XXIX


    


Segundo as observações telescópicas e a fotografia celeste, a Ciência estabelece que nosso universo se componha de um milhar de milhão de estrelas. Camille Flammarion crê que este universo não é único. Nada prova, diz ele, que esse bilhão exista só no Infinito e que, por exemplo, não haja um segundo, um terceiro, um quarto e cem e mil universos semelhantes aos outros. Esses universos podem ser separados por espaços absolutamente vazios, desprovidos de éter e, por consequência, invisíveis uns dos outros. Parece até que conhecemos já algumas das estrelas que não pertencem ao nosso universo sideral. Podemos citar, por exemplo, com Newcomb, a estrela 1.830 do catálogo de Groombridge, a mais rápida, cujo movimento foi determinado. Este foi avaliado em 320.000 metros por segundo, e a forca atrativa de nosso universo inteiro não pode ter determinado tal velocidade. Segundo todas as probabilidades, essa estrela vem de fora e atravessa nosso universo qual um projétil. O mesmo se pode dizer da de número 9.352 do catálogo de Lacaille, e mesmo de Arturu, a quarta em grandeza das estrelas visíveis e de Mu de Cassiopéia (conferência de agosto de 1906). Acrescentamos que as potências da Natureza são sem limites, na extensão e na duração. A luz, que percorre 300.000 quilômetros por segundo, leva 200 séculos a atravessar a Via­Láctea, formigueiro de estrelas do qual fazemos parte. Essas famílias ou nebulosas são inúmeras, e todos os dias se descobrem novas, por exemplo, a segunda de Orion, cuja extensão terrifica a imaginação. Vivemos no seio de um absoluto sem limites, sem começo e sem fim. Ver, também, para pormenores, a nota complementar nº 3, no fim deste livro.