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Formação e direção dos grupos

Primeiras experiências


A constituição dos grupos – dissemos – comporta regras e condições cuja observância influi consideravelmente no resultado a alcançar. Conforme o seu estado psíquico, os assistentes favorecem ou embaraçam a ação dos Espíritos. Enquanto uns, só com sua presença facilitam as manifestações, outros lhes opõem um quase insuperável obstáculo.


É, conseguintemente, necessário proceder a uma certa escolha, sobretudo no começo das experiências. Essa escolha não pode ser ditada, sancionada, senão pelos resultados obtidos, ou ainda pelas indicações de um Espíritoguia. Quando, ao fim de certo número de sessões, nenhum efeito satisfatório se produziu, pode-se adotar o processo de eliminação e substituição, até que a assistência pareça composta de modo a fornecer aos invisíveis os meios fluídicos necessários à sua ação.


Assim, também, a direção do grupo deve ser confiada a uma pessoa excelentemente dotada, do ponto de vista das atrações psíquicas, digna, além disso, de simpatia e confiança.


Há, nessa ordem de estudos, um conjunto de regras a observar e precauções a adotar que desanimam os investigadores. Cumpre, entretanto, advertir que essas exigências se apresentam em toda experiência delicada, em todo estudo psicológico e, mesmo, na aplicação cotidiana de nossas próprias faculdades. Não experimentamos, agradável ou desagradavelmente, a influência dos nossos semelhantes? Em presença de uns, sentimo-nos como animados, atraídos, inspirados. O nosso pensamento ganha surto; a palavra se torna mais fácil, mais vivas e coloridas se tornam as imagens. Outros nos tolhem e paralisam. Não é de admirar que os Espíritos, em suas tão complexas manifestações, encontrem, num grau mais elevado, as mesmas dificuldades, e que nas experiências seja preciso tomar em rigorosa consideração o estado de espírito e vontade dos assistentes.


Com o tempo, quando estiver o grupo solidamente constituído e forem os seus trabalhos coroados de êxito, será então possível abrir mão do rigor dos primeiros dias e admitir novos membros numa limitada proporção.


É das mais delicadas a tarefa de dirigir um grupo. Exige qualidades raras, extensos conhecimentos e sobretudo longa prática do mundo invisível.


Nenhum grupo, sem ser submetido a uma certa disciplina, pode funcionar. Esta se impõe não somente aos experimentadores, como também aos Espíritos. O diretor do grupo deve ser um homem de dupla enfibratura, assistido por um Espírito-guia que estabelecerá a ordem no meio oculto, como ele próprio a manterá no meio terrestre e humano. Essas duas direções devem mutuamente completar-se, inspirar-se num pensamento igualmente elevado, unir-se na prossecução de um objetivo comum.


Nos casos de ausência dessa proteção oculta, a missão do diretor do grupo ainda se torna mais difícil. Exige da sua parte a máxima experiência necessária para discernir a natureza dos Espíritos que intervêm, desmascarar os impostores, moralizar os atrasados, opor uma vontade firme aos Espíritos levianos e perturbadores e emitir esclarecida apreciação sobre as comunicações obtidas.


Os próprios membros do grupo não lhe devem merecer menos cuidado. Sofrear as exigências e as opiniões demasiado pessoais de uns, a possível rivalidade de outros, principalmente dos médiuns que atraem os maus elementos do Além e imprimem aos fenômenos estranhas e desordenadas modalidades – eis a tarefa do presidente, como se vê, das mais delicadas.


No grupo que por muito tempo dirigimos, a assistência eficaz dos invisíveis se fez sentir desde o começo e poucas dificuldades desse gênero encontramos. Por impulso dos nossos corações e pensamentos, esforçávamonos por nos colocar em uníssono com os nossos guias e, graças aos nossos esforços e com o seu auxílio, havíamos chegado a criar em torno de nós, pelas irradiações mentais, uma atmosfera de paz e de serenidade que imprimia às manifestações, em sua maioria, um caráter de elevação moral, de sinceridade e de franqueza que impressionava os assistentes e afugentava os Espíritos embusteiros.


Mais tarde, em conseqüência da introdução em nosso grupo de um experimentador entusiasta de fatos materiais, assistido por um cortejo de Espíritos inferiores, fenômenos vulgares vieram acrescentar-se às elevadas manifestações. Espíritos levianos, propensos às trivialidades, se imiscuíram entre nós e foi preciso toda a energia de nossas vontades reunidas para reagir contra as más influências invasoras.


Antes, porém, desse período de perturbação, graças à nossa persistência e união, as manifestações tinham gradualmente adquirido um cunho de limpidez e de grandeza que nos cativara; as provas se multiplicavam, fortalecendo as nossas convicções, tornando-as definitivas. Predições de natureza íntima se haviam realizado. Conselhos, instruções, dissertações científicas e filosóficas, constituindo matéria para alguns volumes, foram obtidos.


Conseguimos atrair e conservar em nossas sessões homens de valor pertencentes a todas as esferas, partilhando todas as opiniões: materialistas, indiferentes, crentes religiosos e até padres, a cujo espírito liberal e pesquisador não repugnavam as nossas investigações.


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Muitas tentativas se tornam infrutíferas, grande número de grupos não têm mais que uma existência efêmera, em conseqüência da falta de paciência, de dedicação e coesão.


Procura-se com avidez obter os fenômenos transcendentes; desde que, porém, para os obter fica-se sabendo que é preciso submeter-se a uma disciplina gradual de muitos meses, de muitos anos, reunir-se em dia fixo, todas as semanas pelo menos, e não desanimar com os repetidos insucessos, muitos hesitam e recuam. É preciso, pois, nos grupos em formação só admitir membros absolutamente resolvidos a perseverar, não obstante a lentidão e os obstáculos. Só com o tempo e mediante esforços reiterados é que o organismo dos médiuns e dos experimentadores pode sofrer as profundas modificações que permitem exteriorizar as forças indispensáveis à produção dos fenômenos.


Se é conveniente escolher com cuidado os colaboradores, é preciso, entretanto, não levar as coisas ao extremo, nem ser demasiado exclusivista. Com o auxilio do Alto e a assistência dos Espíritos-guia, as discordâncias que reinam ao começo em alguns círculos podem-se atenuar e ceder lugar à homogeneidade. É o que nos dizem as entidades do Espaço:


“Estais em contacto cotidiano com muitíssimas pessoas que agem fatalmente sobre vós, como sobre elas agis por vossa vez. Essas ações e reações são necessárias, porque sem elas não se poderia realizar o progresso. Crede em nossa constante assistência, em nossa afetuosa presença ao pé de vós. É em nosso amor que haurimos a força para nos conservar perto dos que nos amam, como seus guias, seus dedicados protetores. Imitai-nos. Bani todo pensamento malévolo ou invejoso. Aprendei a sacrificar-vos, a viver e trabalhar em comum. Não vos poupeis, isto é: não temais as perturbações que podem resultar de certas relações com vossos semelhantes. Elas vos acarretam, sem dúvida, uma diminuição de gozos; mas essas relações constituem a lei da Humanidade. Não deveis viver como egoístas, mas fazer participarem os outros dos vossos próprios bens.” (comunicação mediúnica).


Estas instruções indicam, no que se refere à freqüência às sessões, a nossa linha de conduta. A similitude de aspirações, as afinidades que entre os homens criam as condições sociais e a cultura de espírito, hão de necessariamente influir, numa certa medida, sobre a constituição dos grupos. Mas, por altamente colocado que esteja na escala social, não deve o adepto desdenhar as reuniões populares, nem incomodar-se com a falta de instrução ou de educação dos que as compõem. Os intelectuais provarão sua superioridade associando-se aos trabalhos dos grupos operários, esforçandose em pôr ao alcance de seus irmãos menos favorecidos seus conhecimentos e apreciações. É sobretudo nas associações espíritas que a fusão das classes se deve efetuar.


O Espiritismo no-lo demonstra: as nossas vantagens sociais são transitórias; o progresso e a educação do Espírito o induzem a nascer e renascer sucessivamente nas mais diversas condições de vida, a fim de adquirir os méritos inerentes a esses meios. Ele põe em relevo, com um poder de lógica não alcançado por nenhuma outra doutrina, a fraternidade e a solidariedade das almas, conseqüentes de sua origem e de seus destinos comuns. A verdadeira superioridade consiste nas qualidades adquiridas e se traduz principalmente por um sentimento profundo dos nossos deveres para com os humildes e os deserdados deste mundo.


Do princípio, entretanto, à aplicação vai sensível distância. Se os progressos da idéia espírita são menos acentuados na França que em certos países estrangeiros, é sobretudo à indiferença, à apatia dos espíritos descuidosos que esse estado de coisas se deve atribuir. Unicamente um reduzido número parece preocupar-se com as responsabilidades contraídas. Força é reconhecer: são os grupos operários que mais facilmente se organizam e mais subsistem. Seus membros sabem encarnar em si as próprias crenças; compreendem-se, auxiliam-se mutuamente por meio de caixas de socorros, com sacrifício alimentadas soldo a soldo lii e destinadas a socorrer os que entre eles são visitados pela provação.


Alguns desses grupos funcionam há dez ou vinte anos. Todos os domingos, à hora fixa, se reúnem os seus membros para ouvir as instruções dos Espíritos. Sua assiduidade é notável e neles a prática do Espiritismo produz sensíveis resultados. Aí encontram eles um derivativo à sua vida de miséria e de trabalho, doces consolações e ensinamentos. A descrição, feita pelos desencarnados, das sensações que experimentam, da situação em que se encontram depois da morte, as conseqüências dos maus hábitos contraídos durante a vida terrestre, tudo o que esses colóquios põem em evidência os impressiona, comove e influi poderosamente em seu caráter e em seus atos. Formam pouco a pouco opinião sobre as coisas do Além; uma exata noção do objetivo da vida se lhes oferece e lhes torna a resignação mais fácil, mais agradável o dever.


Já não são as eruditas exortações de um pregador, as especulações de um professor de Filosofia ou os ensinos rígidos de um livro: é o exemplo vivo, dramático, às vezes terrível, que lhes dão os que eles conheceram, com os quais conviveram e que colhem no Além os frutos de uma vida inteira; são as vozes de além-túmulo que se fazem ouvir, em sua rude e simples eloqüência, o apelo vibrante, espontâneo do sofrimento moral, a expressão de angústia do Espírito culpado que vê sempre se dissiparem as quimeras terrestres, se patentearem os seus erros e atos vergonhosos, e que sente o remorso, como chumbo derretido, penetrar-lhe os recessos da consciência, sutilizada pelo desprendimento de toda a matéria corporal.


No dia em que essas práticas se tiverem generalizado e em todas as regiões do Globo a comunicação dos vivos com os mortos der ao homem o antecipado conhecimento do destino e de suas leis, novo princípio de educação e regeneração terá surgido, e com ele um incomparável instrumento de reação contra os mórbidos efeitos produzidos sobre as massas pelo materialismo e a superstição.


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Constituído o grupo e composto de quatro a oito pessoas dos dois sexos, por quais experiências se deverá começar?


Se nenhuma mediunidade se tiver ainda revelado, será bom começar pela mesa. É o meio mais simples, mais rudimentar; por isso mesmo está ao alcance do maior número.


Colocados alternadamente homens e senhoras em torno de uma mesa leve, com as mãos espalmadas sobre a madeira pura, os assistentes dirigirão um apelo aos seus amigos do Espaço, depois ficarão à espera, em silêncio, com o desejo de obter alguma coisa, mas sem pressão dos dedos, sem tensão de espírito.


E inútil prolongar as tentativas por mais de meia hora. Quase sempre, desde a primeira sessão, sentem-se impressões fluídicas; das mãos dos experimentadores se desprendem correntes, que revelam, por sua intensidade, o grau de aptidão de cada um deles; fazem-se ouvir crepitações no móvel, que acaba por oscilar, agitar-se, e em seguida se destaca do solo e fica suspenso, apoiado sobre um dos pés.


Convém desde logo combinar um certo número de sinais. Pede-se à força-inteligência que se manifeste batendo, ou com os pés ou no interior da mesa, um número de pancadas correspondente ao das letras do alfabeto. Por esse modo podem ser compostas palavras; um diálogo se estabelecerá entre o chefe do grupo e a Inteligência invisível. Pode-se abreviar e simplificar o processo por meio de sinais convencionais; por exemplo: uma pancada para a afirmativa, duas para a negativa. Esse modo de comunicação, lento e fastidioso a princípio, virá com a prática a tornar-se bastante rápido.


Quando se conhecer quais são os médiuns, bastará colocá-los no centro do grupo, em torno de um velador, a fim de acelerar os movimentos e facilitar as comunicações, fazendo círculo os outros membros ao redor deles. Tendo-se o prévio cuidado de colocar à mão algumas folhas de papel e lápis, as perguntas e respostas serão fielmente transcritas. Desde que se tiver a Inteligência revelado mediante respostas precisas, sensatas, características, poder-se-á consultá-la sobre a constituição do grupo, as aptidões mediúnicas dos assistentes, o rumo a imprimir aos trabalhos. Deve-se, todavia, estar de prevenção contra os Espíritos levianos e fúteis que afluem em torno de nós e não trepidam em tomar nomes célebres para nos mistificar.


Pode-se experimentar simultaneamente por meio da mesa e da escrita. Os fenômenos desta ordem conduzem geralmente a outras manifestações mais elevadas, ao transe ou sono magnético, por exemplo, e à incorporação. Será conveniente, ao começo, consagrar sucessivamente a esse exercício metade de cada sessão.


Quase sempre cada um dos assistentes tem ao pé de si Espíritos desejosos de se comunicarem e transmitirem afetuoso ditado aos que deixaram na Terra. Em todas as sessões do nosso grupo os médiuns videntes descreviam esses Espíritos, e à vista de certas particularidades de costumes, de certos sinais característicos, a pessoa assistida reconhecia um parente, um amigo falecido, personalidades que, muitas vezes, os médiuns não haviam conhecido.


O modo de proceder, quanto à escrita automática, é muito simples. O experimentador, munido de um lápis cuja ponta se apóia ligeiramente no papel, evoca mentalmente algum dos seus e espera. Ao fim de certo lapso de tempo, extremamente variável, conforme os casos e as pessoas, sente na mão, ou no braço, uma agitação febril, que se vai acentuando; depois, um impulso estranho o faz rabiscar sinais informes, linhas, garatujas. É preciso obedecer a esse impulso e submeter-se com paciência a exercícios de estranho feitio, necessários, porém, para tornar flexível o organismo e regularizar a emissão fluídica.


Pouco a pouco, ao cabo de algumas sessões, aparecerão letras no meio dos sinais incoerentes, depois virão palavras e frases. O médium obterá ditados, ao começo breves, resumidos em algumas linhas, mas que se tornarão cada vez mais longos, à medida que a sua faculdade se desenvolver. Virão por último instruções mais positivas e extensas.


Durante o período dos exercícios o médium poderá trabalhar fora das reuniões, a hora fixa em cada dia, a fim de ativar o desenvolvimento de sua faculdade; logo que, porém, for terminado esse período, desde que as manifestações revestirem caráter intelectual, deverá evitar o insulamento, não trabalhar mais senão em sessão e submeter as produções recebidas ao exame do presidente e dos guias do grupo.


Há vários processos para facilitar a comunicação alfabética. Traçam-se as letras em um quadrante, sobre cuja superfície gira um triângulo móvel. Basta o contacto dos dedos de um médium para transmitir a esse leve aparelho a força fluídica necessária. Sob essa influência o triângulo se desloca rapidamente e vai designar as letras escolhidas pelo Espírito. Em certos grupos, as letras são indicadas por meio de pancadas no interior da mesa. Outros se servem, com resultado, da cestinha de escrever ou prancha americana. Os sistemas são numerosos e variados. Pode-se ensaiá-los até que se tenha encontrado aquele que melhor se adapta aos elementos fluídicos e ao gosto dos experimentadores.


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Nunca seria demasiado insistirmos sobre os perigos que resultam da intrusão dos maus Espíritos nas sessões de um grupo em formação ou nos ensaios de um médium insulado. Muitas vezes são os nossos pensamentos que os atraem.


Abstende-vos, pois, em vossas reuniões – diremos aos investigadores sinceros – de toda preocupação de negócios ou prazeres. Não deixeis flutuar o pensamento em torno de vários assuntos, mas fixai-o num elevado objetivo; ponde-vos em harmonia de vistas e de sentimentos com as almas superiores. Conservando-vos nesse estado de espírito, sentireis pouco a pouco baixarem sobre vós correntes de energia, das quais ficareis impregnados e que aumentarão a sensibilidade de vosso organismo fluídico. Efêmera e intermitente ao começo, essa sensibilidade se acentuará e tornará permanente. Vosso perispírito, dilatando-se, purificando-se, ganhará mais afinidade com os Espíritos-guia e faculdades ignoradas se vos revelarão: mediunidade vidente, falante, auditiva, curadora, etc. Mediante o aperfeiçoamento e a elevação moral é que adquirireis essa profunda sensibilidade, essa sensitividade psíquica que permite obter as mais altas manifestações, as provas mais convincentes, de mais positiva identidade.


Orai ao começo e ao fim de cada sessão; ao começo, para elevardes vossas almas e atrairdes os Espíritos esclarecidos e benevolentes; ao terminar, para agradecer os benefícios e ensinos que houverdes recebido. Seja a vossa prece curta e fervorosa, e muito menos uma fórmula que um transporte do coração.


A prece desprende a alma humana da matéria, que a escraviza, e a aproxima do Divino Foco. Estabelece uma sorte de telegrafia espiritual, por cujo intermédio o pensamento do Alto, respondendo à solicitação de baixo, desce às nossas obscuras regiões. As nossas explorações nos abismos do invisível seriam inçadas de perigos, se não tivéssemos acima de nós seres mais poderosos e perfeitos para nos dirigir e esclarecer-nos o caminho.


Não é indispensável fazer evocações determinadas. Em nosso grupo raramente as praticávamos. Preferíamos dirigir um apelo aos nossos guias e protetores habituais, deixando a qualquer Espírito a liberdade de se manifestar, sob sua vigilância. O mesmo acontece em muitos grupos de nosso conhecimento. Assim cai, de si mesmo, por terra o grande argumento de certos adversários do Espiritismo, no sentido de ser reprovável entregar-se a evocações e constranger os Espíritos a voltarem à Terra. O Espírito, como o homem, é livre e não responde, senão quando lhe apraz, aos chamados que lhe são dirigidos. Toda injunção é vã; toda encantação é supérflua. São processos arranjados para iludir as gentes simples.


É excelente começar as sessões por uma leitura séria e atraente, feita de uma das obras ou revistas espíritas escolhidas. Essa leitura deve ser objeto de comentários e permuta de apreciações entre os assistentes, sob a direção do presidente. Acontece com freqüência que as comunicações dadas pelos Espíritos, em seguida a tais leituras, se referem aos assuntos discutidos e os desenvolvem, completando-os. É esse um modo de ensino mútuo, que nunca seria demais recomendar.


Podem-se também formular perguntas aos Espíritos sobre todos os inúmeros problemas pertencentes ao domínio da Filosofia e da vida social, sobre as condições de existência no mundo espiritual, as impressões depois da morte, a evolução da alma, etc. Todas essas perguntas devem ser apresentadas pelo presidente, simples e claras, sempre de ordem moral e desinteressadas. Interrogando os invisíveis sobre interesses pessoais, tesouros ocultos, etc., pedindo-lhes a revelação dos sucessos futuros, formando pactos cabalísticos, fazendo uso de emblemas, talismãs, fórmulas extravagantes, não somente se oferecerá margem à crítica e à zombaria, mas serão atraídos os Espíritos trocistas e ficar-se-á exposto às ciladas em que são vezeiros.


Cogitando, ao contrário, dos assuntos elevados do Espiritismo, nos asseguramos a colaboração de Espíritos sérios, que consideram um dever de sua parte cooperar em nosso adiantamento e educação. Empreendendo essa ordem de estudos, não tardaremos a reconhecer a rica extensão e variedade dos ensinos espíritas e quão fácil se torna resolver, com o seu auxílio, mil problemas até hoje inextricáveis e obscuros.


Se o concurso dos Espíritos superiores é desejável e deve ser procurado com empenho, o dos Espíritos vulgares e atrasados tem algumas vezes sua utilidade. Convém reservar-lhes um lugar nos trabalhos dos grupos solidamente constituídos e que contam com suficiente proteção. Em virtude de sua própria inferioridade, eles proporcionam um motivo de estudo bem característico; sua identidade se patenteia às vezes com indícios pessoais que impõem a convicção. A situação que ocupam no Espaço e as conseqüências que resultam de seu passado são elementos preciosos para o conhecimento das leis universais.


Certos grupos adotam como tarefa especial evocar os Espíritos inferiores e, mediante conselhos e exortações, instruí-los, moralizá-los, ajudá-los a desembaraçar-se dos laços que ainda os prendem à matéria. É das mais meritórias essa missão: exige a perfeita união das vontades, uma profunda experiência das coisas do invisível, que só se encontra nos meios de longa data dedicados ao Espiritismo.


Nos casos em que faltem os médiuns, ou sejam improdutivos, não deve ficar por isso o grupo reduzido à inação. A exemplo das sociedades ou agremiações científicas, deve ele procurar um alimento em todas as questões relacionadas com o objeto de suas predileções, as quais serão postas na ordem do dia e, do mesmo modo que as leituras de que falávamos acima, comentadas e discutidas, com grande aproveitamento para os ouvintes. De tempos a tempos podem algumas sessões ser consagradas a conferências ou palestras, terminadas as quais cada um apresentará seus argumentos e objeções. Por essa forma os trabalhos de um grupo se tornarão não só um excelente meio de instrução, mas também um exercício oratório que virá preparar os seus membros para a propaganda pública. Aparelhando-se para as discussões e as justas da palavra, poderão estes tornar-se úteis defensores e propagandistas da idéia espírita.


É sempre em debates dessa natureza que se formam os oradores; por esse meio é que eles adquirem a eloqüência, esse dom de emocionar as almas, empolgá-las para um elevado objetivo. Os adeptos do Espiritualismo não devem desprezar nenhum meio de se preparar para as vindouras lutas, de se apropriar desse duplo poder da palavra e da sabedoria, que permite a uma doutrina afirmar-se vitoriosamente em nosso mundo.


 


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