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Parte Segunda



Os Fatos


Capítulo I


A Força Psíquica


– O Espiritismo em casa de Victor Hugo

– Primeiras objeções

– Erguimento da mesa sem contacto

– Sociedade Dialética de Londres

– Medição da força psíquica

– A mediunidade

– A levitação humana.


Vimos, na primeira parte, que os fenômenos espíritas começaram por pancadas em paredes e em soalhos, e que, em pouco tempo, os próprios Espíritos indicaram um meio mais fácil e mais rápido de comunicação. Esse meio foi a mesa. Os investigadores sentavam-se em torno da mesa; colocavam as mãos sobre ela e, dentro em pouco, pancadas no móvel ou movimentos de um dos pés da mesa serviam de meio de correspondência com a entidade que se manifestava.


Eis uma narrativa que fará compreender de que forma se realizam os fatos habitualmente; ela é devida a Auguste Vacquerie e tirada do seu belo livro: Les Miettes de l'Histoire.


Espiritismo em casa de Victor Hugo


A Sra. de Girardin fez uma visita a Victor Hugo, então exilado em Jersey, e falou-lhe do fenômeno ultimamente importado da América; ela acreditava firmemente nos Espíritos e em suas manifestações.


“No próprio dia de sua chegada, teve-se muito trabalho em fazê-la esperar para o fim do jantar; levantou-se depois da sobremesa e levou um dos convivas para uma conversadeira, onde interrogaram os Espíritos por meio de uma mesa, mas sem resultado. A Sra. de Girardin imputou a falta à mesa, cuja forma quadrada contrariava o fluido. No dia seguinte, ela própria foi comprar, em um armazém de brinquedos para crianças, uma mesa redonda, com uma única perna terminando por três pés, que ela colocou sobre a mesa grande e que foi tão animada quanto esta última. Não desanimou; disse que os Espíritos não eram animais de fiacre que esperam pacientemente os burgueses, e, sim, seres livres e de vontade própria, que somente vinham quando queriam. No dia seguinte, quando se fez a mesma experiência, sucedeu igual silêncio. Ela perseverou, mas a mesa obstinou-se em nada dizer. A Sra. de Girardin acalentava tal ardor de propaganda que, um dia, jantando em casa do Sr. Jersiais, fê-lo interrogar uma estante, que provou sua inteligência não lhe respondendo. Esses repetidos insucessos não a abateram; ficou calma, confiante, sorridente, indulgente para com a incredulidade; na antevéspera de sua partida, pediu-nos para lhe concedermos, em despedida, uma tentativa. Eu não tinha assistido às experiências precedentes; não acreditava no fenômeno e não tinha vontade alguma de que ele se produzisse. Não sou daqueles que fazem cara feia às novidades, mas tal experiência vinha em má ocasião, e desviava de Paris pensamentos que eu reputava, pelo menos, mais urgentes. Desta vez não pude recusar ir à última prova, se bem que o fiz com a resolução firme de não acreditar senão no que fosse bem evidente.


A Sra. de Girardin e um dos assistentes puseram as mãos sobre a pequena mesa. Durante um quarto de hora, nada sucedeu, mas tínhamos prometido ser pacientes; cinco minutos depois, ouviram-se ligeiros estalidos; isto podia ser o efeito involuntário das mãos fatigadas; mas, em pouco tempo, os estalidos repetiram-se, e sobreveio uma espécie de estremecimento elétrico, sentindo-se, em seguida, uma agitação febril.


De repente, uma das garras dos pés levantou-se.


A Sra. de Girardin disse:


– Está aí alguém? Se está aí alguém, que fale conosco, peço-lhe para bater uma pancada.


O pé caiu, produzindo um ruído seco.


– Está aí um Espírito! – exclamou a Sra. de Girardin; formulai as vossas perguntas.


Fizeram-se perguntas e a mesa a elas respondeu. As respostas eram breves: uma ou duas palavras no máximo, hesitantes, indecisas, algumas vezes ininteligíveis. Seríamos nós que a não compreendíamos? O modo de traduzir as respostas prestava-se ao erro. Eis como se procedia: pronunciava-se uma letra do abecedário a cada pancada do pé da mesa, e, quando a mesa parava, marcava-se a última letra indicada. Mas, muitas vezes, a mesa não parava claramente sobre a letra; dava-se um engano; anotava-se a precedente letra ou a seguinte; os inexperientes atrapalhavam-se; a Sra. de Girardin intervinha o menos possível para que o resultado fosse o menos suspeito, e tudo se tumultuava. Em Paris, a Sra. de Girardin empregava, disse-nos, um processo mais seguro e mais expedito: ela tinha mandado expressamente fazer uma mesa com um alfabeto que designava a letra. Apesar da imperfeição dos meios, algumas das respostas impressionaram-me bastante.


Eu apenas tinha sido testemunha, e convinha que, por meu turno, fosse ator.


Disse, então, à mesa:


– Adivinha a palavra que eu penso.


Para melhor observar a resposta, tomei lugar à mesa, com a Sra. de Girardin.


A mesa disse uma palavra, e essa era a que havia sido pensada.


Não parou aí a minha curiosidade.


Pensei comigo mesmo que o acaso podia ter inspirado a Sra. de Girardin e que esta houvesse transmitido à mesa a palavra, pois que comigo mesmo havia acontecido, no baile da ópera, dizer a uma senhora de dominó que eu a conhecia, e, como me perguntasse ela o seu nome de batismo, eu proferi ao acaso um nome, que se reconheceu ser o verdadeiro. Sem mesmo invocar o acaso, eu poderia, na passagem das letras da palavra, ter, a despeito meu, nos dedos ou nos olhos, um estremecimento que as tivesse denunciado. Reconheci, portanto, a experiência; mas, para estar certo de que não iria trair a passagem das letras por uma pressão maquinal ou por um olhar involuntário, deixei a mesa e perguntei-lhe, não a palavra que pensara, mas a sua tradução.


Disse ela:


– Tu queres dizer sofrimento.


Eu pensara em amor. Não fiquei ainda persuadido. Supondo que, se auxiliasse a mesa, o sofrimento é por forma tal o fundo de todas as coisas que a tradução podia ser aplicada fosse qual fosse a palavra que eu tivesse pensado.


Sofrimento tanto teria traduzido grandeza, maternidade, poesia, patriotismo, etc., como amor. Eu podia, por conseguinte, estar certo de que a Sra. de Girardin, tão séria, tão generosa, tão amiga e adoentada, não teria atravessado o mar para mistificar proscritos.


Inúmeras impossibilidades seriam críveis antes dessa, mas eu estava resolvido a duvidar de tudo.


Outros interrogaram a mesa e fizeram-lhe determinar seu pensamento ou incidentes conhecidos de si unicamente; de repente, a mesa pareceu impacientar-se com essas questões pueris; recusou responder; entretanto, continuou a agitar-se como se tivesse alguma coisa a dizer. Seu movimento tornou-se brusco e voluntário como uma ordem.


– É ainda o mesmo Espírito que está aí? – perguntou a Sra. de Girardin.


A mesa deu duas pancadas, o que, na linguagem convencionada, significava não.


– Quem está aí?


A mesa respondeu o nome de uma morta, conhecida de todos os que ali se achavam.


Só então desapareceu a desconfiança; ninguém teria tido a coragem ou a audácia de se fazer, diante de nós, um representante de além-túmulo.


Uma mistificação era já bastante difícil de admitir-se, muito menos uma infâmia. Semelhante suspeita seria desprezível. O irmão falava com a irmã, que saía da região da morte para consolá-lo no exílio; a mãe chorava; inexprimível emoção comprimia todos os peitos; eu sentia distintamente a presença daquela que a adversidade tinha afastado.


Onde estava ela? Amar-nos-ia sempre? Era feliz? Ela respondia a todas as questões, mas, às vezes, declarava que nem tudo lhe era permitido dizer.


A noite corria, e ficamos ali com a alma presa ao invisível fantasma. Enfim, disse-nos:


– Adeus!


E a mesa não se moveu mais.


Rompia a madrugada. Subi ao meu quarto e, antes de deitar-me, escrevi o que acabava de passar-se, como se essas coisas pudessem ser esquecidas. No dia seguinte, a Sra. de Girardin não teve mais necessidade de convidar-me; fui eu quem a levou para junto da mesa. A noite passou-se como na véspera.


A Sra. de Girardin partiu no dia imediato; acompanhei-a a bordo e, quando se largaram às amarras, ela exclamou para ruim:


– Até à volta.


Não a vi mais, porém penso que tornarei a vê-la. Ela voltou à França para cumprir o resto de sua vida terrestre.


Há alguns anos, seu salão era muito diferente do que tinha sido. Não mais estavam aí os seus amigos. Uns foram para fora da França, como Victor Hugo, outros foram para mais longe, como Balzac; outros, para mais longe ainda, como Lamartine; ela, porém, tinha todos os duques e embaixadores de que gostasse, mas a revolução de fevereiro havia enfraquecido toda a sua fé na importância dos títulos e das funções, e os príncipes não a consolavam da falta dos escritores. Substituía os ausentes conversando com um ou dois amigos e com a sua mesa. Os mortos afluíam à sua evocação. Tinha, assim, sessões que valiam mais que os seus melhores amigos de outrora, e onde os gênios eram supridos pelos Espíritos. Seus convidados de então eram os Espíritos de Sedaine, Sévigné, Sapho, Molière, Shakespeare, e foi no meio destes que ela morreu.


Partiu para o outro mundo sem resistência e sem tristeza: essa vida da morte tinha-lhe apagado a inquietação. Coisa tocante: para adoçar a vida dessa nobre mulher, esses grandes mortos vieram procurá-la.


A morte da Sra. de Girardin não me arrefeceu o atrativo pelas mesas. Precipitei-me apaixonadamente para essa grande curiosidade da vida ultraterrena.


Não esperava mais a noite: começava desde o meio-dia, e não acabava senão no dia seguinte, de manhã; só me interrompia para jantar. Pessoalmente, nenhuma ação eu tinha sobre a mesa; eu não a tocava; porém, interrogava-a.


O modo de comunicação era sempre o mesmo; eu já estava a isso acostumado.


A Sra. de Girardin, tempos antes da sua morte, enviara-me de Paris duas mesas: uma, pequena, em cujo pé estava fixo um lápis que devia escrever e desenhar. Esse móvel foi experimentado uma ou duas vezes; desenhou mediocremente e escreveu mal; a outra era maior; era uma mesa com um quadrante e com um alfabeto, no qual uma agulha marcava as letras. Ela foi igualmente rejeitada depois de um ensaio que não deu resultado, e mantive-me exclusivamente com o primitivo processo, o qual, simplificado pelo hábito e por algumas abreviações convencionadas, deu-me, dentro em pouco, todo o êxito desejável. Eu conversava correntemente com a mesa; o marulhar do mar misturava-se com o ruído dos diálogos, cujo mistério aumentava com a noite, com a tempestade, com o isolamento. Não mais eram palavras simples as que respondia a mesa, mas, sim, frases e páginas inteiras.


Ela era, na maior parte das vezes, grave e magistral; mas, por momentos, era espiritual e mesmo cômica. Tinha acessos de cólera. Insultou-me mais de uma vez, por lhe haver falado com irreverência, e confesso que eu não ficaria tranqüilo, se deixasse de obter antes o meu perdão. Fazia exigências: escolhia seu interlocutor, queria ser interrogada em verso; obedecia-se-lhe, e, então, ela também respondia em verso. Todas essas conversações foram recebidas não ao sair da sessão, mas no próprio local, sob o ditado da mesa; elas serão publicadas um dia e proporão um problema imperioso a todas as inteligências ávidas de verdades novas.”


Esta narração é interessante sob muitos pontos de vista; mostra que os Espíritos não estão às ordens dos evocadores: que eles vêm quando e como bem lhes parece. As hesitações, os desfalecimentos que o fenômeno apresenta não devem pôr embaraços aos investigadores; estes precisam armar-se de paciência e saber perseverar, se quiserem obter resultados.


Notemos, aqui, que Vacquerie estava em casa de Victor Hugo e que assistiu a essas manifestações; ora, esses escritores, bons juízes em matéria de estilo, às vezes qualificam de magistrais os ditados da mesa; e bem se vê que os Espíritos não se deleitam sempre em banalidades, como tantas vezes se lhes tem censurado.


Primeiras objeções


Os movimentos das mesas foram acolhidos com universais suspeitas; a explicação mais geral era que as pessoas reputadas médiuns apoiavam-se simplesmente sobre a mesa, e que as respostas eram devidas ao acaso; quanto às pancadas, atribuíam-nas a um jogo dos pés.


Porém, quando foi verificado que pessoas de uma honorabilidade acima de toda suspeita obtinham movimentos da mesa, tornou-se indispensável achar alguma coisa que explicasse os fatos, banindo a hipótese de fraude voluntária.


Foi então que apareceram as teorias, segundo as quais os movimentos produzidos eram o resultado de uma ação muscular inconsciente. Faraday pretendeu que, uma vez estabelecida a aderência dos dedos na mesa, a trepidação muscular era assaz forte para imprimir num móvel certa rotação. Chevreul, impressionado por essa idéia, publicou, no seu livro intitulado La Baguette Divinatoire et les Tables Tournantes, a sua experiência com o pêndulo, donde resultava que as impulsões múltiplas e repetidas, em um sentido, podem abalar um corpo cuja massa está em desproporção com a causa motriz: é o que o Sr. Babinet chama movimentos nascentes e inconscientes.


Parecia, pois, que a Ciência tinha descoberto a verdadeira causa desses fatos que maravilhavam os imbecis; mas o fenômeno revestiu-se de um caráter novo: a mesa elevava-se agora e movia-se sem qualquer contacto da parte dos operadores!


Por esse modo, a pretensa explicação científica caiu por terra. Nova força parecia divertir-se com as mais engenhosas teorias.


Erguimento da mesa, sem contacto


Parece-nos que certos sábios são afetados de cegueira para todos os fatos que deslocam seus sistemas. A levitação da mesa, sem contacto, foi observada desde a sua origem, mas, é preciso crer, não chegou ao conhecimento dos Srs. Faraday, Chevreul e Babinet.


Eis o que, com efeito, relata Robert Dale Owen, 14 homem muito instruído, lógico e extremamente circunspecto, no dizer de Wallace:


“No salão de um titular francês, o Conde d'Ourches, que residia num arrabalde de Paris, em 1º de outubro de 1858, à bela claridade do dia, no fim do almoço, viu uma mesa, em torno da qual haviam tomado lugar sete pessoas, elevar-se carregada de frutas e vinhos, e manter-se suspensa no ar, enquanto os convivas estiveram sentados em roda sem a tocarem. Todos os assistentes viram a mesma coisa.”


O Sr. de Morgan, professor de matemáticas na Universidade de Londres, homem refletido e metódico, relata a seguinte experiência:15


“O fato mais admirável de mesas movendo-se com determinado objetivo que tem vindo ao meu conhecimento apresentou-se em casa de um amigo, cuja família, assim como a nossa, residia no litoral.


A família do meu amigo era composta de seis pessoas e de um cavalheiro que lhe esposara uma das filhas. Pelo meu lado, tinha-me feito acompanhar por um membro da minha própria família. Nenhuma pessoa assalariada estava presente.


Um cavalheiro, que se tinha exprimido de uma forma muito céptica não só quanto às manifestações espíritas, mas, igualmente, sobre a questão do Espírito em geral, ficara sentado em um sofá, a dois ou três pés de uma mesa de jantar, em redor da qual estávamos colocados. Depois de nos termos conservado imóveis algum tempo, fomos convidados, por meio de pancadas, a unir as nossas mãos e a mantermo-nos sentados em torno da mesa, sem tocá-la.


Isso durou um quarto de hora; a nós mesmos perguntávamos se produziria alguma coisa ou se éramos mistificados pelo poder invisível. E, como um ou dois da companhia pedissem paciência, a velha mesa, que era suficientemente grande para comportar oito ou dez pessoas, deslocou-se inteiramente por si mesma e, sem que cessássemos de cercá-la e de segui-la, com as mãos unidas, saiu fora do círculo e, tocando esse cavalheiro, empurrou-o contra o espaldar do sofá, até que ele gritou: – Detei-vos, basta!”


O movimento dos objetos inertes, sem contacto humano, exerce-se diariamente nas experiências espíritas.


Os cépticos mais endurecidos estão em condições de constatá-lo tantas vezes quantas quiserem. Por isso, Lombroso publicou, em 7 de fevereiro de 1892, na Vie Moderne, a narrativa dos fatos numerosos de que foi testemunha em Nápoles; extraímos os seguintes trechos:


Tendo-se feito a obscuridade, começamos a ouvir pancadas mais fortes no meio da mesa; em seguida, uma campainha, colocada numa estante, afastada mais de um metro de Eusápia (a médium), pôs-se a tocar, volteando por cima de nossas cabeças; pousou em nossa mesa e, alguns instantes depois, caiu sobre uma cama, distante dois metros da médium.


Enquanto se ouvia a campainha no ar, o Dr. Ascenti, induzido por um de nós, tendo-se colocado por trás de Eusápia, acendeu um fósforo e pôde ver a campainha vibrar sozinha no ar e ir cair sobre o leito, à retaguarda de Eusápia.”


O célebre fisiologista acrescenta:


“Logo que a luz foi acesa e a cadeia rompida, viu-se um grande móvel, que se achava no fundo da alcova, a dois metros de distância, mover-se lentamente para nós, como se fosse impelido por alguém; assemelhava-se bem a um enorme paquiderme, movendo-se lentamente ao nosso lado.”


Tratando das suas experiências em companhia de Slade, o astrônomo Zöllner,16 depois da relação de diferentes fenômenos, acrescenta:


“Inopinadamente, uma cama, colocada no quarto (o de Zöllner), por trás de um biombo, transportou-se a dois pés da parede, empurrando o biombo para fora.


Slade conservara-se afastado do leito, ao qual voltava as costas; suas pernas estavam cruzadas e ele era visível a todos.”


Estas narrativas mostram-nos como os fenômenos de movimentos de objetos, sem contacto, são há muito tempo observados em todos os países pelos mais eminentes homens. Às vezes, as manifestações dessa força, que mantém no ar ou desloca objetos pesados sem intervenção humana, revestem-se de um caráter de grande poder. Citemos ainda o sábio alemão:


“Uma segunda sessão organizou-se imediatamente, em minha casa, com os professores Weber, Schreibner e eu. Uma crepitação violenta, tal como a descarga de uma forte bateria de pilhas de Leyde, ouviu-se; voltando-nos bastante alarmados, o biombo acima mencionado separou-se em duas peças; os batentes de madeira, de meia polegada de espessura, estavam partidos de alto a baixo, sem que houvesse contacto visível de Slade com o biombo.


Os pedaços quebrados jaziam a dois pés do médium, e este estava com as costas voltadas para o biombo.


Ficamos todos espantados com esta manifestação inesperada de tão grande força mecânica, e perguntei a Slade o que significava tudo aquilo. Ele respondeu-me que tal fenômeno acontecia às vezes em sua presença.”


Eis ainda, sob outra forma, uma verificação dessa mesma força, pelo mesmo investigador:


“Uma esfera de metal foi suspensa, por um fio de seda, no interior de um globo de vidro; estando este colocado sobre a mesa, a luz foi projetada de cima, por meio de velas dispostas para esse efeito, e, enquanto os professores Weber, Schreibner e Zöllner observavam atentamente, a esfera começou a oscilar e a bater, com intervalos regulares, contra a superfície interior do globo de vidro.”


Notemos bem que todas as experiências supra-relatadas são feitas por homens de ciência e que, em todos os casos, as precauções mais extremas foram tomadas para abrigá-las de toda fraude.


Pode-se ler, no n° 2 dos Annales Psychiques, de 1892, a narrativa do Dr. Dariex sobre movimentos de objetos, sem contacto, que se operaram em seu próprio aposento e em condições do mais rigoroso exame.


Ver-se-á como, em um quarto fechado, cujas portas estavam seladas e onde ninguém podia introduzir-se, móveis foram deslocados sem que se pudesse dar alguma razão física a esse fenômeno.


Porém, se os testemunhos tão importantes que acabamos de enumerar não bastarem para lançar a convicção na alma do leitor, estamos certos de que o trabalho que mais adiante reproduzimos não encontrará incrédulos, dada a notoriedade e o número dos investigadores.


Eis, com efeito, uma confirmação quase oficial dessa força ainda pouco conhecida; é-nos fornecida pela Sociedade Dialética de Londres, 17 cujo relatório passamos a transcrever.


SOCIEDADE DIALÉTICA DE LONDRES


Relatório que lhe foi apresentado pela Comissão por ela nomeada para o estudo dos fenômenos espíritas.


“Desde a sua criação, isto é, desde o dia 16 de fevereiro de 1869, a nossa Comissão realizou quarenta sessões, com o fim de fazer experiências e provas rigorosas.


Todas essas reuniões efetuaram-se nas residências particulares dos membros da Comissão, a fim de excluir toda possibilidade de maquinismos previamente dispostos ou qualquer artifício.


A mobília dos compartimentos nos quais se fizeram experiências foi, em todas as circunstâncias, a mobília do costume.


As mesas empregadas foram sempre as mesas de jantar, pesadas, que necessitavam de considerável esforço para serem postas em movimento. A menor tinha 5 pés e 9 polegadas de comprimento por 4 pés de largura, e a maior, 9 pés e 3 polegadas de comprimento por 4 1/2 pés de largura; o peso delas estava na mesma proporção.

Antes de começarem os fenômenos, os aposentos, as mesas e todos os móveis foram cuidadosamente examinados repetidas vezes, a fim de haver plena certeza de que não existia algum ardiloso instrumento ou aparelho qualquer, com o auxílio dos quais os sons e os movimentos, adiante mencionados, pudessem ser produzidos.


As experiências foram feitas à luz do gás, exceto em algumas ocasiões, especialmente anotadas no relatório.


Evitamos servir-nos de médiuns profissionais ou médiuns pagos. O nosso médium era um dos membros da Comissão, pessoa colocada em boa posição social e de integridade perfeita, não tendo, portanto, nenhum objetivo pecuniário e, mesmo, nenhum proveito poderia tirar de uma fraude.


Realizamos também algumas reuniões sem a presença de médium (está bem entendido que neste relatório a palavra médium é simplesmente empregada para designar um indivíduo sem a presença do qual os fenômenos descritos não se efetuam, ou se produzem com menos intensidade e menos freqüência), para tentar obter, por algum meio, efeitos semelhantes aos que se observa quando um médium está presente.


Por essa forma, nada foi possível obter-se semelhante às manifestações que se produziam com a sua presença.


Cada uma das provas que a inteligência combinada dos membros da Comissão podia imaginar foi feita com paciência e perseverança. As experiências foram dirigidas sob grande variedade de condições, e todo o engenho possível foi posto em ação para inventar meios que nos permitissem verificar as observações e desviar toda possibilidade de impostura ou de ilusão.


Limitamo-nos aos fatos dos quais fomos coletivamente testemunhas, fatos que foram palpáveis aos sentidos e cuja realidade é suscetível de uma prova demonstrativa.


Cerca de quatro quintas partes dos membros principiaram as investigações com o mais completo cepticismo no tocante à realidade dos fenômenos anunciados, e com a firme crença de que eles eram o resultado, quer da impostura, quer da ilusão, quer de uma ação involuntária dos músculos. Foi somente depois de irresistível evidência, em condições que excluíam essas hipóteses e após experiências e provas rigorosas, muitas vezes repetidas, que os mais cépticos foram, com o correr do tempo e a seu despeito, convencidos de que eram verdadeiros fatos os fenômenos que tinham sido produzidos durante esse inquérito prolongado.


O resultado de nossas experiências, por muito tempo prosseguidas e dirigidas com cuidado, induz-nos, depois das provas analisadas sob todas as formas, a estabelecer o seguinte:


Primeiro: Em certas condições de corpo e de espírito em que se achem uma ou mais pessoas presentes, produz-se uma força suficiente para pôr em movimento objetos pesados, sem o emprego de nenhum esforço muscular, sem contacto nem conexão material de qualquer natureza entre esses objetos e o corpo de alguma pessoa presente.


Segundo: Essa força pode fazer produzir sons, que cada qual ouve distintamente em objetos sólidos que não têm nenhum contacto entre si nem conexão visível ou material com o corpo de alguma pessoa presente; está, portanto, provado que esses sons provêm desses objetos por vibrações que são perceptíveis pelo tato.


Terceiro: Essa força é freqüentemente aplicada com inteligência.


Alguns desses fenômenos produziram-se em trinta e quatro sessões das quarenta que realizamos. A descrição de uma dessas sessões, bem como a maneira pela qual ela foi aplicada, melhor mostrará o cuidado e a circunspeção com que prosseguimos as investigações.


Quando havia contacto ou possibilidade de contacto pelas mãos, pelos pés ou pelas vestes de uma das pessoas que estavam no quarto com o objeto em movimento ou emitindo sons, podia-se ficar perfeitamente certo de que esses movimentos ou sons não eram produzidos pela pessoa que aí estava.


Fizemos a seguinte experiência:


Onze membros da Comissão sentaram-se, durante quarenta minutos, em torno de uma das mesas da sala de jantar, precedentemente descritas; e, quando se produziram movimentos e sons variados, voltaram (com o fim de mais rigorosa investigação) o espaldar das cadeiras para a mesa, cerca de nove polegadas desta; depois, ajoelharam-se sobre as cadeiras, colocando os braços no espaldar das mesmas.


Nesta posição, seus pés estavam necessariamente virados para trás, longe da mesa e, por conseqüência, não podiam ser colocados por baixo nem tocar no soalho.


As mãos de cada um estavam estendidas por cima da mesa, cerca de quatro polegadas de sua superfície. Nenhum contacto com uma parte qualquer da mesa podia, conseguintemente, operar-se sem que fosse observado.


Em menos de um minuto, a mesa, sem ter sido tocada, deslocou-se quatro vezes: a primeira vez, cerca de cinco polegadas para um lado; depois, doze polegadas para o lado oposto; e, em seguida, deslocou-se quatro e seis polegadas.


As mãos de todas as pessoas presentes foram, então, postas no espaldar das cadeiras, a um pé mais ou menos distante da mesa, a qual foi, como antes, posta em movimento com um deslocamento variando entre quatro e seis polegadas.


Enfim, todas as cadeiras foram afastadas da mesa na distância de doze polegadas e cada uma das pessoas se ajoelhou em sua cadeira, como precedentemente, mas desta vez tendo as mãos atrás das costas e, por conseqüência, com o corpo colocado pouco mais ou menos a dezoito polegadas da mesa, achando-se, assim, o espaldar da cadeira entre o experimentador e a mesa. Esta deslocou-se quatro vezes, em várias direções.


Durante essa experiência decisiva, e em menos de meia hora, a mesa moveu-se treze vezes sem contacto ou possibilidade de contacto com alguma pessoa presente, efetuando-se os movimentos em direções diferentes, e alguns destes respondendo a perguntas de diversos membros da Comissão.


A mesa foi examinada com cuidado, virada para cima e para baixo, e peça por peça; porém, nada se descobriu que pudesse elucidar os fenômenos. A experimentação foi feita em plena luz do gás colocada por cima da mesa.


Em resumo, a Comissão foi testemunha, mais de cinqüenta vezes, de semelhantes movimentos sem contacto, em oito sessões diferentes e nas casas dos seus membros; as provas foram as mais concludentes.


Em todas essas experiências, a hipótese de um movimento mecânico, ou outra qualquer, foi completamente banida, pelo fato de serem os movimentos realizados em várias direções, ora para um lado, ora para outro, quer subindo no aposento quer descendo; movimentos esses que teriam exigido a cooperação de grande número de mãos e de pés, e que, devido ao volume considerável e ao peso das mesas, não poderia produzir-se sem o emprego visível de um esforço muscular.


Todas as mãos e todos os pés estavam perfeitamente à vista e nenhum deles poderia mover-se sem que imediatamente fosse percebido. A hipótese de uma ilusão também foi posta de lado.


Os movimentos operaram-se em diferentes direções, e foram simultaneamente testemunhados por todas as pessoas presentes.


Existe nisto uma questão de fato e não de opinião ou de imaginação.


Esses movimentos reproduziram-se tantas vezes, em condições tão numerosas, tão diversas, com tantas garantias contra o erro ou contra a fraude, e com resultados tão constantes, que os membros da Comissão que tentaram essas experiências, depois de terem sido, anteriormente, na maior parte, cépticos, convenceram-se de que existe uma força capaz de mover corpos pesados sem contacto material, força essa que depende, de um modo desconhecido, da presença de seres humanos.


A Comissão não pôde coletivamente certificar-se a respeito da natureza e da origem dessa força, mas adquiriu a prova da realidade de sua existência.


A Comissão pensa que não existe fundamento na crença de que a presença de pessoas cépticas contraria a produção ou a ação dessa força.


Em resumo, a Comissão unicamente exprime a opinião de que a existência de um fato físico importante acha-se assim demonstrada, a saber: que movimentos podem produzir-se em corpos sólidos, sem contacto material, por uma força desconhecida até o presente, agindo a uma distância indeterminada do organismo humano e completamente independente da ação muscular, força essa que deve ser submetida a um exame científico mais aprofundado, no intuito de conhecer-se a sua verdadeira origem, a sua natureza e o seu poder.”


* * *


Medição da força psíquica


Essa força, cuja existência não é mais negável, considerando-se o número e a importância dos testemunhos que a atestam, foi submetida a medições.


Os observadores já citados contentaram-se em avaliá-la aproximativamente, mas Robert Hare, na América do Norte, e William Crookes, na Inglaterra, submeteram-na a um exame rigorosamente científico.


Transcrevamos agora o que Eugène Nus colheu da obra de Robert Hare, professor na Universidade de Pensilvânia, a respeito das experiências deste: 18


“Ele tomou esferas de cobre; colocou-as numa placa de zinco, fez que os médiuns pusessem as mãos sobre as esferas e, com grande espanto seu, a mesa moveu-se. O intuito de tal processo era evitar a aderência das mãos e os famosos movimentos nascentes e inconscientes, segundo as teorias de Faraday, Chevreul e Babinet.


Ensaiou outro processo: A longa extremidade de uma prancha foi presa a uma balança de espiral, com um indicador fixo para marcar o peso. A mão do médium foi colocada sobre a outra extremidade da prancha, de modo que, qualquer pressão que houvesse, não pudesse ser exercida para baixo; mas, pelo contrário, produzisse efeito oposto, isto é, suspendesse a outra extremidade. Com grande surpresa sua, esta extremidade desceu, aumentando, assim, de algumas libras o peso na balança.


Em seguida, fez mergulhar na água as mãos do médium, de modo a não haver comunicação com a prancha sobre a qual estava colocado o vaso que continha o liquido; e ainda, com grande surpresa, uma força de dezoito libras foi exercida sobre a prancha.”


Esses resultados, assaz notáveis, estabelecem e medem nitidamente a força psíquica que emana do médium. William Crookes 19 repetiu as experiências do sábio americano e obteve os mesmos resultados; ademais, ele empregou um aparelho muito simples, porém bastante exato, em uso nos laboratórios, para conservar os traços dessa força. Consiste esse instrumento em um vidro enegrecido, movido por um maquinismo de relógio que o obriga a deslocar-se horizontalmente diante do indicador da balança. Quando nenhuma força se exerce, a linha traçada é reta; se, ao contrário, uma força manifesta-se, a linha traçada é curva, e pode-se facilmente medir a todo o instante a energia exercida, ou, por outra, a intensidade da força psíquica.


Consegue-se ainda obter curvas por um outro processo: sobre um quadro de madeira estende-se uma folha de pergaminho. A extremidade mais baixa da prancha deve ficar equilibrada de modo a acompanhar com rapidez os movimentos do centro do disco de pergaminho. Na outra extremidade da prancha está uma agulha, de modo que, movendo-se horizontalmente, possa tocar na lâmina de vidro enfumaçada, a qual um mecanismo de relógio faz deslocar lateralmente.


Crookes certificou-se primeiramente de que nenhuma sacudidela ou vibração da mesa podia perturbar os resultados; depois, sem explicar a ninguém a utilidade do instrumento, introduziu no gabinete um médium e pediu-lhe que colocasse suas mãos não sobre o aparelho, mas sobre a mesa que o suportava. Em seguida, colocou suas mãos sobre as desse médium, a fim de evitar qualquer movimento consciente ou inconsciente da sua parte. Dentro de pouco tempo, ouviram-se choques no pergaminho, semelhantes aos que poderiam ser produzidos por grãos de areia que fossem atirados sobre a sua superfície. A cada choque, um fragmento de grafite, colocado sobre o pergaminho, era projetado para o ar, e a extremidade da prancha movia-se ligeiramente e descia. Algumas vezes, esses sons se sucediam tão rapidamente como os de uma máquina de indução; porém, outras vezes, eles tinham um intervalo de mais de um minuto. Cinco ou seis curvas foram assim obtidas no vidro enfumaçado, e sempre se viu o movimento da agulha coincidir com as vibrações do pergaminho.


Tendo obtido esses resultados na ausência do médium Home – diz o sábio químico –, eu estava impaciente para certificar-me da ação que sua presença produziria sobre o instrumento.


Em conseqüência disso, solicitei-lhe uma experiência, mas sem lhe dar a explicação do aparelho.


Agarrei o braço do Senhor Home acima do pulso e mantive sua mão acima do pergaminho, cerca de dez polegadas distante da superfície deste. Um amigo segurava-lhe a outra mão. Depois de nos conservarmos nessa posição por cerca de meio minuto, o Sr. Home disse que sentia o fluido passar. Então, fiz mover o maquinismo, e todos vimos que o indicador subia e descia. Os movimentos produziam-se muito mais lentos que nos casos precedentes, e não eram absolutamente acompanhados dos choques vibrantes de que há pouco falei.”


Várias foram as curvas gravadas pelo aparelho.


Como se vê, a força emanada de certos organismos humanos, chamados médiuns pelos espíritas, está cientificamente analisada e medida por uma forma rigorosamente exata.


A mediunidade


Em nosso exame, chegamos a uma constatação absolutamente contrária às teorias do Sr. Faraday e seus companheiros. A força que move as mesas não é devida a movimentos musculares inconscientes: é produzida por certos seres cujo organismo nervoso esteja apto para emitir essa força. Essa faculdade foi qualificada, pelos espíritas, com o nome de mediunidade, e os que a possuíam são médiuns.


Citemos ainda o testemunho de Crookes, o ilustre inventor do radiômetro.


“Essas experiências põem fora de dúvida 20 as conclusões a que cheguei em minha precedente memória, a saber: a existência de uma força associada, de um modo ainda inexplicado, no organismo humano, força essa pela qual a adição de peso pode ser feita em corpos sólidos, sem contacto efetivo. No caso do Senhor Home, o desenvolvimento dessa força varia enormemente não só de semana em semana, mas de uma hora para outra; em algumas ocasiões, essa força não pôde ser acusada por meio dos meus aparelhos durante uma hora ou mesmo mais e, em seguida, reapareceu, subitamente, com uma grande energia. Ela é capaz de agir a uma certa distância do Senhor Home (e não é raro que essa distância seja de 2 ou 3 pés); todavia, é sempre mais poderosa junto dele.


“Na firme convicção em que estou de que nenhuma força pode manifestar-se sem o esgotamento correspondente de alguma outra força, debalde tenho procurado, durante muito tempo, a natureza da força ou do poder empregado para produzir esses resultados.


Mas, atualmente, tenho podido observar melhor o Sr. Home, e acredito ter descoberto o tempo que essa força física emprega para desenvolver-se.


Servindo-me das palavras força vital, energia nervosa, sei que emprego termos aos quais muitos investigadores dão significações diferentes; mas, depois de ter sido testemunha do estado penoso de prostração nervosa e corporal em que algumas dessas experiências deixaram o Senhor Home, depois de tê-lo visto em estado de desfalecimento quase completo, estendido no soalho, pálido e sem voz, não posso duvidar de que a emissão da força física seja acompanhada de um esgotamento correspondente da força vital.


Essa força é, provavelmente, possuída por todos os seres humanos, embora os indivíduos dotados de uma energia extraordinária sejam, sem dúvida, raros. No ano que acaba de findar, encontrei, na intimidade de algumas famílias, cinco ou seis pessoas que possuíam essa força de um modo assaz poderoso para inspirar-me plena confiança de que, por seu intermédio, se poderiam obter resultados semelhantes aos que acabam de ser descritos, caso os experimentadores operassem com instrumentos mais delicados e suscetíveis de marcar uma pequena fração, em vez de indicar somente libras e onças.”


O Senhor de Rochas acaba de publicar (janeiro de 1897) uma obra intitulada Les Effluves Odiques, que contém notável série de conferências, feitas em 1866, pelo Barão de Reichenbach, diante da Academia de Ciências de Viena. As investigações do sábio alemão estabelecem a existência dessa força psíquica. Na notícia histórica que precede o texto dessas conferências, o Sr. de Rochas relata grande número de experiências, feitas com um pêndulo especial, pelo Sr. Dr. Léger e verificadas pelo Sr. Ch. Bué. Resulta desses trabalhos: 1º- que o organismo humano pode exteriorizar a força psíquica; 2º- que a vontade humana pode enviar essa força numa determinada direção.


A mediunidade não é um dom providencial, uma propriedade anormal, mas, simplesmente, um estado fisiológico que se apresenta em todos os seres, porém, somente em alguns é que ele está muito desenvolvido. Eis o que os Espíritos têm ensinado sempre.21


A levitação de corpos humanos


Folheando as obras que tratam da vida dos santos e os anais dos processos de feitiçaria, poderíamos citar casos numerosos, atestados por grande número de testemunhas, a respeito da levitação de certas personagens. 22


Mas, fiel ao nosso método, vamos dar a palavra aos sábios modernos.


Essa força psíquica não age somente sobre os objetos inanimados: ela se exerce, muitas vezes, sobre o próprio médium.


Vejamos o que nos diz o grande naturalista Wallace. 23


“Vou narrar uma sessão da qual conservo notas. Estávamos sentados, em casa de um amigo, em volta de uma mesinha e debaixo de um lustre. Um de meus amigos, que era completamente desconhecido para as outras pessoas, conservava-se junto da Srta. Nichol (a médium) e segurava-lhe as duas mãos. Uma outra pessoa, com uma caixa de fósforos, estava pronta a riscá-los a uma ordem dada. Ora, eis o que sucedeu:


Primeiramente, a cadeira em que estava sentada a Srta. Nichol foi retirada, e ela foi obrigada a manter-se de pé e com as suas mãos sempre seguras pelo meu amigo. Um ou dois minutos depois ouviu-se ligeiro ruído, tal como o que pudesse ser produzido ao colocar-se um copo d'água sobre a mesa, e, ao mesmo tempo, um leve farfalhar de estofos e o tilintar dos pingentes de vidro do lustre.


Imediatamente, o meu amigo disse-me: – Ela escapou-me.


Um fósforo foi então riscado, e encontramos a Srta. Nichol tranqüilamente sentada em sua cadeira no meio da mesa; sua cabeça não atingia o lustre. O meu amigo declarou que a Srta. Nichol se tinha subtraído, sem ruído, de suas mãos. Ela era muito forte e pesada; que a Srta. Nichol tivesse colocado a sua cadeira sobre a mesa, e que aí tivesse trepado, na obscuridade, sem ruído, quase instantaneamente, estando reunidas em volta dela cinco ou seis pessoas, pareceu-me, e parece-me ainda, a mim, que intimamente a conhecia, fisicamente impossível.”


Os cépticos poderão objetar que na obscuridade não é fácil explicar-se fatos e, sobretudo, o modo pelo qual eles se produzem; que, seja qual for a confiança que se possa ter no médium, esses fatos extraordinários têm necessidade de um exame ainda mais rigoroso.


Para satisfazer essa exigência, eis aqui outros atestados referidos por Crookes:


“Em uma ocasião, vi uma cadeira, na qual uma senhora estava sentada, elevar-se várias polegadas acima do solo. Outra vez, para desviar toda suspeita de que essa suspensão fosse produzida por essa senhora, ela ajoelhou-se na cadeira, de forma tal que os quatro pés eram visíveis para nós. Então, ela elevou-se cerca de três polegadas, conservou-se suspensa durante dez segundos, pouco mais ou menos, e, em seguida, desceu lentamente. Ainda em outra ocasião, duas crianças, em dois casos diferentes, elevaram-se do solo com sua cadeira, em pleno dia e nas mais satisfatórias condições (para mim), porque eu estava de joelhos, e não perdia de vista os pés da cadeira, notando bem que ninguém podia tocá-los.


Os casos de levitação mais frisantes de que tenho sido testemunha realizaram-se com Home. Em três circunstâncias diferentes, vi esse médium elevar-se completamente acima do soalho do aposento. Na primeira vez ele estava sentado numa espreguiçadeira; na segunda estava de joelhos na cadeira; e na terceira estava de pé. Em todas as ocasiões, tive o maior cuidado de observar o fato no momento em que ele se produzia.”


O mesmo autor narra que o Conde de Duraven, Lord Lindsay e o Capitão C. Wyne afirmaram-lhe que foram, muitas e repetidas vezes, testemunhas de fatos semelhantes; podíamos, por conseguinte, inscrever esse gênero de fenômeno no ativo da força psíquica.


O Sr. de Rochas, diretor da Escola Politécnica de Paris, cita ainda muitos exemplos de levitação em sua notável obra: Les Forces non Définies.


Em virtude de todas essas precauções contra a fraude, devemos concluir que, se a mesa se move ou se um médium se eleva no ar é isso devido à ação de uma força ainda pouco conhecida. Essa força é originada dos movimentos musculares conscientes ou inconscientes: ela emana do organismo do médium, mas não está submetida à sua vontade.


Um estudo mais atento vai revelar-nos propriedades novas dessa força.



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