio do homem se elevaram mais alto do que nessa página célebre, digno coroamento desse livro grandioso.


“Com Kant e Laplace, a Astronomia deu novo passo à frente”. Ela estabelece a hipótese de uma vasta nebulosa animada de poderoso movimento de rotação sobre si mesma. Em consequência desse movimento, os planetas se destacam, um a um, como que por si mesmos, da massa comum, cuja parte central dará, enfim, nascimento ao Sol. Desde então, parece que tudo está mudado, e que a idéia de Deus se torna estranha à Astronomia. Laplace não pronuncia uma só vez esse nome. Mas, no estrito ponto de vista da explicação dos fatos, é fundado tal silêncio? De modo algum. A questão ficou para nós exatamente qual era para Newton. Depois, e assim antes da hipótese da nebulosa, o problema permanece o mesmo. Se nada faz equilíbrio à gravidade, sempre presente e sempre atuante, os planetas caem, precipitam-se em linha reta sobre o Sol, ou antes, nada os vem destacar da nebulosa comum. Somente o movimento giratório desta pode fornecer a força centrífuga indispensável. E então se estabelece de novo, e nos mesmos termos, o grande problema inelutável, que em vão se tentava deixar no olvido: Donde vem o movimento giratório que equilibra o peso?


“Somente Kant ousou responder: da gravidade e das forças repulsivas desenvolvidas pelos choques interatômicos”. Kant não era matemático e mostra-o bem aqui: Em virtude mesmo do princípio da igualdade da ação e da reação, as moléculas, depois do choque, desenvolvem a mesma força viva, tanto em uma direção quanto na direção contrária, da direita para a esquerda, e da esquerda para a direita. Elas são incapazes, por conseguinte, de gerar na nebulosa a menor rotação de conjunto.


Se imóvel no princípio, a nebulosa ficará eternamente imóvel, e, por falta da força viva, os planetas não se formarão”. Se eles se destacaram, com efeito, da massa central, é que esta girava sobre si mesma, e, se girava, é que o mesmo Criador (evocado ostensivamente por Newton) lhe havia, formando-a, impresso aquele movimento.


“Astrônomos do Observatório de Paris, interrogados, os Srs. Wolf e Puiseux, não puseram dificuldade alguma em tal reconhecer: A hipótese invocada por Kant, conclui o Sr. Puiseux, deve ser considerada inoperante”.

“É necessário um primeiro motor”, escreve o Sr. Wolf. (É também a opinião de Camille Flammarion, consignada em suas obras)


“E no fundo, implicitamente, Laplace não diz talvez outra coisa ­ porque, se ele não nomeia Deus com todas as letras, fala de uma nebulosa em estado de rotação, repetidas vezes, e escreve que, em seu movimento de conjunto, a soma dos arcos descritos por suas moléculas ao redor do eixo é necessariamente nula. Logo, ele também, tal qual Newton, se reconhecia incapaz de explicar os movimentos do sistema solar pelas únicas leis da Mecânica”.


N° 2 – SOBRE AS FORÇAS DESCONHECIDAS


A força, dissemo-lo em página anterior, em certo grau de evolução, torna-se inteligente. Piobb, inspirando-se nas obras de Flammarion, pôde escrever: “Resulta das experiências feitas que a faísca globular possua estabilidade considerável”. É possível tocá-la com uma lâmina metálica e mudá-la de lugar, sem a descarregar. Tem-se observado que o raio esférico não é atraído por um páraraios, e que este não protege, de forma alguma, as habitações.


Além disso, ele parece conduzir-se algumas vezes nas condições de um ser inteligente. Opera mil fantasias, ora com violência, ora com calma, e mostra-se, de alguma sorte, refletido em seus atos. Dir-se-ia que é capaz de certos pensamentos. “Na sua maneira de abrir uma porta ou janela, dando volta ao ferrolho, de folhear um livro, de deslocar os objetos, faz prova de uma lógica rudimentar que, até aqui, só se reconhecia aos seres vivos.” (Psyché, novembro, 1914, pág. 195.)


Sobre o assunto das imensas fontes de energia, de que já falamos, escreve Gustave Le Bon:


“Remontando às causas de emissão de eflúvios, podendo derivar de todos os corpos em vertiginosa velocidade, determinaríamos a existência de uma energia introatômica, desconhecida até aqui, e que excede, entretanto, todas as forças conhecidas – por sua colossal grandeza. Não podemos liberá-la ainda senão em quantidade muito fraca; mas, do cálculo dessa quantidade, pode-se deduzir que, se fosse possível extrair inteiramente toda a energia contida em um grama de qualquer matéria, tal energia poderia produzir trabalho igual ao obtido pela combustão de muitos milhões de toneladas de carvão. A matéria aparece-nos na condição de um reservatório enorme de energia. A verificação da existência dessa força, ignorada durante tão longo tempo, apesar de sua formidável grandeza, nos revelará imediatamente a fonte, misteriosa ainda, da energia manifestada pelos corpos durante sua radioatividade”. (REVUE SCIENTIFIQUE, 17 de outubro de 1903)


N°3 ­ AS MARAVILHAS CELESTES; DIMENSÕES DAS ESTRELAS.


As dimensões de certas estrelas são formidáveis. Nosso Sol é, como se sabe, 1.300.000 vezes maior que a Terra, mas Sirius ultrapassa-o doze vezes em grandeza, e Prócion, seis vezes; Deneb, do Cisne, a segunda estrela da Grande Ursa; Vega, o belo sol azul da Lira; Pólux, dos Gêmeos; são também estrelas majestosas, faróis gigantescos disseminados na noite sideral, e perto dos quais nosso Sol fariam o efeito de simples ponto luminoso. Eis, depois, Capela ou a Cabra, astro enorme, 5.800 vezes maior que nosso Sol; Arcturo que, apesar de sua espantosa distância, fulge ainda com um brilho que eclipsa todos os astros do nosso céu boreal; e, enfim, Betelgeuse, da constelação de Orion.


Desta vez, a mais fantástica imaginação não acha palavras para exprimir essa visão assombrosa. Uma ou outra dessas duas estrelas, Arcturo e Betelgeuse, vale muitos milhares de sóis iguais ao nosso; entre elas e nosso astro do dia há quase a mesma proporção que entre o Sol e a Terra.


E, no entanto, a Astronomia ainda achou uma estrela, que as eclipsa. Para percebê-la é preciso ganhar as regiões astrais onde ela brilha na constelação do Navio; é Canopo, a mais poderosa estrela conhecida até hoje, pois equivale a 7.760 sóis reunidos. Entre todos os astros estudados ao telescópio e de que se tem ensaiado medir a distância, a luz, o calor e o movimento próprio, Canopo acaba de ser objeto de estudo especial da parte de um astrônomo inglês, Walkei, membro da Sociedade Real Astronômica de Londres. Esse estudo tenderia a mostrar que esse prodigioso sol poderia ser o centro de nosso universo.


A distância de Canopo seria de 489 ciclos anuais de luz, isto é, o raio luminoso que nos chega hoje (em 1915), dessa estrela, deve ter saído da estrela no ano de 1426.


Tal astro gigantesco não é, entretanto, o pivô em torno do qual evoluciona o nosso Sol; é em torno de Alcione, estrela da constelação das Plêiades, que nosso sistema solar preenche, em duzentos e vinte e cinco mil séculos, uma de suas grandes revoluções; um raio de luz de Alcione deve viajar durante 715 vezes os 365 dias do ano – antes de poder atingir a Terra. Há estrelas cuja luz só nos chega ao cabo de 55 séculos.


O grupo das Plêiades compõe-se de um milhar de estrelas, das quais somente sete são visíveis a olho nu.


Alcione é de terceira grandeza; mas, fato notável, essas estrelas principais são animadas de movimento uniforme e paralelo, o que explicaria ser a sua atração mais poderosa ainda do que a do gigantesco Canopo.


– Fim –