Capítulo 23: A Evolução Perispiritual


 


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As relações seculares entre os Espíritos e os homens, confirmadas, explicadas pelas recentes experiências do Espiritismo, demonstram a sobrevivência do ser sob uma forma fluídica mais perfeita.


Essa forma indestrutível, companheira e serva da alma, testemunho de suas lutas e de seus sofrimentos, participa de suas peregrinações, eleva-se e purifica-se com ela. Gerado nos últimos degraus da animalidade, o ser perispiritual sobe lentamente a escala das espécies, impregnando-se dos instintos das feras, das astúcias dos felinos, e também das qualidades, das tendências generosas dos animais superiores. Até então mais não é que um ser rudimentar, um esboço incompleto. Chegando à Humanidade, começa a ter sentimentos mais elevados; o espírito irradia com maior vigor e o perispírito ilumina-se com claridades novas. De vidas em vidas, à proporção que as faculdades se dilatam, que as aspirações se depuram, que o campo dos conhecimentos se alarga, ele se enriquece com sentidos novos. Como a borboleta que sai da crisálida, assim também o corpo espiritual desprende-se de seus andrajos de carne, sempre que uma encarnação termina. A alma, inteira e livre, retoma posse de si mesma e, considerando, em seu aspecto esplêndido ou miserável, o manto fluídico que a cobre, verifica seu próprio estado de adiantamento.


Como o carvalho que guarda em si os sinais de seus desenvolvimentos anuais, assim também o perispírito conserva, sob suas aparências presentes, os vestígios das vidas anteriores, dos estados sucessivamente percorridos. Esses vestígios repousam em nós muitas vezes esquecidos; porém, desde que a alma os evoca, desperta a sua recordação, eles reaparecem, com outras tantas testemunhas, balizando o caminho longa e penosamente percorrido.


Os Espíritos atrasados têm envoltórios impregnados de fluidos materiais. Sentem ainda depois da morte as impressões e as necessidades da vida terrestre. A fome, o frio e a dor subsistem entre aqueles que são mais grosseiros. Seu organismo fluídico, obscurecido pelas paixões, só pode vibrar fracamente e, portanto, suas percepções são mais restritas. Nada sabem da vida do espaço. Em si e ao seu redor tudo são trevas.


A alma pura, livre das atrações bestiais, conforma um perispírito semelhante a si própria. Quanto mais sutil for esse perispírito, tanto maior força expenderá, tanto mais se dilatarão suas percepções. Participa de meios de existência de que apenas podemos fazer uma idéia; inebria-se dos gozos da vida superior, das magníficas harmonias do infinito. Tal é a tarefa e a recompensa do Espírito humano. Por seus longos trabalhos, ele deve criar para si novos sentidos, de uma delicadeza e de uma força sem limites; domar as paixões brutais, transformar esse espesso invólucro numa forma diáfana, resplandecente de luz; eis a obra destinada a todos em geral, e em que todos necessitam prosseguir, através de degraus inumeráveis, na perspectiva maravilhosa que os mundos oferecem.


 


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