Capítulo 26: Perigos do Espiritismo


 


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Querendo certos experimentadores do Espiritismo, com o intuito de verificação, fixar as condições de produção dos fenômenos, acumular os obstáculos e as exigências, nenhum resultado satisfatório obtiveram e, desde então, tornaram-se hostis a essa ordem de fatos.


Devemos lembrar que as manifestações dos Espíritos não poderiam ser assemelhadas às experiências de Física e de Química.


Ainda assim, estão estas submetidas a regras fixas, fora das quais todo resultado é impossível. Nas comunicações espíritas, achamo-nos diante não mais de forças cegas, porém de seres inteligentes, dotados de vontade e de liberdade, que, não raro, lêem em nós, discernem nossas intenções malévolas e, se são de ordem elevada, cuidam pouco de se prestarem às nossas fantasias.


O estudo do mundo invisível exige muita prudência e perseverança. Somente ao fim de muitos anos de reflexão e de observação é que se adquire o conhecimento da vida, é que se aprende a julgar os homens, a discernir o seu caráter, a resguardar-se dos embustes de que está semeado o mundo. Mais difícil ainda de obter é o conhecimento da Humanidade invisível que nos cerca e paira acima de nós. O Espírito desencarnado acha-se, além da morte, tal como ele próprio se fez durante sua estada neste mundo. Nem melhor nem pior. Para domar uma paixão, corrigir uma falta, atenuar um vício é, algumas vezes, necessária mais de uma existência. Daí resulta que, na multidão dos Espíritos, os caracteres sérios e refletidos estão, como na Terra, em minoria e os Espíritos levianos, amantes de coisas pueris e vãs, formam numerosas legiões. O mundo invisível é, pois, em mais vasta escala, a reprodução do mundo terrestre. Lá, como aqui, a verdade e a Ciência não são partilha de todos. A superioridade intelectual e moral só se obtém por um trabalho lento e contínuo, pela acumulação de progressos realizados no curso de longa série de séculos.


Sabemos, entretanto, que esse mundo oculto reage constantemente sobre o mundo corpóreo. Os mortos influenciam os vivos, os guiam e inspiram à vontade. Os Espíritos atraem-se em razão de suas afinidades. Os que despiram as vestes carnais assistem os que ainda estão com elas. Estimulam-nos no caminho do bem; porém, mais vezes ainda, nos impelem ao do mal.


Os Espíritos superiores só se manifestam nos casos em que sua presença é útil e pode facilitar o nosso melhoramento. Fogem das reuniões bulhentas e só se dirigem a homens animados de intenções puras. Pouco lhes convêm as nossas regiões obscuras. Desde que podem, voltam para os meios menos carregados de fluidos grosseiros, mas, apesar da distância, não cessam de velar pelos seus protegidos.


Os Espíritos inferiores, incapazes de aspirações elevadas, comprazem-se em nossa atmosfera. Mesclam-se em nossa vida e, preocupados unicamente com o que cativava seu pensamento durante a existência corpórea, participam dos prazeres e trabalhos daqueles aos quais se sentem unidos por analogias de caráter ou de hábitos. Algumas vezes mesmo, dominam e subjugam as pessoas fracas que não sabem resistir às suas influências. Em certos casos, seu império torna-se tal que podem impelir suas vítimas ao crime e à loucura. É nesses casos de obsessão e possessão, mais comuns do que se pensa, que encontramos a explicação de numerosos fatos relatados pela História.


Há perigo para quem se entrega sem reservas às experimentações espíritas. O homem de coração reto, de razão esclarecida e madura, pode daí recolher consolações inefáveis e preciosos ensinos. Mas aquele que só fosse inspirado pelo interesse material ou que só visse nesses fatos um divertimento frívolo tornar-se-ia fatalmente o objeto de uma infinidade de mistificações, joguete de Espíritos pérfidos que, lisonjeando suas inclinações, seduzindo-o por brilhantes promessas, captariam sua confiança, para, depois, acabrunhá-lo com decepções e zombarias.


É, portanto, necessária uma grande prudência para se entrar em relação com o mundo invisível. O bem e o mal, a verdade e o erro nele se misturam e, para distingui-los, cumpre passar todas as revelações, todos os ensinos pelo crivo de um julgamento severo. Nesse terreno ninguém deve aventurar-se senão passo a passo, tendo nas mãos o facho da razão. Para expelir as más influências, para afastar a horda dos Espíritos levianos ou maléficos, basta tornar-se senhor de si mesmo, jamais abdicar o direito de verificação e de exame; é bastante procurar, acima de tudo, os meios de se aperfeiçoar no conhecimento das leis superiores e na prática das virtudes. Aquele cuja vida for reta e que procure a verdade com o coração sincero nenhum perigo tem a temer. Os Espíritos de luz distinguem, vêem suas intenções, e assistem-no. Os Espíritos enganadores e mentirosos afastam-se do justo, como um exército diante de uma cidadela bem defendida. Os obsessores atacam de preferência os homens levianos que descuram das questões morais e que em tudo procuram o prazer ou o interesse.


Laços cuja origem remonta às existências anteriores unem quase sempre os obsidiados aos seus perseguidores invisíveis. A morte não apaga as nossas faltas nem nos livra dos inimigos. Nossas iniqüidades recaem, através dos séculos, sobre nós mesmos e aqueles que as sofreram perseguem-nos, às vezes, com seu ódio e vingança, de além-túmulo. Assim o permite a justiça soberana. Tudo se resgata, tudo se expia. O que, nos casos de obsessão e de possessão, parece anormal, iníquo, muitas vezes não é, senão, a conseqüência das espoliações e das infâmias praticadas no obscuro passado.


 


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