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Capítulo II


A inteligência da força psíquica



– Os fenômenos não são devidos a uma força cega

– Algumas experiências provam-no

– As objeções dos incrédulos

– A transmissão do pensamento

– Investigações da Sociedade Psíquica de Londres

– Discussão

– Prova absoluta da existência dos Espíritos

– As crianças mortas na Índia

– Um telegrafista de além-túmulo

– As pranchetas clarividentes

– O caso Abraham Florentine

– O alfaiate esmagado

– O Capitão Wheatcroft.


Vimos, na sessão descrita por Auguste Vacquerie, que o fenômeno é dirigido por uma inteligência; se negligenciamos cientemente o lado intelectual, foi para que se estabelecesse, de um modo nítido, a existência da força psíquica. Agora, que ela não pode mais ser seriamente contestada, entremos no estudo da inteligência que assim se manifesta.


O que se observa, em primeiro lugar, é que os movimentos da mesa são muitas vezes produzidos intencionalmente, e que as pancadas que se ouvem não são devidas ao acaso, mas, sim, dadas com a intenção evidente de manifestarem uma vontade. Recorremos ainda aos observadores rigorosos e sem prevenções. Eis o que lemos na obra Recherches Expérimentales sur le Spiritualisme, de William Crookes:


“Desde o começo de minhas pesquisas verifiquei que o poder produtor desses fenômenos não era simplesmente uma força cega, mas, sim, uma inteligência que o dirigia ou, pelo menos, que lhe era associada; assim, as pancadas de que acabo de falar foram repetidas um número de vezes determinado: elas tornavam-se fortes ou fracas e, a meu pedido, foram dadas em lugares diferentes; por meio de um vocabulário de sinais, previamente convencionados, foram obtidas respostas a certas questões e bem assim algumas mensagens, com uma exatidão mais ou menos notável.


“A inteligência que governa esses fenômenos é, algumas vezes, manifestamente inferior à do médium e está quase sempre em oposição direta aos seus desejos.


“Quando ela me determinava alguma coisa que não podia ser considerada como muito razoável, eu ia solicitar-lhe novos conselhos, convidando-a a refletir de novo. Essa inteligência é, algumas vezes, de um caráter tal que se é forçado a crer que ela não emana de nenhuma das pessoas que estão presentes.”


Algumas experiências


Para confirmar as asserções do sábio inglês, eis o testemunho do juiz Edmonds:


“Preparando-me para assistir a uma reunião, fechava-me só em meu quarto e escrevia cuidadosamente a série das questões que devia propor. Por isso, eu ficava admirado de receber respostas a essas minhas questões, exatamente na ordem em que as havia escrito, sem que eu retirasse o meu memorando do bolso.


“Nenhuma das pessoas presentes sabia que eu tinha formulado um questionário e, por conseqüência, ignoravam o assunto. Os meus pensamentos mais íntimos, aqueles que nunca segredei ao ouvido de quem quer que fosse, foram livremente discutidos, como se eu os tivesse expressado; reconheci, mais tarde, que os meus menores pensamentos eram assim conhecidos e que podiam ser descobertos pela inteligência que se manifestava.”


Para abreviar o sistema de comunicação por meio de pancadas, que é assaz longo, emprega-se, às vezes, um alfabeto impresso, sobre o qual se vai passando lentamente um lápis, a fim de que a mesa dê uma pancada no momento em que o lápis esteja em frente da letra que se quer fazer conhecer. Os incrédulos não deixam de afirmar que esses fenômenos dependem simplesmente da finura e da habilidade do médium em adivinhar as letras que combinam o nome, e conforme o modo pelo qual os consultantes apóiam ou passam o lápis sobre esses caracteres.


Eis algumas experiências de Wallace, que demonstram quanto este modo de ver carece de fundamento:


“Quando recebi pela primeira vez uma comunicação, tive particular cuidado em evitar fornecer qualquer indício ao médium: percorri as letras com regularidade constante.


Não obstante, foram corretamente ditados: primeiramente, o lugar em que meu irmão morreu – Pará, depois o seu nome de batismo – Herbert, e, enfim, o nome de um amigo que foi o último a vê-lo – Henry Walter Bates. As seis pessoas presentes visitavam a Senhora Marshall (a médium) pela primeira vez, e o meu nome, tanto como os dos assistentes, eram desconhecidos a essa senhora, salvo o de minha irmã casada, cujo nome não podia servir de guia para chegar-se ao conhecimento do meu.


Na mesma ocasião, uma jovem presente foi avisada de que uma comunicação ia ser-lhe feita. Ela tomou o alfabeto e, em vez de apontar as letras uma a uma, moveu o lápis docemente ao longo das linhas, com a mais perfeita continuidade.


Eu a seguia, e escrevia à medida que as letras eram indicadas pelas pancadas. O nome obtido era extraordinário; as letras diziam: Thomas Doe Tacker, o nome do pai da jovem, tudo era completamente exato.


Alguns outros nomes, lugares e datas foram ditados nessa ocasião com uma justeza igual. Dou somente esses dois casos, porque estou absolutamente certo de que nenhum indício havia sido dado pelo qual se pudesse adivinhar os nomes, ainda mesmo que o fosse pela inteligência mais arguta.


Em outra ocasião, eu acompanhava à casa da Sra. Marshall minha irmã e uma senhora que nunca tinha ido ali, e foi-nos dada curiosíssima demonstração do absurdo que existe em imputar a decifração dos nomes à hesitação do consultante e à finura do médium.


Essa senhora desejou que lhe fosse dado o nome de um amigo particular falecido, e apontou as letras do alfabeto, segundo o processo usual, enquanto eu as escrevia à proporção que eram indicadas. Os três primeiros caracteres foram YRN.


– Oh – disse a senhora –, isto não tem sentido; temos obtido coisas melhores até hoje.


Justamente nessa ocasião veio um E, e, refletindo comigo mesmo, percebi o que isso era.


– Se vos apraz – disse eu –, continuai; eu compreendo isso.


A comunicação inteira foi, em seguida, dada por este modo: YRNEHKCOEFFEJ. A senhora não compreendera essas letras tanto como a princípio, até que separei dessa forma o ditado: YRNEH KCOEFFEJ, ou Henry Jeffeock, o nome do amigo que ela desejava, ditado às avessas.”


As comunicações pela mesa são muito comuns, e acreditamos ser pelo estudo desses fenômenos que a maior parte dos incrédulos se tornou espírita. Existe grande número de testemunhos relativos à obtenção de nomes de parentes, de amigos falecidos que vêm instruir os que ficaram na Terra, dizendo que nem tudo morre com o corpo e que eles estão no mundo espiritual tão vivos como estavam aqui na Terra.


As revistas e os jornais espíritas abundam em exemplos de manifestações semelhantes; não julgamos, portanto, útil nos estendermos mais amplamente sobre esse assunto.


Terminaremos essas citações reproduzindo as declarações feitas por Cromwell Varley, então engenheiro-chefe das linhas telegráficas da Inglaterra, perante a Comissão da Sociedade Dialética. 24


“Empreguei o termo Espíritos, embora não ignore que a possibilidade da comunicação com os nossos amigos que deixaram seu corpo material não esteja geralmente admitida. Os motivos que me induzem a afirmar que os Espíritos de nossos semelhantes vêm realmente visitar são os seguintes:


1º – Eu os tenho visto distintamente em diversas ocasiões;25


2º – Coisas que não eram conhecidas senão de mim mesmo e da pessoa falecida a quem era dado comunicar-se, e cuja exatidão reconheci, foram-me divulgadas mais de uma vez, posto que a médium não tivesse disso o menor conhecimento;


3º – Por vezes repetidas, coisas que eram conhecidas somente por mim e das quais eu me tinha esquecido completamente foram-me lembradas pelo Espírito que se comunicava; não podia existir aí transmissão de pensamento;


4º – Quando me aconteceu obter comunicações desse gênero, propus, em ocasiões diversas, questões mentais, às quais só a médium, senhora de posição muito independente, respondia por escrito, ficando completamente inconsciente do sentido das comunicações;


5º – A época e o gênero de certos acontecimentos imprevistos, desconhecidos, quer de mim próprio quer da médium, foram-me anunciados mais de uma vez alguns dias antes e realizaram-se perfeitamente. Como aqueles que me forneciam essas instruções, dizendo-se Espíritos, expunham a verdade quanto aos acontecimentos futuros, e como nenhum mortal presente podia ter conhecimento do que eles comunicavam, não sei que razão possa haver para não se crer neles.”


Eis o que é raciocinar, e estamos plenamente de acordo com o Sr. Varley, pois iremos relatar as teorias apresentadas pelos adversários do Espiritismo, a fim de demonstrarmos que, para esses fenômenos, eles são impossíveis ou não elucidam senão um número muito restrito de fatos, ou se apóiam sobre hipóteses mais difíceis de admitir-se que a da intervenção dos Espíritos.


As objeções


Em primeiro lugar, temos a do clero, que nos diz:


“Credes conversar com as almas de vossos parentes ou amigos falecidos: que erro! É Satanás que se reveste de múltiplas formas, para enganar-vos e desviar-vos da Igreja, fora da qual não existe a verdade.”


A isso responderemos simplesmente que a existência de um Espírito do mal é puramente hipotética e que, se devemos escolher entre duas crenças, é mais racional admitir-se, após uma verificação, que são os Espíritos humanos sobreviventes que se manifestam, pois que eles nos dão provas da sua existência.


Além disso, se se acredita na existência do diabo, faremos notar que ele age de um modo ilógico, conduzindo materialistas à crença em uma vida futura. Enfim, como as comunicações espíritas ensinam o amor ao próximo, o desprendimento das coisas deste mundo, a repressão dos vícios e a prática das virtudes, o anjo do mal se combate a si mesmo, donde resulta, em boa lógica, que também não se pode atribuir a ele essas manifestações.


A transmissão do pensamento


O Espiritismo, assim como o magnetismo, é uma ciência nova que teve o grande desazo de nascer fora do santuário dos sábios, de sorte que o seu acesso é disputado com um encarniçamento sem igual.


Constatamos como o fenômeno físico, abstraindo-se qualquer consideração, era atribuído pelos cépticos a movimentos inconscientes dos operadores; foi necessária uma soma considerável de experiências, realizadas diante de testemunhas dignas de conceito, para se estabelecer a ação à distância dos médiuns sobre os objetos inanimados.


Quando não era mais possível negar esses fatos sem pôr em evidência uma prevenção sem quilate, foi-se obrigado a admitir que uma inteligência estava associada ao fenômeno e que o dirigia; porém, que inteligência era essa?


A primeira idéia que veio foi, incontestavelmente, a de que essa inteligência era a de um ou mais dos assistentes, operava de um modo ainda desconhecido e produzia os resultados referidos mais atrás.


É também possível, acrescentam os incrédulos, que o pensamento do operador se transmita ao médium e que este, desde então, agindo sobre a mesa, possa fazê-la ditar nomes próprios, indicar datas, etc.; na opinião deles, não se deve atribuir ao Espírito de um morto as respostas, pois que elas são simplesmente o reflexo do pensamento das pessoas presentes. Para reforçarem o seu argumento, dizem que experiências muito exatas têm sido feitas sobre o assunto, e que hoje está quase universalmente reconhecido que a transmissão do pensamento é verdadeiramente um fenômeno incontestável. Eis, portanto, segundo eles, a origem dessas manifestações, que, no seu entender, não devem ser atribuídas aos Espíritos, mas que convêm consideradas como de uma faculdade nova, que se revela em certos indivíduos e que nada têm de sobrenatural.


Vejamos, pois, os trabalhos empreendidos sobre a questão da transmissão do pensamento, e procuremos saber como eles podem explicar os fenômenos espíritas.


Há dez anos existe na Inglaterra uma agremiação conhecida sob o título: Society for Psychical Research, cuja fim é compilar e examinar minuciosamente os fatos que são designados com o nome de telepáticos. Compreendem-se sob esta denominação as ações psíquicas à distância, isto é, certas ações ou impressões que podem ser transmitidas de uma pessoa a outra, sem o auxílio dos sentidos.


Nos relatórios dessa Sociedade, que se publicam todos os semestres, sob o título Proceedings, pode-se contar 1.653 experiências de transmissão de pensamentos.


Eis como se procede: O agente fica separado do percipiente por uma determinada distância; este deve voltar-lhe as costas e ser colocado de maneira a que nenhum movimento, nenhum ruído possa perturbá-lo ou informá-lo.


Nessas condições, o agente concentra seu pensamento nos nomes ou algarismos e o percipiente deve repetir os nomes ou algarismos em que aquele pensa. Em todas as experiências citadas nos Proceedings, o número de respostas exatas foi sempre muito superior ao que indica o cálculo das probabilidades. Existe, portanto, a transmissão do pensamento.


Procurou-se variar o fenômeno: em vez de nomes, algarismos ou números, imaginou-se fazer produzir, pelo percipiente, desenhos vistos ou feitos pelo agente: ainda assim os resultados foram satisfatórios.26 No Congresso de Psicologia, em 1889, esses fenômenos deram motivo a discussão entre os Srs. Marillier, Charles Richet, Ochorowicz e Janet, representando a França; os Srs. Sidgwick e Myers, pela Inglaterra; Riley, pela América; e Delboeuf, pela Bélgica.


Resulta, das provas fornecidas, que a transmissão do pensamento é um fato incontestável. Hipnotizadores célebres, como os Srs. Beaunis e Liébaut, de Nancy, haviam já constatado isso em percipientes adormecidos, confirmando, assim, as experiências do Barão du Potet.


Lombroso repetiu com Pickmann as experiências dos sábios ingleses. Com os olhos vendados, com os ouvidos tapados, sem contacto algum, Pickmann adivinhou com exatidão, nove vezes sobre dez, as cartas tocadas por Lombroso. 27


Na América do Norte, uma Sociedade de investigações psíquicas foi igualmente fundada em 1885, e o resultado de seus trabalhos confirma o fato da transmissão do pensamento. Relembremos, entretanto, esta sua conclusão importante:


“Resulta das experiências feitas pela Comissão que o estado céptico do agente (o operador) é desfavorável à transmissão, porque esse estado de espírito impede a participação intensiva na atividade da concepção.”


Discussão


Examinemos agora uma experiência espírita e vejamos se a transmissão do pensamento pode explicar os fatos que têm sido verificados.


Analisemos as três sessões referidas por Russell Wallace, pág. 75, a fim de raciocinarmos sobre fatos positivos.


Na primeira experiência, ele obteve o nome de seu irmão falecido, o lugar em que esse acontecimento se passou e, enfim, um outro nome próprio, o de um amigo seu.


Para que a transmissão do pensamento se admitisse como causa efetiva desses resultados seria necessário:


1º- Que a médium, a Sra. Marshall, fosse uma percipiente sensível a esse gênero de manifestações, o que não está absolutamente estabelecido;


2º- Seria indispensável ver no Sr. Wallace um experimentador procurando, pela concentração do pensamento, impor um nome à médium.


Foi precisamente o contrário que sucedeu, pois o ilustre naturalista aplicou simplesmente sua atenção em percorrer o alfabeto com uma constante regularidade, e, por conseguinte, não se pode atribuir-lhe o papel de um operador querendo impor um pensamento qualquer, visto que ele mesmo ignorava o que ia acontecer.


3º- Suponhamos, entretanto, apesar de toda a evidência, que o nome Herbert Wallace fosse transmitido mentalmente à sra Marshall, e vejamos se é possível explicar esse fato sem o conhecimento antecipado da médium, pois que ela ignorava completamente, assim como as demais pessoas, o nome que ia ser ditado.


Vejamos também se é possível explicar-se como se produzem pancadas na mesa correspondentes a cada uma das letras que compõem a palavra.


Notemos que as pancadas são inteiramente independentes da vontade dos operadores, pois que isto está averiguado por todos aqueles que estudaram o fenômeno. Não sendo possíveis semelhantes explicações, é licito, sem receio de sermos desmentidos, afirmar que, neste caso, a transmissão do pensamento não toma parte na experiência.


Mas, onde essa demonstração adquire um valor absoluto é na terceira experiência em que o nome de Henry Jeffeock foi ditado às avessas.


A senhora que evocava, bem longe de impor seus pensamentos, depois das três primeiras letras y, r, n, declara que isso não tem significação! Vê-se que, neste caso, a transmissão do pensamento em nada absolutamente influi para essa mensagem.


Poderíamos submeter ao mesmo raciocínio todas as experiências por nós mencionadas, e dessa análise resultaria a convicção de que é indispensável procurar outra causa para explicar o fenômeno, pois que a inteligência que se manifesta não emana dos operadores, visto declarar ser aquela cujo nome apresenta.


Não há, portanto, motivo para que se negue a existência dos seres ultraterrenos.


Além disso, ainda não apresentamos todos os fatos; apenas mencionamos alguns pelos quais se pode reconhecer a sua realidade.


De agora em diante, o grande número de provas da existência dos Espíritos vai-se revestindo de um caráter cada vez mais evidente, e nenhuma negação será capaz de combater a evidência da sua intervenção nesses fenômenos.


Prova absoluta da existência dos Espíritos


A fim de não restar dúvida alguma de que os Espíritos são os autores das manifestações espíritas, vamos apresentar outras provas nas quais se reconhecerá ser impossível que a inteligência que se manifesta seja a dos assistentes.


Se as mensagens recebidas pela mesa não são reflexos do pensamento dos assistentes, se essas comunicações relatam acontecimentos reais, absolutamente desconhecidos dos operadores, será indispensável admitir que esses ditados provêm das inteligências desencarnadas que, voluntariamente, se manifestam, pois que é possível verificar as suas afirmações e analisar a sua identidade.


Poderíamos, ainda, fornecer um número considerável de exemplos, mas a nossa tarefa não permite que nos estendamos longamente sobre esses fatos, porque temos outros a estudar.


Limitar-nos-emos a escolher experiências feitas por observadores competentes, que tomaram todas as precauções necessárias para produzir um testemunho ao abrigo de qualquer crítica.


Passamos a transcrever os seguintes trechos do Spirit Identity, livro do Sr. Oxon, eminente professor de Oxford.


As crianças mortas na Índia


“Em 10 de fevereiro de 1874, fomos atraídos por uma tríplice pancada, nova e muito particular, sobre a mesa, e recebemos uma narração longa e circunstanciada da morte, da idade e mesmo das datas e nomes de três pequenos seres, filhos do mesmo pai, e que tinham sido subitamente vitimados pela morte. Nenhum de nós conhecia esses nomes pouco comuns. Tinham morrido em país longínquo, a Índia, e quando a mensagem nos foi dada não tínhamos meio algum de verificação. Essa manifestação foi, entretanto, confirmada pouco tempo depois, e de um modo singular.


No dia 28 de março do mesmo ano, encontrei, pela primeira vez, o Sr. e a Sra. A. Watts, na casa do Sr. Cowper-Temple, doutor em Medicina. A nossa conversação tratou especialmente da evidência dos fenômenos psíquicos. Contei diversos fatos, entre outros o das três crianças. A Sra. Watts impressionou-se muito com essa narrativa, que correspondia, em sua semelhança, a uma triste história que ouvira recentemente.


Uma semana antes, o Sr. e a Sra. Watts haviam jantado em casa de uma velha amiga, a Sra. Leaf, e souberam dela a história de uma perda dolorosa que tinha sofrido o parente de uma pessoa conhecida da Sra. Leaf.


Esse cavalheiro, residente na Índia, tinha, num curto espaço de tempo, perdido sua esposa e três filhos. A Sra. Leaf entrara em grandes e tristes minúcias, mas não havia feito menção alguma dos nomes nem do lugar desse doloroso acontecimento. Referindo o incidente das três crianças que se me tinham comunicado, dei os nomes e o lugar, exatamente como haviam sido fornecidos pela mensagem. A Sra. Watts encarregou-se de tomar informação da Sra. Leaf a respeito das particularidades da narrativa que esta lhe tinha feito; tratou-se disso no dia seguinte e reconheceu-se que os nomes dos falecidos eram os mesmos.


Devo à gentileza da Sra. Watts o ter travado relações com a Sra. Leaf, e fiquei muito impressionado pela concordância exata de cada pormenor que ela me dava sobre os fatos em questão.”


Aqui, a teoria da transmissão do pensamento não pode ser admitida, pois nenhum dos operadores conhecia os Espíritos que acabavam de dar os seus nomes.


Perguntamos agora: se não se admite a existência dos Espíritos, a que inteligência deve ser atribuída essa revelação?


Eis um caso narrado por William Crookes, demonstrando claramente que a inteligência manifestada é completamente estranha aos assistentes.


Um telegrafista de além-túmulo


“Durante uma sessão com o médium Home, a minha pequena régua atravessou a mesa para vir a mim, em plena luz, e deu-me uma comunicação, batendo em minha mão. Eu ditava e a régua batia no momento preciso.

A outra extremidade da régua repousava na mesa, a certa distância das mãos do Sr. Home.


As pancadas eram tão nítidas, tão exatas e a régua estava tão evidentemente sob a influência de uma potência invisível que perguntei: – A inteligência desta régua poderá, porventura, mudar o caráter de seus movimentos e dar-me, por meio de pancadas em minha mão, uma mensagem telegráfica com o alfabeto de Morse?


Tenho todas as razões para crer que o alfabeto de Morse era completamente desconhecido às pessoas presentes, pois que mesmo eu somente o conhecia imperfeitamente. Tinha apenas pronunciado essas palavras, quando o caráter das pancadas mudou, e a mensagem foi continuada pela maneira que eu tinha pedido. As letras foram indicadas com muita rapidez, de modo que só se pôde apanhar palavras destacadas; por conseqüência, essa mensagem perdeu-se; porém, vi o suficiente para convencer-me de que, na outra extremidade da régua, havia um bom operador de Morse, quem quer que ele fosse.”


A prancheta clarividente


Ainda um outro exemplo, do mesmo autor:


“Uma senhora escrevia automaticamente, por meio da prancheta. Tentei descobrir o meio de provar que o que ela escrevia era devido à ação inconsciente do cérebro. A prancheta, pelo mesmo processo, afirmou que, embora fosse posta em movimento pela mão e pelo braço dessa senhora, a inteligência que a dirigia era a de um ser invisível que tocava no cérebro da senhora como num instrumento de música, fazendo, assim, mover seus músculos.


Eu disse, então, a essa inteligência: – Vedes o que existe neste aposento? – Sim, escreveu a prancheta. – Vedes este jornal e podeis lê-lo? – acrescentei eu, pondo o meu dedo no número do Times, que estava numa mesa por trás de mim, mas sem olhá-lo. – Sim! respondeu a prancheta. – Bom, disse eu, se podeis vê-lo, escrevei a palavra que está neste momento coberta pelo meu dedo, e eu crerei em vós. A prancheta começou a mover-se lentamente, e com muita dificuldade escreveu a palavra honour. Voltei-me e vi que a palavra honour estava coberta pela extremidade de meu dedo.


Quando fiz essa experiência, evitei olhar o jornal, e era impossível à senhora, embora o tentasse, ver uma única das palavras impressas, porque ela estava sentada em uma mesa, o jornal estava em outra mesa por trás de mim e o meu corpo ocultava-lhe a vista.”


Esse fato demonstra ainda que, quando se analisarem um pouco mais as objeções feitas pelos incrédulos aos fenômenos espíritas, ficar-se-á surpreso da pouca consistência que elas apresentam.


A transmissão do pensamento, que é o cavalo de batalha dos contraditores, é invocada muitas vezes para explicar a resposta que o médium dá a uma questão mental. Um pouco de reflexão basta para fazer compreender quanto essa hipótese é pouco fundada.


É bem evidente que ela não explica todos os fenômenos, porque, quando a comunicação revela acontecimentos completamente desconhecidos dos assistentes, não se pode atribuir isso a uma transmissão qualquer do pensamento. Já vimos o caso das crianças mortas na Índia, referido pelo Sr. Oxon, fato esse completamente original. Eis um segundo, igualmente verificado pelo mesmo autor.


O caso Abraham Florentine


O Sr. Oxon, residindo em Shanklin, ilha de Wight, no mês de agosto de 1874, tinha organizado, com o Dr. Spur e sua esposa, sessões bastante regulares. Um Espírito veio em certa ocasião comunicar-se sob o nome de Abraham Florentine. A mesa que servia nas experiências parecia estar, diz o narrador, em estado de verdadeira superexcitação; seus pés batiam com violência, de sorte que o processo da conversação diferia daquele que anteriormente se empregava, por meio de pancadas na madeira. Esse Espírito declarou ter falecido em Brooklyn (New York), em 5 de agosto de 1874, com a idade de 83 anos, 1 mês e 17 dias, e ter tomado parte na guerra de 1812.


O Sr. Epes Sargent, a quem foi comunicado esse incidente, enviou-o ao Banner of Light, que, no dia 12 de dezembro, perguntou se alguém poderia fornecer informações sobre esse assunto.


Apenas tinha aparecido esse número do jornal, quando o editor recebeu do Sr. Wilson Millar, de Washington, o aviso de que o nome de Abraham Florentine existia na lista dos soldados que, em 1812, tinham reclamações a fazer, e que, se alguém se dirigisse à Secretaria do Ajudante-General do Estado de New York, poderia obter mais amplas informações. Escrevendo-se sobre o assunto ao Ajudante-General, recebeu-se dele a seguinte resposta:


“ESTADO DE NEW YORK


Quartel-General


Repartição de Ajudante-General.


Albany, 25 de janeiro de 1875.


Em resposta à vossa missiva de 22 de janeiro, venho dar-vos as informações seguintes, extraídas dos arquivos desta repartição:


Abraham Florentine, simples soldado da companhia do Capitão Nicole, no primeiro regimento da milícia de New York, cujo comandante era o Coronel Dodge, alistou-se no dia 3 de setembro de 1812, pouco mais ou menos, e, depois de ter servido durante três meses, obteve uma baixa honrosa.


Fez-se-lhe uma concessão do terreno número 63.365. Este último detalhe foi extraído das declarações feitas, sob juramento, pelo soldado, e não dos registros oficiais.


Saúdo-vos.

Franklin Townsend


Ajudante-General.”


Tendo sido publicada esta nota, o Dr. Crowel, que conhecia o Sr. Oxon, teve a gentileza de dar os passos necessários a fim de obter pormenores suplementares. Consultando o indicador de Brooklyn, encontrou aí o nome de Abraham Florentine, domiciliado no número 119, rua Kosciusko, e, dirigindo-se a esse lugar, foi recebido pela Sra. Florentine, que, sobre as questões propostas, disse que seu marido tinha falecido em 5 de agosto passado e que, se fosse vivo, teria 83 anos em 8 de junho; que, em vida, tinha bom comportamento, que durante cerca de um ano tinha guardado o leito e que muito sofrera.


Tudo que tinha sido dito pelo médium era, portanto, rigorosamente exato, à exceção do único detalhe no qual a Sra. Florentine dava a seu marido 83 anos, 1 mês e 27 dias, enquanto que o Espírito dizia ter tido menos dez dias de existência. Mas esta pequena diferença em nada afeta o resultado das outras informações, perfeitamente confirmadas.


Eis as conclusões do Sr. Oxon quanto a esse fato e a importância que lhe atribui:


“No que me diz pessoalmente respeito, senti-me muito feliz em ver minhas investigações coroadas de êxito. Jamais pus em dúvida que chegássemos a esclarecer o assunto, como tantas vezes tínhamos feito em outras ocasiões; porém, para mim, o principal foi poder constatar a justeza das deduções que tinha tirado da maneira insólita pela qual essa comunicação havia sido feita.


A veemência das pancadas, o modo de correspondência empregado, que, para nós, era inteiramente novo, a seriedade incontestável do Espírito e a obstinação que ele mostrava em comunicar-se eram ainda mais notáveis.


Há no caráter da prova singularmente significativa que obtivemos nessa ocasião uma demonstração tão evidente da volta daqueles que nos deixaram, que ela não poderia deixar de fornecer matéria às mais sérias reflexões. Um fato positivo é que ninguém dentre nós tinha ouvido falar de Abraham Florentine; não tínhamos amigos na América do Norte encarregados de dar as notícias do que se passava lá e, mesmo que os tivéssemos, eles certamente não falariam de uma circunstância que em nada nos interessava.


Terminando, afirmo de novo, no interesse da verdade, que o nome, tanto como os fatos, era inteiramente desconhecido de nós três.”


Não existe teoria, fora do Espiritismo, que possa explicar tais fenômenos; eles são a prova absoluta da imortalidade da alma e das comunicações daqueles aos quais se teima em chamar mortos, mas que continuam a viver.


A Inglaterra não teve o monopólio desses fatos bem constatados: em 11 de janeiro de 1883, o Neu Spiritualistische Blätter, de Berlim, publicava o artigo seguinte, narrando um fenômeno tão autêntico quanto o precedente:


O alfaiate esmagado


Devemos ao Sr. Conselheiro S..., de quem recebemos recentemente a visita, a interessante narrativa que ele teve a gentileza de fazer-nos, e consideramo-nos felizes em pô-la sob os olhos de nossos leitores; eles encontrarão aí uma prova de identidade que, em razão da sua simplicidade, da sua clareza e dos testemunhos nos quais se apóia, pode ser considerada como uma das melhores demonstrações que se têm obtido na Alemanha, a respeito da possibilidade das comunicações diretas com os Espíritos.


Circunstâncias que, infelizmente, ainda tantas vezes se apresentam, nos impedem de dar publicidade aos nomes; mas, para obviar esse inconveniente, submetemos à apreciação de quatro pessoas a ata da sessão, as informações das autoridades e alguns outros documentos, e essas pessoas dignaram-se atestar, com suas assinaturas, a autenticidade da revelação seguinte:


“Na pequena cidade de G..., três senhores sentaram-se, na noite de 3 de agosto de 1882, em volta de uma mesa, para verem se obtinham os fenômenos de deslocamento ou de pancadas.


Estiveram à espera muito tempo; de repente, a mesa pôs-se em movimento, e compreendeu-se, depois de perguntas, que Espíritos desejavam manifestar-se; entabulou-se, então, a seguinte conversação, por meio do alfabeto:


– Quem está aí? – Um alfaiate esmagado. – Como, esmagado? – Um trem passou-me por cima. – Quando? – Há três anos. – Onde? – Unterbarmen. – Em que dia? – 29 de agosto de 1879. – Teu nome? – Siegwart Lekebusch. – Teu domicílio? – Barmen. – Teus pais vivem ainda? – Sim. – Eras patrão ou operário? – Aprendiz. – Com que idade morreste? – Dezessete anos. – És feliz? – Oh! Sim. – Devemos fazer esta comunicação aos teus pais? – Não. – Por quê? – Não acreditam na sobrevivência depois da morte. – Talvez isso os convencesse. – Só conseguireis que eles zombem de vós. – Como se deu o acidente? – Eu queria fazer uma visita a uns parentes na Rua Auer, em Unterbarmen; seguia pela via férrea e, tendo a vista curta, não vi chegar o trem; era noite, e fui esmagado. – Em que te ocupas atualmente? – Não posso descrever-vos o meu trabalho...


Essa conversação prolongou-se por muito tempo, porém nenhum interesse positivo oferecia, e a ata não mencionava a sua continuação.


Esses senhores, muito surpresos com tal comunicação, resolveram tomar informações a fim de esclarecerem o mistério. Com esse intuito, um membro da maçonaria, o Sr. K..., escreveu, no dia seguinte, (prefeitura de Polícia) de Barmen, e, em data de 17 de agosto de 1882, o Inspetor de Polícia enviou-lhe esta resposta:


Atendendo ao pedido que me fizestes em vossa carta de 8 do corrente, tenho a honra de informar-vos que, em conformidade com os registros aqui depositados, o aprendiz de alfaiate Siegwart Lekebusch, de 17 anos de idade, foi apanhado, em 26 de agosto de 1879, às 11 horas e 14 minutos da noite, por um trem da linha de Marche, e esmagado nas proximidades da estação Unterbarmen. A causa do acidente foi atribuída a ter o falecido transitado indevidamente pela linha.


As informações oficiais coincidiam, portanto, perfeitamente com a comunicação que nos tinha sido feita; restava ainda um ponto a verificar, isto é: a existência da Rua Auer.


O Sr. E... dirigiu-se com esse fim, no dia 18 de agosto, ao escritório do Reinisch Westhal Post, em Barmen, pedindo que se dignassem fornecer-lhe todos os detalhes possíveis a esse respeito. A resposta foi:


Nada mais podemos acrescentar ao que declaramos em 28 de agosto de 1879, a não ser que existe em Unterbarmen a Rua Auer.”


Este fato, como os precedentes, reúne todas as circunstâncias necessárias para demonstrar a existência dos Espíritos, porque nenhum desses senhores conhecia Unterbarmen; eles ignoravam, por conseguinte, e com mais forte razão, que houvesse uma rua chamada Auer e, sobretudo, que tinha sido, três anos antes, esmagado um aprendiz de alfaiate. A diminuta diferença de dias que existe entre a data indicada pelo Espírito, como época da morte, e a que lhe é atribuída pelo documento da meria, em nada destrói o valor desse fato como prova da sobrevivência da alma.


O mesmo jornal contínua:


“Desejando o Sr. S... que os fatos fossem aqui insertos e que não se publicassem os nomes das pessoas que tomaram parte nessa sessão, nós, abaixo assinados, sob garantia da redação do Neu Spirítualistische Blätter, depois de termos examinado, quer a ata que designa o nome das testemunhas e das localidades, quer os documentos oficiais, atestamos com as nossas assinaturas a exatidão da narrativa supra.


A. W. Sellin; Ludw, Tischer;


Carl Baumann; C.-E. Nassler.”


Essa narrativa mostra que não é preciso ser-se um sábio para fazer constatações científicas. Esse documento tem um grande valor, não só porque a ata da sessão foi imediatamente lavrada, mas também porque as afirmações do Espírito foram reconhecidas verdadeiras por um documento oficial, e porque investigadores verificaram a existência de uma cidade e, nessa cidade, uma rua com o nome indicado pelo Espírito.


Convidamos os investigadores a procederem sempre assim, porque dessa forma amontoam-se documentos para o futuro, e cada um concorre com a sua pedra para o edifício da ciência do porvir.


Terminaremos estas citações pelo fato seguinte, referido pelo Sr. Robert Dale Owen, em seu livro intitulado: Footfalls on the Boundary of Another World.


O Capitão Wheatcroft


Na noite de 14 para 15 de novembro de 1857, a esposa do Capitão G. Wheatcroft, residente em Cambridge, sonhou que via seu marido, então na Índia. Acordou imediatamente e, levantando os olhos, avistou a mesma figura de pé junto ao seu leito. O Capitão aparecia com o seu uniforme, com as mãos cruzadas no peito, cabelos em desordem e a face muito pálida. Seus grandes olhos negros estavam fixos nela; sua expressão era a de grande emoção, e havia uma contração especial da boca, habitual nesse oficial quando estava perturbado. Ela o viu, mesmo em cada detalhe particular do seu trajo, tão distintamente como jamais o vira durante a sua vida. A figura parecia estar inclinada para frente, como se sofresse, e parecia fazer um esforço para falar; mas nenhum som se ouviu. Esteve visível por algum tempo e, em seguida, desapareceu. A Sra. Wheatcroft não pôde mais adormecer nessa noite.


No dia seguinte, contou tudo à sua mãe, externando a sua crença de que o Capitão tinha sido morto ou ferido.


Após o tempo necessário, recebeu-se um telegrama anunciando que esse oficial tinha sido morto em frente a Lucknow, no dia 15 de novembro. A viúva informou ao Sr. Wilkinson, advogado de seu marido, que estava inteiramente preparada para a fatal notícia, mas que tinha certeza de que havia erro de um dia na data da morte. O Sr. Wilkinson obteve, então, do Ministério da Guerra um certificado assim concebido:


“MINISTÉRIO DA GUERRA


N° 9.579

30 de janeiro de 1858.


Segundo os arquivos do Ministério, parece que o Capitão G. Wheatcroft, do 6º regimento de dragões, foi morto na ação de 15 de novembro de 1857.


B. Hawes.”


Ora, um notável incidente apresentou-se: O Sr. Wilkinson estava de passeio em Londres e morava na casa de um amigo que era médium e cuja esposa tinha tido, durante toda a sua vida, a percepção de aparições. Contava-lhe a visão da viúva do Capitão e descrevia como a figura tinha aparecido, quando a Sra. V..., esposa do seu amigo, disse subitamente: “Deve ser a mesma pessoa que eu vi quando falávamos da Índia, hoje à tarde.” Em resposta às questões do Sr. Wilkinson, ela disse que tinha obtido, por intermédio de seu marido, uma comunicação dessa pessoa, anunciando-lhe que acabava de ser morto na Índia, de tarde, devido a um ferimento no peito. Eram cerca de nove horas da noite; ela não tinha tomado nota da data, mas, pensando bem, lembrou-se de ter sido interrompida por um fornecedor e de ter, então, saldado uma conta.


Submetendo o recibo ao exame do Sr. Wilkinson, constatou-se que ele trazia a data de 14 de novembro.


Em março de 1858, a família do Capitão Wheatcroft recebeu do Capitão G. C. uma carta procedente de Lucknow com data de 29 de dezembro de 1857, na qual esse oficial dizia que se achava ao lado do Capitão Wheatcroft quando este caiu, e que isso sucedera no dia 14 de novembro à tarde e não em quinze como dizia o despacho do Ministério. O finado tinha sido ferido no peito por um estilhaço de bomba.


Havia sido enterrado em Dilkaosha e, numa cruz de madeira fincada no túmulo, tinham sido gravadas as iniciais C. W. e a data da morte, 14 de novembro.


O Ministério da Guerra corrigiu o seu erro. O Sr. Wilkinson obteve, em abril de 1859, uma outra cópia do certificado e achou-o concebido nos mesmos termos que o precedente, salvo o dia 15 de novembro, que tinha sido substituído por 14.


O Sr. Owen tem em seu poder as provas do fato, completadas diretamente pelas próprias partes. A viúva do Capitão Wheatcroft examinou, corrigiu o manuscrito e mostrou-lhe a carta do Capitão C...; o Sr. Wilkinson fez o mesmo, e a Sra. V... contou-lhe pessoalmente os fatos que tinha presenciado. O Sr. V... referiu também essas circunstâncias, antes das informações que o Sr. Owen dirigiu ao Sr. Howit, como é testemunhado por este em sua Histoire du Surnaturel, pág. 225, volume 2º. O Sr. Owen declara, além disso, que tem em seu poder os dois certificados do Ministério da Guerra; o primeiro com a data errada, o segundo com a data corrigida.


Nesse caso, temos a mesma aparição apresentando-se na mesma noite a duas senhoras desconhecidas entre si e distantes uma da outra, bem como a comunicação obtida por uma terceira pessoa, designando o momento e o gênero da morte, coincidindo tudo exatamente com o que se sucedia a milhares de léguas de distância. Pensamos, como o Sr. Wallace, que fatos como estes, tão bem certificados, não podem ser discutidos, e que, para atribuí-los a uma coincidência, seria preciso grande esforço de incredulidade.


Resulta, pois, das experiências precedentes, a prova rigorosa da comunicação dos Espíritos. Averiguamos também que a transmissão do pensamento não pode ser invocada nessas experiências e que somente a Doutrina Espírita oferece uma solução simples e racional, atribuindo essas comunicações às almas desencarnadas.


Vamos ver como se pode chegar aos mesmos resultados, seguindo outros caminhos.


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