Capítulo 58: Conclusão


 


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Em todos os tempos, luzeiros da verdade têm baixado à Humanidade; todas as religiões têm tido o seu quinhão, mas as paixões e os interesses materiais bem depressa velaram e desnaturaram seus ensinos; o dogmatismo, a opressão religiosa e os abusos de toda espécie levaram o homem à indiferença e ao cepticismo. O materialismo espalhou-se por toda parte, afrouxando os caracteres, alterando as consciências.


Mas a voz dos Espíritos, a voz dos mortos fez-se ouvir: a Verdade surgiu novamente da sombra, mais bela, mais brilhante que nunca. A voz disse: Morre para renasceres, para te engrandeceres, para te elevares pela luta e pelo sofrimento! A morte não é mais um motivo de terror, pois, atrás dela, vemos a ressurreição! Assim nasceu o Espiritismo. Conjuntamente ciência experimental, filosofia e moral, ele traz-nos uma concepção geral do mundo dos fatos e das causas, concepção mais vasta, mais esclarecida, mais completa que todas as que a precederam.


O Espiritismo esclarece o passado, ilumina as antigas doutrinas espiritualistas e liga sistemas aparentemente contraditórios. Abre perspectivas novas à Humanidade. Iniciando-a nos mistérios da vida futura e do mundo invisível, mostra-lhe sua verdadeira situação no Universo; faz-lhe conhecer sua dupla natureza – corporal e espiritual – e descortina-lhe horizontes infinitos.


De todos os sistemas, este é o único que fornece a prova real da sobrevivência do ser e indica os meios de nos correspondermos com aqueles a quem chamamos, impropriamente, mortos. Por ele podemos ainda conversar com esses que amamos sobre a Terra e que acreditávamos perdidos para sempre; podemos receber seus ensinamentos, seus conselhos, aprendendo a desenvolver, pelo exercício, esses meios de comunicação.


O Espiritismo revela-nos a lei moral, traça o nosso modo de conduta e tende a aproximar os homens pela fraternidade, solidariedade e comunhão de vistas. Indica a todos um alvo mais digno e mais elevado que o perseguido até então. Traz consigo o novo objetivo da prece, uma necessidade de amar, de trabalhar pelo benefício alheio, de enobrecer-nos a inteligência e o coração.


A doutrina dos Espíritos, nascida em meado do século 19, já se espalhou por toda a superfície do globo. Muitos preconceitos, interesses e erros retardam-lhe ainda a marcha, mas esta pode esperar, pois o futuro lhe pertence. É forte, paciente, tolerante e respeita a vontade dos homens. É progressiva e vive da ciência e da liberdade. É desinteressada e não tem outra ambição que não seja a de fazer os homens felizes, tornando-os melhores. Traz a todos a calma, a confiança, a firmeza na prova. Muitas religiões, muitas filosofias se têm sucedido através das idades; jamais, porém, a Humanidade ouviu tão poderosas solicitações para o bem; jamais conheceu doutrina mais racional, mais confortante, mais moralizadora. Com a sua vinda, as aspirações incertas, as vagas esperanças desapareceram. Não mais se trata dos sonhos de um misticismo doentio, nem dos mitos gerados pelas crenças supersticiosas; é a própria realidade que se revela, é a afirmação viril das almas que deixaram a Terra e que se comunicam conosco. Vitoriosas da morte, pairam na luz, acima do mundo, que seguem e guiam por entre as suas perpétuas transformações.


Esclarecidos por elas, conscientes do nosso dever e dos nossos destinos, avancemos resolutamente no caminho traçado. Não é mais o círculo estreito, sombrio e insulado que a maior parte dos homens acreditava ver; para nós, esse círculo distende-se a ponto de abraçar o passado e o futuro, ligando-os ao presente para formar uma unidade permanente, indissolúvel. Nada perece. A vida apenas muda de formas. O túmulo conduz-nos ao berço, mas, tanto de um como de outro lado, elevam-se vozes que nos recordam a imortalidade.


Perpetuidade da vida, solidariedade eterna das gerações, justiça, igualdade, ascensão e progresso para todos, tais são os princípios da nova fé, e esses princípios apóiam-se no inabalável método experimental.


Podem os adversários desta doutrina oferecer coisa melhor à Humanidade? Podem, com mais eficiência, acalmar-lhe as angústias, curar-lhe as chagas, conceder-lhe esperanças mais doces e convicções mais fortes? Se podem, que o digam, que forneçam a prova de suas asserções. Mas, se persistem em opor afirmações desmentidas pelos fatos, se, em substituição, apenas oferecem o inferno ou o nada, estamos no direito de repelir com energia seus anátemas e sofismas.


*


Vinde saciar-vos nesta fonte celeste, vós todos que sofreis, vós todos que tendes sede da verdade. Ela verterá em vossa alma o frescor e a regeneração. Vivificados por ela, sustentareis mais animadamente os combates da existência; sabereis viver e morrer dignamente.


Observai com assiduidade os fenômenos sobre os quais repousam estes ensinos, mas não façais deles um divertimento. Refleti que é muito sério o fato de nos comunicarmos com os mortos, de receber deles a solução dos grandes problemas. Considerai que esses fenômenos vão suscitar maior revolução moral do que as que têm sido registradas pela História, abrindo a todos os povos a perspectiva ignorada das vidas futuras. Aquilo que, para milhares de gerações, para a imensa maioria dos homens que nos precederam tinha sido uma hipótese, torna-se, agora, uma realidade. Tal revelação tem direito à vossa atenção e ao vosso respeito. Utilizai-a somente com critério, para vosso bem e dos vossos semelhantes.


Nessas condições, os Espíritos elevados assistir-vos-ão; mas, se vos servirdes do Espiritismo para frivolidades, sabei que vos tornareis presa inevitável dos Espíritos enganadores, vítima dos seus embustes e das suas mistificações.


E tu, meu irmão, meu amigo, que recebeste estas verdades no teu coração e que lhes conheces o valor, permita-me um derradeiro apelo, uma última exortação.


Lembra-te de que a vida é curta. Enquanto ela durar, esforça-te por adquirir o que vieste procurar neste mundo: o verdadeiro aperfeiçoamento. Possa teu ser espiritual daqui sair melhor e mais puro do que quando entrou! Acautela-te das armadilhas da carne; reflete que a Terra é um campo de batalha onde a alma é a todo o momento assaltada pela matéria e pelos sentidos. Luta corajosamente contra as paixões vis; luta pelo espírito e pelo coração; corrige teus defeitos, adoça teu caráter, fortifica tua vontade. Eleva-te, pelo pensamento, acima das vulgaridades terrestres; dilata as tuas aspirações sobre o céu luminoso.


Lembra-te de que tudo o que for material é efêmero. As gerações passam como vagas do mar, os impérios esboroam-se, os próprios mundos perecem, os sóis extinguem-se; tudo foge, tudo se dissipa. Mas há duas coisas que vêm de Deus e que são imutáveis como Ele, duas coisas que resplandecem acima da miragem das glórias mundanas: são a Sabedoria e a Virtude. Conquista-as por teus esforços e, alcançando-as, elevar-te-ás acima do que é passageiro e transitório, para só gozares o que é eterno.


 


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