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Nota 4


Sobre o sentido oculto dos Evangelhos


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Muitos dentre os padres da Igreja afirmam que os Evangelhos encerram um sentido oculto.


Orígenes diz:


“As Escrituras são de pouca utilidade para os que as tomem como foram escritas. A origem de muitos desacertos reside no fato de se apegarem à sua parte carnal e exterior.”


“Procuremos, pois, o espírito e os frutos substanciais da Palavra que são ocultos e misteriosos.”


O mesmo diz ainda:


“Há coisas que são referidas como histórias, que nunca se passaram e que eram impossíveis como fatos materiais, e outras que eram possíveis, mas que não se passaram.”


Tertuliano e Denis, o Areopagita, falam também de um esoterismo cristão.


Santo Hilário declara repetidas vezes que é necessário, para inteligência dos Evangelhos, supor-lhes um sentido oculto, uma interpretação espiritual.*


* Ver a esse respeito o prefácio dos Beneditinos ao comentário do Evangelho segundo S. Mateus. Obras de S. Hilário, cols. 599-600.


No mesmo sentido se externa Santo Agostinho:


“Nas obras e nos milagres de Nosso Salvador há ocultado mistérios que se não podem levianamente, e segundo a letra, interpretar sem cair em erro e incorrer em graves faltas.”


São Jerônimo, em sua Epístola a Paulino, declara com insistência:


“Toma cuidado, meu irmão, no rumo que seguires na Escritura Santa. Tudo o que lemos na Palavra santa é luminoso e por isso irradia exteriormente, mas a parte interior ainda é mais doce. Aquele que deseja comer o miolo deve quebrar a casca.”


Sobre esse mesmo assunto, animada controvérsia teológica se travou entre Bossuet e Fenelon. Afirmava este haver um sentido secreto das Escrituras, transmitido unicamente a iniciados, uma gnose católica vedada às pessoas vulgares. *


* Ver Júlio Blois, O mundo invisível, pág. 62.


De todas essas ocultas significações a primitiva Igreja possuía o sentido, mas dissimulava-o cuidadosamente; pouco a pouco veio ele a se perder.


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