Conclusão
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A observação dos fenômenos espíritas por um lado, os ensinos dos Espíritos por outro, nos patentearam as profundas verdades que constituem a base do cristianismo primitivo e de todas as grandes religiões do passado. Fez a luz sobre atos da vida do Cristo até agora envoltos em mistério. Ao mesmo tempo, revelou-se integralmente o pensamento de Jesus, a grandeza de sua obra foi posta em evidência.
Jesus não é um instituidor de dogmas, um criador de símbolos; é o iniciador do mundo no culto do sentimento, na religião do amor. Outros assentaram a crença sobre a ideia da justiça. A justiça não basta; são precisos o amor dos homens, a caridade, a paciência, a simplicidade e a mansidão. É por essas coisas que o Cristianismo é superior e imperecível, e que todos os que amam a Humanidade podem dizer-se cristãos, mesmo quando se achem divorciados da tradição de todas as igrejas.
A religião de Jesus não é exclusivista: une todas as almas crentes num vínculo comum; prende todos os seres que pensam, sentem, amam e sofrem num mesmo amplexo e uma só comunhão de amor. É a forma simples e sublime que vai direta ao coração, comove e engrandece o homem, franqueia-lhe as infinitas sendas do ideal. Esse ideal de amor e de fraternidade foram precisos dezenove séculos para ser compreendido, para que pudesse penetrar na consciência da Humanidade. Aí entrou ele pouco a pouco, sob os germes de todas as transformações sociais.
Assegurando a todos o direito de participar do “reino de Deus”, isto é, da luz e da verdade, Jesus preparou a regeneração da Humanidade; colocou os marcos da revelação futura. Fez entrever ao homem a extensão dos seus destinos, a possibilidade de se elevar até as esferas divinas, pelos caminhos da provação e da dor, pelas vias da fé e do trabalho.
Fez mais ainda o Cristo. Pelas manifestações de que era o centro e que continuaram depois de sua morte, ele havia aproximado as duas humanidades, a invisível e a visível, humanidades que se penetram, se vivificam, se completam mutuamente. A Igreja novamente as separou; despedaçou o vínculo que prendia os mortos aos vivos. Reduzida às suas próprias inspirações, abandonada a correntes de opiniões opostas, a todos os sopros das paixões, não mais soube discernir e interpretar a verdade. O pensamento de Jesus ficou velado; as trevas envolveram o mundo, trevas espessas como as da Idade Média, cuja influência ainda pesa sobre nós.
Mas, depois de séculos de silêncio, o mundo invisível se descerra; ilumina-se, agita-se até as suas maiores profundezas. As legiões do Cristo e o próprio Cristo estão em atividade. Soou a hora da nova dispensação.
Essa dispensação é o moderno espiritualismo. Ei-lo que se levanta com o feixe de suas descobertas, com a multidão dos seus testemunhos, com o ensino dos Espíritos. As colunas do templo que erige ao pensamento sobem pouco a pouco e erguem-se alterosas. Há trinta anos não passava de bem mesquinha construção. E – vede! – já é um edifício moral, sob cujas abóbadas milhões de almas têm encontrado asilo, no meio das procelas da existência. A multidão dos que gemem e sofrem volta para ele os seus olhares. Todos aqueles para quem a vida se tornou molesta, todos os que são assediados por sombrios desassossegos ou presas da desesperança, nele hão de encontrar consolação e amparo; aprenderão a lutar com bravura, a desdenhar a morte, a conquistar melhor futuro.
Os pensadores, os generosos Espíritos que trabalham pela Humanidade, nele encontrarão os meios de realizar o seu ideal de paz e de harmonia. Porque só uma fé viva, uma crença forte, consorciadora das almas, será capaz de preparar a harmonia universal. Pode já se prever que é o moderno espiritualismo que há de realizá-la. Ele fez mais para isso em cinquenta anos do que o Catolicismo em muitos séculos. Na hora atual, acha-se ele disseminado por todos os pontos do globo. Seus adeptos, cujo número se tornou incalculável, saúdam-se todos pelo nome de irmãos. Uma literatura considerável, centenas de jornais, federações, sociedades, são manifestações de sua crescente vitalidade.
Sólido por seu passado remotíssimo, que é o da Humanidade, certo do seu futuro, o Espiritismo se ergue em face das doutrinas sem bases e do cepticismo vacilante. Avança resolutamente pela estrada aberta, a despeito dos obstáculos e das oposições interesseiras, seguro da vitória final, porque tem por si a Ciência e a Verdade!
É um ato solene do drama da evolução humana que começa; é uma revelação que ilumina ao mesmo tempo as profundezas do passado e as do futuro; que faz surgirem da poeira dos séculos as crenças em letargo, anima-as com uma nova chama e as faz, completando-as, reviver.
É um sopro vigoroso que desce dos espaços e corre sobre o mundo; ao seu influxo todas as grandes verdades se restabelecem. Majestosas, emergem da obscuridade dos tempos, para desempenhar a tarefa que o pensamento divino lhes assina. As grandes coisas se fortalecem no recolhimento e no silêncio: no olvido aparente dos séculos haurem elas novas energias. Recolhem-se em si mesmas e se preparam para as tarefas do futuro.
Por sobre as ruínas dos templos, das civilizações extintas e dos impérios derrocados, por sobre o fluxo e refluxo das marés humanas, uma grande voz se eleva; e essa voz conclama: São vindos os tempos; os tempos são chegados!
Das profundezas estreladas baixam à Terra legiões de Espíritos para empenhar o combate da luz contra as trevas. Já não são os homens, já não são os sábios, os filósofos que lançam uma nova doutrina. São os gênios do espaço que vêm até nós e nos sopram ao pensamento os ensinos destinados a regenerar o mundo. São os Espíritos de Deus! Todos os que possuem o dom da clarividência os percebem pairando sobre nós, associando-se aos nossos trabalhos, lutando ao nosso lado pelo resgate e ascensão da alma humana.
Grandes coisas se preparam. Que os trabalhadores do pensamento estejam a postos, se querem tomar parte na missão que Deus oferece a todos os que amam e servem a Verdade.
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