Capítulo 16: Matéria e Força - Princípio Único das Coisas



   


Até aqui a matéria só era conhecida sob os três estados: sólido, líquido e gasoso. Crookes, o sábio físico inglês, procurando fazer o vácuo em tubos de vidro, descobriu um quarto estado, a que chamou radiante. Os átomos, restituídos à liberdade pela rarefação, entregam-se, nesse vácuo relativo, a movimentos vibratórios de uma rapidez, de uma violência incalculáveis. Inflamam-se e produzem efeitos de luz, radiações elétricas que permitem explicar a maior parte dos fenômenos cósmicos.


Condensada em graus diversos sob seus primeiros aspectos, a matéria perde, no estado radiante, várias propriedades: densidade, forma, cor, peso; mas, neste novo domínio, parece estar, de maneira muito mais íntima, unida à força. Este quarto estado será o último que a matéria pode revestir? Não, sem dúvida, porque podemos imaginar muitos outros ou entrever pelo pensamento um estado fluídico e sutil, tão superior ao radiante quanto este ao gasoso, e o estado líquido ao sólido. A Ciência do futuro, explorando essas profundezas, encontrará a solução dos problemas maravilhosos da unidade de substância e das forças diretoras do Universo.


A unidade de substância já é prevista, admitida pela maior parte dos sábios. A matéria, nós o dissemos, parece ser, em seu princípio, um fluido de sutileza, de elasticidade infinitas, cujas inumeráveis combinações dão origem a todos os corpos. Invisível, imperceptível, impalpável, esse fluido, em sua essência primordial, torna-se, por transições sucessivas, ponderável e chega a produzir, por condensação poderosa, os corpos duros, opacos e pesados que constituem o caráter da matéria terrestre. Essa condensação é, porém, transitória e a matéria, tornando a subir a escala de suas transformações, facilmente se desagregará e voltará ao seu estado fluídico primitivo. Eis por que a existência dos mundos é passageira. Saídos dos oceanos do éter, aí tornam a mergulhar e a dissolver-se, depois de percorrido o seu ciclo de vida. Pode-se afirmar que, na Natureza, tudo converge para a unidade. A análise espectral revela a identidade dos elementos constitutivos do Universo, desde o mais humilde satélite até o sol mais gigantesco. O deslocamento dos corpos celestes mostra a unidade das leis mecânicas. O estudo dos fenômenos materiais, como uma cadeia infinita, conduz-nos, gradativamente, à concepção de uma substância única, etérea, universal, e de uma força igualmente única, princípio de movimento, da qual a eletricidade, a luz e o calor não são mais que variedades, modalidades, formas diversas.(lxxx)


É assim que, em sua marcha paralela, a Química, a Física e a Mecânica verificam cada vez mais a coordenação misteriosa das coisas. O Espírito humano encaminha-se com lentidão, algumas vezes mesmo inconscientemente, para o conhecimento de um princípio único fundamental, em que se unam a substância, a força e o pensamento, de uma potência cuja grandeza e majestade o encherão algum dia de surpresa e admiração.