Bibliografia Léon Denis


Léon Denis


1846 - 1927


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Um sucessor e propagador da Doutrina codificada por Kardec


Léon Denis (lê-se Deni) nasceu num lugarejo chamado Foug, situado nos arredores de Toul, na França, em 01/01/1846. Sua casa era humilde, assim como os pais Josephine (que era materialista) e Ana Lúcia Denis (que era espírita).


Cedo conheceu, por necessidade, os trabalhos manuais e os pesados encargos da família.


Desde os seus primeiros passos neste mundo, sentiu que os amigos invisíveis o au-xiliavam. Ao invés de participar de brincadeiras próprias da juventude, procurava ins-truir-se o mais possível. Lia obras sérias, conseguindo, assim com esforço próprio de-senvolver sua inteligência. Era um autodidata sério e competente.


Jamais desperdiçou um minuto sequer de seu tempo, com distrações frívolas, às quais a maior parte dos homens recorre para matar as horas.


Com 12 anos concluiu o curso primário, e a situação modesta de sua família não lhe permitiu grandes estudos. Desde cedo tinha problemas com sua saúde física - seus olhos principalmente


Tinha 16 anos quando salientou-se como um dos melhores oradores e dos mais ar-dentes propagandistas.


Com 18 anos tornou-se representante comercial, o que o obrigava a viajar constan-temente, e isto até quase envelhecer.


Denis adorava a música e sempre que podia assistia a uma ópera ou concerto. Gos-tava de dedilhar, ao piano, árias conhecidas, de tirar acordes para seu próprio devaneio.


Não fumava, era quase exclusivamente vegetariano e não fazia uso de bebidas fer-mentadas. Encontrava na água a bebida ideal.


Era seu hábito olhar, com interesse, para os livros expostos nas livrarias. Um dia, ainda com 18 anos, o chamado acaso fez com que sua atenção fosse despertada para uma obra de título inusitado. Esse livro era "O Livro dos Espíritos" de Allan Kardec. Dispondo do dinheiro necessário, comprou-o e, recolhendo-se imediatamente ao lar, en-tregou-se com avidez à leitura. O próprio Denis falou: "Nele encontrei a solução clara, completa, lógica, acerca do problema universal. Minha convicção tornou-se firme. A teo-ria espírita dissipou minha indiferença e minhas dúvidas". Seu espírito, nessa hora, sen-tiu-se sacudido em face dos compromissos assumidos no Espaço, para iniciar, em breve, o trabalho de propagação das verdades kardequianas. "Como tantos outros - disse ele -, procurava provas, fatos precisos, de modo a apoiar minha fé, mas esses fatos demora-ram muito a vir. A princípio insignificantes, contraditórios, mesclados de fraudes e mis-tificações, que não me satisfizeram, a ponto de, por vezes, pensar em não mais prosse-guir em minhas investigações, mas, sustentado, como estava, por uma teoria sólida e de princípios elevados, não desanimei. Parece que o Invisível deseja experimentar-nos, me-dir nosso grau de perseverança, exigir certa maturidade de espírito antes de entregar-nos a seus segredos".


Encontrava-se em seus trabalhos de experimentações, quando importante aconte-cimento se verificou em sua vida. Allan Kardec viera passar alguns dias na pacata cida-de de Tours, com seus amigos; todos os espíritas turenses foram convidados a recebê-lo e saudá-lo.


Em 1880, pelas cidades e vilas que percorria, por força de seus afazeres, pronunci-ava conferências e fundava círculos e bibliotecas populares.


É incalculável o número de conferências por ele proferidas na França, no propósito de propagar a Liga de Ensino, fundada por Jean Macé.


O ano de 1882 marca, em realidade, o início de seu apostolado, no qual teve que en-frentar sucessivos obstáculos: o materialismo e o positivismo que olham para o Espiri-tismo com ironia e risadas; os crentes das demais correntes religiosas que não hesitam em se aliar com os ateus, para ridicularizá-lo e enfraquecê-lo. Mas Denis, porém, como bom paladino, enfrenta a tempestade. Os companheiros invisíveis colocam-se ao seu la-do para encorajá-lo e exortá-lo à luta.


"Coragem, amigo, diz-lhe o Espírito de Jeanne, estaremos sempre contigo para te sustentar e inspirar. Jamais estarás só. Meios ser-te-ão dados, em tempo, para bem cumprires a tua obra".


Em 2 de novembro de 1882, dia dos Mortos, que um evento de capital importância se produziu e sua vida: a manifestação, pela primeira vez, daquele Espírito que, durante meio século, havia de ser seu guia, seu melhor amigo, seu pai espiritual - Jerônimo de Praga -, e que lhe disse: "Vai, meu filho, pela estrada aberta diante de ti; caminharei atrás de ti para te sustentar". E como Léon Denis indagasse se seu estado de saúde o permitiria estar à altura da tarefa, recebeu esta outra afirmativa: "Coragem, a recompen-sa será mais bela!".


A partir de 1884, achou conveniente fazer palestras visando à maior difusão das idéias espíritas. Escreveu, em 1885, o trabalho "O Porque da Vida" em que explica com nitidez e simplicidade o que é o Espiritismo.


Em 1892, recebeu um convite da Duquesa de Pomar, para falar de Espiritismo em sua residência, numa dessas manhãs célebres, em que se reunia quase toda Paris. Ele fi-cou indeciso, temeroso. Depois de muito meditar, pesando as responsabilidades, aceitou o convite.


O êxito de seu livro "Depois da Morte" situara-o como escritor de primeira ordem. Os grandes jornais e revistas ecléticas o solicitavam; as tiragens sucessivas desse livro esgotavam-se rapidamente.


Eis a notícia publicada por "Le Journal", de Paris, acerca da reunião na casa da du-quesa: "A reunião de ontem, foi uma das mais elegantes, ouvindo-se a conferência de Léon Denis sobre a Doutrina Espírita. De uma eloqüência muito literária, o orador sou-be encantar o numeroso auditório, falando-lhe do destino da alma, que pode, diz ele, re-encarnará até sua perfeita depuração. Ele possui a alma de um Bossuet, soube criar um entusiasmo espiritualista!".


A principal obra literária de Denis foi a concernente ao Espiritismo, mas escreveu, outrossim, segundo o testemunho de Henri Sausse, várias outras, como: "Tunísia", "Progresso", "Ilha de Sardenha", etc.


A partir de 1910, a visão de Léon Denis foi, dia-a-dia, enfraquecendo-se. A opera-ção a que se submeteu, dois anos antes, não lhe proporcionara nenhuma melhora. Su-portava, com calma e resignação, a marcha implacável desse mal que o castigava desde a juventude. Tudo aceitava com estoicismo e resignação. Jamais o viram queixar-se. To-davia, bem podemos avaliar quão grande lhe devia ser o sofrimento


Mantinha volumosa correspondência. Jamais se aborrecia, amava a juventude, a alegria da alma. Era inimigo da tristeza.


O mal físico, para ele, devia ser bem menor do que a angústia que experimentava pelo fato de não mais poder manejar a pena. Secretarias ocasionais a substituíam nesse ofício; no entanto a grande dificuldade para Denis consistia em rever e corrigir as novas edições de seus livros e de seus escritos. Graças, porém, ao seu Espírito de ordem, à sua incomparável memória, superava todos esses contratempos sem molestar ou importunar os amigos.


Depois da morte de sua genitora, uma empregada cuidava de sua pequena habita-ção. Ele só exigia uma coisa: a do absoluto respeito às suas numerosas notas manuscri-tas, as quais ele arrumava com meticulosa precaução. E foi justamente por causa dessa sua velha mania que a Duquesa de Pomar o denominara de "o homem dos pequenos pa-péis".


Em 1911, após despender não pequeno esforço no preparo da nova edição de "O Problema do Ser, do Destino e da Dor", caiu gravemente enfermo. O tratamento enérgico de seu médico, para a pneumonia, pô-lo de pé em curto lapso de tempo.


Grande e profunda dor estava para ele reservada. Veio guerra de 1914 e seu Espíri-to se condoia ao ver partir para o front a maioria de seus amigos.


Léon padecia, então, de uma doença intestinal e estava parcialmente cego.


Pela incorporação, seus amigos do Espaço e, entre eles, um Espírito eminente, co-municavam-lhe, de tempos em tempos, suas opiniões sobre essa terrível guerra, conside-rada, em seus dois aspectos, visível e oculto.


Essas práticas levaram-no a escrever certo número de artigos, por ele publicados na "Revue Spirite", na "Revue Suisse des Sciences Psychiques" e no "Echo FidŠle d'un De-mi-SiŠcle". Através desses artigos, Léon Denis extravasou todo o seu grande amor pela terra em que nasceu, dentro da lei de causa e efeito.


Quando a guerra aproximava-se de seu fim, a "Revue Spirite" passou a publicar, em todos os seus números, artigos de Léon Denis.


Após a guerra de 1914, aprendeu braile, o que o permitiu ficar atualizado e fixar sobre o papel, por meio de grille (impressão em braile), os elementos de capítulos ou ar-tigos que lhe vinham ao Espírito, pois, já nesta época de sua vida, estava, por assim di-zer, quase cego.


Em 1915 iniciava ele nova série de artigos repassados de poesia profunda e serena, sobre a "voz das coisas", preconizando o retorno "à natureza".


Nesta época uma forte vento soprava contra e kardequianismo. O fenomenismo metapsiquista espalhava, aos quatro ventos, a doutrina do filosófico puro. O Sr. P. Heuz‚ fazia muito barulho através de "L'Opinion", com suas entrevistas e comentários tendenciosos. Afirmava, prematuramente, que, à medida que a metapsíquica fosse avan-çando, o Espiritismo, iria, pari passu, perdendo terreno. Sua profecia, no entanto, ainda não se realizou.


Após a vigorosa resposta do Sr. Jean Meyer, pela "Revue Spirite", Léon Denis, por sua vez, entrou na discussão, na qualidade de presidente de honra da União Espírita Francesa, em carta endereçada ao "Matin", na qual estabelecia, com admirável nitidez, a diferença existente entre o Espiritismo e o Metapsiquismo.


A partir desse momento, Léon Denis teve que exercer grande atividade jornalística para responder às críticas e ataques de altos membros da Igreja Católica, saindo-se, co-mo era de esperar-se, de maneira brilhante.


Dentre as suas múltiplas ocupações, foi presidente de honra da União Espírita Francesa, membro honorário da Federação Espírita Internacional, Presidente do Con-gresso Espiritista Internacional, realizado em Paris, no ano de 1925. Dirigiu por muitos anos um grupo experimental de Espiritismo, na cidade de Tours.


Enquanto o Codificador exerceu suas nobilitantes atividades na própria capital francesa, Léon Denis desempenhou a sua dignificante tarefa na província, ou pelo interi-or do país.


Em março de 1927, com 81 anos de idade, terminara o manuscrito que intitulou: "O Gênio Céltico e o Mundo Invisível", e neste mesmo mês a "Revue Spirite" publicava o seu derradeiro artigo.


Terça-feira, 12 de março de 1927, lá pelas 13 horas, respirava Denis com grande di-ficuldade; a pneumonia o atacava outra vez. A vida parecia abandoná-lo, mas seu estado de lucidez era perfeito. Suas últimas palavras, pronunciadas com extraordinária calma, mas com muita dificuldade, foram dirigidas à empregada Georgette: "É preciso terminar, resumir e... concluir". (fazia alusão ao prefácio da nova edição biográfica de Kardec). Neste exato momento, faltaram-lhe completamente as forças para que pudesse articular outras palavras. As 21:00 horas seu Espírito alou-se. Seu semblante parecia ainda em êxtase.


As cerimônias fúnebres realizaram-se a 16 de abril. A seu pedido, o enterro foi modesto, sem ofício de qualquer igreja confessional. Está sepultado no cemitério de La Sal-le, em Tours.


Autores Espíritas Clásicos


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