Capítulo IV - Os Espíritos
- Que é o Espírito?
- O princípio inteligente do Universo.
- Que definição se pode dar dos Espíritos?
- Pode dizer-se que são os seres inteligentes da Criação, e que povoam o Universo, fora do mundo material.
- Os Espíritos ocupam uma região determinada e circunscrita no Espaço?
- Eles estão em toda a parte. Entretanto, nem todos podem ir aonde querem, pois há regiões que estão vedadas aos menos adiantados.
- Empregam os Espíritos algum tempo em percorrer o Espaço?
- Sim, porém isso é rápido como o pensamento, pois à vontade dum Espírito exerce mais poder sobre seu corpo fluídico ou perispírito que, enquanto encarnado, podia exercer sobre um corpo grosseiro e denso.
- A matéria serve de obstáculo aos Espíritos?
- Não, pois tudo é penetrado por eles: o ar, a terra, a água e até mesmo o fogo, assim como o cristal é penetrável aos raios solares.
- Os Espíritos superiores vêm aos mundos inferiores?
- Descem a eles a todo o momento, a fim de os ajudar a progredir intelectual e moralmente. Há um exemplo disso em Jesus.
- Os Espíritos experimentam as mesmas necessidades e sofrimentos físicos que nós?
- Conhecem-nos porque passaram por eles, mas não os sentem do mesmo modo que nós visto carecerem de corpo material.
- Os Espíritos sentem cansaço?
- Não, pois carecem de órgãos cujas forças precisem ser reparadas.
- Há algum número determinado de graus perfeição entre os Espíritos?
- É ilimitado, pois o progresso é infinito.
- Qual o caráter dos Espíritos imperfeitos?
- Predomínio da matéria sobre o Espírito, propensão ao mal, ignorância, orgulho, egoísmo e todas as más paixões que dai se derivam. Têm intuição de Deus, mas não compreendem quais possam ser os seus atributos, ou então o orgulho faz que o neguem.
- Qual o caráter dos Espíritos elevados?
- Nenhuma influência da matéria; superioridade intelectual e moral. Já não têm provas e privações a sofrer, mas devem ainda progredir intelectual e moralmente.
- Há Espíritos que foram criados bons e outros maus?
- Todos os Espíritos foram criados simples e ignorantes.
- Não existe, pois o demônio, no sentido que se liga a esta palavra?
- Não; porque, se existisse, seria obra de Deus e, assim, Deus não teria procedido com justiça e bondade criando seres consagrados eternamente ao mal. Todos os Espíritos têm forçosamente de atingir a perfeição; eis a lei do Criador.
- Os Espíritos podem degenerar?
- Não; eles podem permanecer estacionários, mas nunca retrocedem.
- Não poderia Deus evitar aos Espíritos as provas e os sofrimentos?
- Sem luta, onde estaria o mérito? A verdadeira felicidade é originada das lutas e dos sofrimentos, e sem isso ela não poderia ser obtida.
- Todos os Espíritos passam pelo mal antes de atingirem a perfeição?
- Pelo mal, não, mas sim pela imperfeição e pela ignorância.
-Porque uns seguem o caminho do bem, outros seguem o do mal?
-Por causa do livre arbítrio. Sem liberdade não há responsabilidade das faltas, ou mérito nas boas ações.
- De que modo se instruem os Espíritos?
- Estudando o seu passado e inquirindo os meios de se elevarem no progresso infinito.
- Os Espíritos conservam algumas das paixões que tinham na Terra?
- Os Espíritos adiantados, ao deixarem o invólucro material, conservam as boas paixões e esquecem as más. Os Espíritos inferiores conservam às vezes as más paixões que tinham na Terra.
- Os Espíritos necessitam de luz para ver?
- Os que não estão envoltos em trevas, por causa de mau procedimento, não precisam de luz exterior para ver, pois têm em si a sua própria luz.
- As faculdades de ouvir em todo o ser espiritual?
- Todas as percepções são atributos do Espírito e fazem parte do seu ser.
- O poder e a consideração de que o homem goza, na Terra, lhe dão superioridade no mundo dos Espíritos?
- No mundo dos Espíritos só se reconhece à superioridade moral e intelectual.
- Qual a natureza das relações entre os Espíritos bons e os maus?
- Os bons procuram combater as más inclinações dos maus, a fim de os ajudar a progredir. Os maus, pelo contrário, procuram induzir ao mal os que ainda são inocentes.
- Os Espíritos que não são simpático podem chegar a sê-lo?
- Todos o serão à medida que aperfeiçoarem.
- O Espírito recorda-se das sua passadas existências?
- Sim, se ele o deseja; do mesmo modo que um viajante procura recordar-se das peripécias de viagens já efetuadas.
- O invólucro material é um obstáculo à livre manifestação das faculdades do Espírito?
- Sim, do mesmo modo que um vidro opaco se opõe à livre passagem da luz.
- Depois da morte, os Espíritos conservam o amor da pátria?
- Para os Espíritos elevados à pátria é o Universo.
- Os Espíritos são sensíveis à recordação daqueles a quem amaram na Terra?
- Muito, e essa recordação aumenta sua felicidade, se já são felizes; ou lhes serve de alivio, se são desgraçados.
- Serão eles sensíveis às honras que se fazem aos seus despojos mortais?
- Em geral não, porque compreendem a futilidade de todas essas coisas, mas há alguns que conservam em parte as preocupações materiais.
- O Espírito que se considera bastante feliz pode prolongar indefinidamente esse estado?
- Indefinidamente não, pois o progresso é uma necessidade que cedo ou tarde é sentida pelo Espírito. Todos devem progredir, eis o destino
- Os Espíritos participam de nossas desgraças e se afligem com os males que nos atingem?
- Os Espíritos bons participam de nossas alegrias e se afligem quando não suportamos com resignação o a que chamamos males, pois vêem que assim não tiraremos resultado, qual acontece ao enfermo que recusa o remédio que o deve curar.
- Quais dos nossos males afligem mais os Espíritos bons; serão os físicos ou os morais?
- Os morais. Eles se afligem pelo nosso egoísmo e dureza de coração, e é dai que se origina todo o mal.
- Que se deve entender por anjo de guarda?
- Um Espírito de ordem elevada que nos assiste, durante nossa permanência na Terra, e que nos aconselha por intermédio da nossa consciência.
- Os Espíritos podem aliviar alguém e atrair a prosperidade?
- As leis divinas são imutáveis e todos têm de se submeter a elas; mas, não obstante, os Espíritos podem ajudar-nos a ter paciência e resignação para suportarmos os males que nos devem conduzir ao bem.
- Os Espíritos têm alguma outra ocupação a não ser a de se melhorarem individualmente?
- Sim, pois a vida espírita é uma ocupação constante e nada tem de penosa para os bons Espíritos.
- Em que consiste a felicidade dos Espíritos bons?
- Em não ter ódios, inveja, ambição ou qualquer das paixões que fazem desgraçados os homens. O amor que os une é para eles origem de suprema felicidade, e são felizes pelo bem que praticam.
- Em que consistem os sofrimentos dos Espíritos inferiores?
- Em invejarem tudo o que lhes falta para serem felizes, e não quererem trabalhar para consegui-lo. Consiste também no ódio, no desespero e na ansiedade a que o seu estado dá origem.
- Quais os maiores sofrimentos que os Espíritos podem experimentar?
- Não se podem descrever todos os sofrimentos morais correlativos a certos crimes; entretanto, o maior castiga que eles podem sofrer é A CRENÇA DE ESTAREM ETERNAMENTE CONDENADOS.
- Donde procede, a eterno doutrina do fogo?
- Imagem, como muitas outras, tomada pela realidade, e que já não atemoriza ninguém.
- Os Espíritos inferiores compreendem a felicidade do justo?
- Sim, e isso é que faz o seu suplicio.
- Pode ser eterna a duração dos sofrimentos?
- Não, porque Deus não criou seres consagrados eternamente ao mal. Tarde ou cedo se desperta neles a irresistível necessidade de saírem do seu estado de inferioridade e serem felizes.
- O Espírito separado do corpo pode comunicar-se conosco?
- Sim, pode e fá-lo muita vezes.
- Por que meio o faz?
- Servindo-se dos médiuns.
- Que vem a ser um médium?
- É uma pessoa apta a receber as comunicações dos Espíritos, seja pela escrita, pela audição, pela vidência ou por qualquer outro meio.
- Todos podem ser médiuns?
- Sim; em geral, todos podem sê-lo, exercitando-se pacientemente durante um tempo mais ou menos longo.
- A mediunidade é útil àquele que a Possui?
- Sim; não somente a ele, mas a todos em quem os ensinamentos dos Espíritos podem inspirar pensamentos salutares, sentimentos louváveis.
- Todos os Espíritos se podem comunicar?
- Sim, quando Deus o permite.
- Por que dá Deus essa permissão aos Espíritos maus?
- Para servirem de ensino aos homens, mostrando-lhes a que triste estado os maus se acham reduzidos no outro mundo; e para que, por nossas instruções e nossas preces, eles adquiram bons sentimentos e se regenerem.
- Como reconhecemos que um Espírito é bom?
- Por suas comunicações, que não podem deixar de ser morais; por sua linguagem, que nunca será frívola e lisonjeira, seja para si próprio, seja para aqueles a quem se dirige.
- Como devemos tratar os Espíritos maus, atrasados e imperfeitos?
- Devemos moralizá-los, instruí-los e orar por eles.
-Quais são as principais mediunidades?
- São: a tiptológica, a sematológica, a psicográfica, a auditiva, a vidente, a sonambúlica, a intuitiva e a de materializações.
- Explicai esses termos?
- O médium tiptólogo recebe as comunicações dos Espíritos por pancadas, mais ou menos fortes, nos objetos materiais que o cercam; o sematólogo, por sinais com antecedência combinados, como o movimento de móveis em sentido determinado; o psicógrafo, por escrito; o auditivo, ouvindo-lhes a voz; o vidente, vendo seus perispírito, que então tomam a forma que tiveram na vida terrena; o sonâmbulo, emprestando-lhes o seu corpo, do qual o Espírito de apossa momentaneamente, servindo dele como se fosse o seu próprio; e o de materializações fornecendo seus fluidos animalizados para que, combinando-os com os que se encontram no espaço, o Espírito apresente uma forma visível e tangível para todos.
- Quais são os melhores médiuns?
- Os que recebem as melhores comunicações.
- Qual deve ser a conduta dos médiuns?
- Nunca devem esquecer que a sua faculdade lhes pode ser retirada, e nunca abusar dela, seja para a satisfação de uma curiosidade vã ou para outro qualquer fim sem utilidade para a instrução e o progresso de todos.
- A mediunidade será uma novidade?
- Não; ela foi praticada em todos os tempos; porém, em conseqüência do abuso que disso faziam, Moisés proibiu a sua prática aos Israelitas.
- Citai algumas provas da antiguidade dos médiuns.
- Sócrates era inspirado por um Espírito familiar, Saul evocou o Espírito de Samuel.
- Há vantagem em praticar o Espiritismo?
- Sim; contanto que se não abuse.
- Como se deve praticá-lo?
- Desenvolvendo suas mediunidades, assistindo regularmente às sessões de evocações, moralizando os Espíritos inferiores ou ajudando aos sofredores, e, finalmente, seguindo os conselhos dos Espíritos guias.
- Como se pode abusar do Espiritismo?
- 1. °, fazendo evocações para divertir-se;
- 2. °, recebendo comunicações pueris;
- 3. °, evocando Espíritos para receber pagamentos dos que desejam ouvi-los.
- Há perigo para alguém em receber comunicações estando só?
- Sim; perigo real. Os médiuns que as recebem, nessas condições, ficam quase sempre obsidiados no fim de pouco tempo.
- Pode-se assistir a reuniões espíritas com toda classe de gente?
- Não; somente com pessoas se reúnam para o bem.
- Deve-se procurar ser médium?
- Sim; para ser-se útil aos homens, aos Espíritos e a si próprio.
- É permitido ao médium recusar seus serviços?
- A mediunidade é um dom de Deus e o médium não deve recusar seu concurso a uma obra útil.
- Que condições devem uma boa sessão de evocação?
- O recolhimento, a prece, a paz de consciência e o desejo de fazer o bem.
- Os Espíritos podem ter influência sobre nós, quando nos achamos fora das reuniões espíritas?
- Sim; e essa influência, por nem sempre desconfiarmos dela, não deixa de ser real e muito importante.
- Todos estão sujeitos a essa influência?
- Sim; mesmo os que não conhecem o Espiritismo.
- Como se exerce ela?
- Os Espíritos obram sobre o nosso pensamento, sem que nós nos apercebamos disso; eles atuam, muitas vezes, materialmente sobre nós, pelo emprego do fluido, como faz o magnetizador.
- Essa influência é sempre boa?
- Depende do sentimento do Espírito: se ele é bom, sua influência é salutar; se é mau, a influência é perniciosa. Convém, pois chamar a si os bons Espíritos e afastar os maus.
- Como Deus, que é bom, permite que os maus Espíritos nos venham induzir ao mal ou fazer-nos sofrer?
- Para nos experimentar. Porque permite que o homem mau aconselhe os outros a praticarem um crime? O caso é idêntico. Além disso, os Espíritos maus não podem fazer o mal que desejam, sobretudo se a nós chamamos os bons.
- Estarão os bons Espíritos sempre dispostos a proteger-nos?
- Sim; se os chamarmos. Deus deu a cada um de nós um protetor, guia, ou anjo de guarda.
- Basta a oração para afastar os Espíritos perversos?
- Certamente não; é preciso fazer-se sempre o bem.
- Que é uma obsessão?
- A união de um Espírito mau a uma pessoa, com o fim de atormentá-la e fazê-la praticar atos ridículos ou maus. Nessas condições, tal pessoa fica como se fosse atacada de demência.
- Os médiuns estão muito expostos à obsessão?
- Sim, quando trabalham isoladamente e quando, sem exame sério, aceitam tudo o que os Espíritos dizem.
- Como podemos fazer cessar a obsessão?
- 1.°, pela prece;
- 2.°, pela moralização dos Espíritos maus;
- 3.°, pelo abandono de todas: as mediunidades que se possua.