Nota 12


Os fenômenos espíritas contemporâneos; provas da identidade dos Espíritos

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Graças ao espiritualismo experimental, o problema da sobrevivência, cujas consequências morais e filosóficas são incalculáveis, recebeu uma solução definitiva. A alma se tornou objetiva, por vezes tangível; a sua existência se revelou, depois da morte como durante a vida, mediante manifestações de toda ordem.


Ao começo não ofereciam os fenômenos físicos mais que uma insuficiente base de argumentação; mas depois os fatos revestiram um caráter inteligente e se acentuaram a ponto de tornar-se impossível qualquer contestação.


Foi mediante provas positivas que a questão da existência da alma e sua imortalidade ficou resolvida. Fotografaram-se as radiações do pensamento; o Espírito, revestido de seu corpo fluídico, do seu invólucro imperecível, aparece na placa sensível. A sua existência se tornou tão evidente como a do corpo físico.


A identidade dos Espíritos acha-se estabelecida por inúmeros fatos. Acreditamos dever mencionar alguns deles:


O Sr. Oxon (aliás Stainton Moses), professor da Universidade de Oxford, em seu livro Spirit Identity, refere o caso em que a mesa faz uma longa e circunstanciada narrativa da morte, com a menção da idade, até ao número de meses, e os nomes familiares (quatro quanto a um deles e três quanto a outro), de três criancinhas, filhas de um mesmo pai, que haviam sido subitamente arrebatadas pela morte. “Nenhum de nós tinha conhecimento desses nomes pouco comuns. Elas tinham morrido na Índia, e quando nos foi ditada a comunicação, não dispúnhamos de meio algum aparente de verificação.” Essa revelação foi, todavia, verificada e, mais tarde, reconhecida exata pelo testemunho da mãe dessas crianças, que o Sr. Oxon veio a conhecer ulteriormente.


O mesmo autor cita o caso de um certo Abraão Florentino, falecido nos Estados Unidos, inteiramente desconhecido dos experimentadores e cuja identidade foi rigorosamente comprovada.


A história de Siegwart Lekebusch, jovem alfaiate que morreu esmagado por um trem de ferro, prova ainda que é contrário à verdade afirmar que as personalidades que se manifestam pela mesa são sempre conhecidas dos assistentes.


De acordo com Animismo e Espiritismo, de Aksakof, a identidade póstuma dos Espíritos se prova:


1- Por comunicações da personalidade na língua vernácula, desconhecida do médium (ver, página 538, o caso de Miss Edmonds, do Sr. Turner, de Miss Scongall e da senhora Corvin, que conversa com um assistente por meio de gestos conforme ao alfabeto dos surdos-mudos que no estado de vigília lhe era desconhecido).


2- Por meio de comunicações dadas no estilo característico do defunto, ou com expressões que lhe eram familiares, recebidas na ausência de pessoas que o tivessem conhecido (pág. 543): – terminação de um romance de Dickens, Edwin Drood, por um jovem operário iletrado, sem que seja possível reconhecer onde termina o manuscrito original e onde começa a comunicação mediúnica.


Ver também a história de Luiz XI, escrita pela senhorita Hermance Dufaux, aos catorze anos de idade (Revue Spirite, 1858). Essa história, muito documentada, contém ensinos até então inéditos.


3- Por fenômenos de escrita em que se reconhece a do defunto (pág. 345): – carta da Sra. Livermore, por ela mesma escrita depois de sua morte. Esse Espírito estabeleceu a sua identidade, mostrando-se, escrevendo e conversando como quando na Terra. Fato notável: o Espírito escreveu mesmo em francês, língua ignorada da médium, Kate Fox; – o caso em que o Sr. Owen obtém uma assinatura de Espírito que foi reconhecida idêntica por um banqueiro (ver Guldenstubbe, A Realidade dos Espíritos); – escrita direta de uma parenta do autor, reconhecida idêntica à sua ortografia durante a vida. (Esses fatos foram muitas vezes obtidos em nosso próprio círculo de experiências.)


4- Por comunicações que encerram um conjunto de particularidades relativas à vida do defunto e recebidas na ausência de qualquer pessoa que a tivesse conhecido (ver pág. 436). Com o concurso mediúnico da Sra. Conant, muitos Espíritos desconhecidos do médium foram identificados com pessoas que tinham vivido em diferentes países (pág. 559 e seguintes): o caso do velho Chamberlain, o de Violette, o de Robert Dale Owen etc.


5- Pela comunicação de fatos conhecidos unicamente pelo desencarnado e que só ele possa comunicar (ver pág. 466): o caso do filho do Dr. Davey, envenenado e roubado em pleno mar, fato em seguida reconhecido exato; – descoberta do testemunho do barão Korff; o Espírito Jack, que indica o que deve e o que lhe é devido etc.


6- Por comunicações que não são espontâneas, como as que precedem, mas provocadas por chamados diretos ao falecido e recebidas na ausência de pessoas que o tenham conhecido (ver pág. 585): resposta, por Espíritos, a cartas fechadas (médium Mansfield); – escrita direta dando resposta a uma pergunta ignorada pelo médium, Sr. Watkins.


7- Por comunicações recebidas na ausência de qualquer pessoa que houvesse conhecido o desencarnado, revelando certos estados psíquicos, ou provocando sensações físicas que lhe eram peculiares (pág. 597); – o Espírito de uma louca ainda perturbado, no espaço; o caso do Sr. Elias Pond, de Woonsoket etc.


(Esses fenômenos se produziram em número considerável de vezes nas sessões por nós mesmos dirigidas.)


8- Pela aparição da forma terrestre do desencarnado (pág. 605).


Os Espíritos se têm, às vezes, servido dos defeitos naturais de seu organismo material para fazerem-se reconhecer depois da desencarnação, reproduzindo, por meio de materialização, esses acidentes. Ora é a mão com dois dedos recurvados para a palma, em consequência de uma queimadura, ora o indicador dobrado na segunda falange etc.


Poderíamos alongar indefinidamente esta lista de identidade de Espíritos, de que um certo número de casos figura também em nosso livro No Invisível, capítulo XXI.


Julgamos dever acrescentar os três seguintes, que nos parecem característicos e são firmados em testemunhos importantes.


O primeiro, relatado por Myers em sua obra sobre a Consciência Subliminal, é concernente a uma pessoa muito conhecida do autor, o Sr. Brown, cuja perfeita sinceridade ele garante. Um dia esse senhor encontra um negro em quem reconhece um cafre; fala-lhe na língua do seu país e o convida a visitá-lo. Na ocasião em que esse preto africano se apresenta em sua casa, a família do Sr. Brown fazia experiências espíritas. Introduzido o visitante, indagam se haveria amigos seus presentes à sessão. Imediatamente a filha da família, que de cafre não conhecia nem uma palavra, escreve diversos nomes nessa língua. Lidos ao preto, provocam neste um vivo espanto. Vem depois uma mensagem escrita em língua cafre, cuja leitura ele compreende perfeitamente, com exceção de uma palavra desconhecida para o Sr. Brown.


Em vão a pronúncia este de vários modos: o visitante não lhe percebe o sentido. De repente escreve o médium: “Dá um estalo com a língua”. Então se recorda prontamente o Sr. Brown do estalo característico de língua que acompanha o som da letra t no alfabeto cafre. Pronúncia desse modo e logo se faz compreender.


Ignorando os cafres a arte de escrever, o Sr. Brown se admira de receber uma mensagem escrita. Foi-lhe respondido que essa mensagem fora ditada, a pedido dos amigos do cafre, por um amigo dele que falava correntemente essa língua. O negro parecia aterrado com o pensamento de que ali estivessem mortos, invisíveis.


O segundo caso é relativo à aparição de um Espírito, chamado Nefentes, na sessão realizada em Cristiânia na casa do professor E., servindo de médium a Sra. d'Esperance. O Espírito deu o molde da própria mão em parafina. Levando esse modelo oco a um profissional, para o reproduzir em relevo, causou a sua e a estupefação dos seus operários: bem compreendiam eles que mão humana o não pudera produzir, porque o teria quebrado ao ser retirada, e declararam que era coisa de feitiçaria.


Noutra ocasião escreveu Nefentes no canhenho do professor E. uns caracteres gregos. Traduzidos, no dia seguinte, do grego antigo para linguagem moderna, diziam essas palavras: “Eu sou Nefentes, tua amiga. Quando tua alma se sentir opressa por intensa dor, invoca-me, a mim Nefentes, e eu acudirei prontamente a aliviar-te os sofrimentos.”


O terceiro caso, finalmente, é atestado como autêntico pelo Sr. Chedo Mijatovitch, ministro plenipotenciário da Sérvia em Londres, e de nenhum modo espírita em 1908, data de sua comunicação ao Light. Solicitado por espíritas húngaros a entrar em relação com um médium, a fim de resolver certa questão relativa a um antigo soberano sérvio, morto em 1350, dirigiu-se ele à residência do Sr. Vango, de quem muito se falava nessa época e que ele jamais vira precedentemente. Adormecido, o médium anunciou a presença de um moço que muito desejava fazer-se ouvir, mas cuja língua não entendia. Acabou, todavia, reproduzindo algumas palavras, com a curiosa particularidade de começar cada uma delas pela última silaba, para em seguida, a repetir na ordem requerida, voltando à primeira, assim: “lim, molim; te, shite, pishite; liyi, taliyi Nataliyi etc.” Era sérvio, sendo esta a tradução:


“Peço-te que escrevas a minha mãe Natália e lhe diz que suplico o seu perdão.” O Espírito era o do jovem rei Alexandre. O Sr. Chedo Mijatovitch o pôs tanto menos em dúvida quanto não tardaram novas provas de identidade em vir juntar-se à primeira: descrição de sua aparência, pelo médium, e o seu pesar de não ter atendido a um conselho confidencial que, dois anos antes de seu assassínio, lhe havia dado o diplomata consultante. (Ver, em relação a estes três casos, os Annales des Sciences Psychiques, 12 e 16 janeiro 1910, pág. 7 e seguintes.)


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