Capítulo 24: Conseqüências Filosóficas e Morais


 


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Os fatos espíritas são ricos em conseqüências filosóficas e morais. Trazem a solução, tão clara como completa, dos maiores problemas suscitados, através dos séculos, pelos sábios e pelos pensadores de todos os países: o problema da nossa natureza íntima, tão misteriosa, tão pouco conhecida, e o problema dos nossos destinos. A imortalidade, que até então não passava de uma esperança, de uma intuição da alma, de aspiração vaga e incerta para um estado melhor, de agora em diante está provada; bem assim a comunhão dos vivos com aqueles a quem julgavam mortos, o que é sua conseqüência lógica.


Não mais é possível a dúvida. O homem é imortal. A morte é mera transformação. Desse fato e do ensino dos Espíritos deduz-se ainda a certeza da pluralidade de nossas existências terrestres.


Essa evolução do ser através de suas vidas renovadas, sendo ele próprio o edificador do seu futuro, construindo-se todos os dias a si mesmo, por seus atos, quer no selo do abismo quer no desabrochamento das humanidades felizes, essa identidade de todos, nas origens como nos fins, esse aperfeiçoamento gradual, fruto do cumprimento de deveres no trabalho e nas provações, tudo isso nos mostra os princípios eternos de justiça, de ordem, de progresso que reinam nos mundos, regulando o destino das almas, segundo leis sábias, profundas, universais.


O Espiritismo é, pois, simultaneamente, uma filosofia moral e uma ciência positiva. Ao mesmo tempo, pode satisfazer ao coração e à razão. Apresentou-se ao mundo no momento preciso, quando as concepções religiosas do passado se deslocavam de suas bases, quando a Humanidade, tendo perdido a fé ingênua dos velhos tempos, corroída pelo cepticismo, errava no vácuo, sem bússola, e, tateando como cega, procurava o caminho. O evento do Espiritismo é, ninguém se engane, um dos maiores acontecimentos da história do mundo. Há dezoito séculos, sobre as ruínas do Paganismo agonizante, no seio de uma sociedade corrompida, o Cristianismo, pela voz dos mais humildes e dos mais desprezados, trazia, com moral e fé novas, a revelação de dois princípios até aí ignorados pelas multidões: a caridade e a fraternidade humana. Assim hoje, em face das doutrinas religiosas enfraquecidas, petrificadas pelo interesse material, impotentes para esclarecer o Espírito humano, ergueu-se uma filosofia racional, trazendo em si o germe de uma transformação social, um meio de regenerar a Humanidade, de libertá-la dos elementos de decomposição que a esterilizam e enodoam. Vem oferecer uma base sólida à fé, uma sanção à moral, um estimulante à virtude. Faz do progresso o alvo da vida e a lei superior do Universo.


Acaba com o reinado do favoritismo, do arbitrário e da superstição, mostrando na elevação dos seres o resultado de seus próprios esforços. Ensinando que uma igualdade absoluta e uma solidariedade íntima ligam os homens através das suas vidas coletivas, ela golpeia vigorosamente o orgulho e o egoísmo, esses dois monstros que, até então, nada havia podido domar ou submeter.


 


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